CORRUPÇÃO – Como enfrentá-la?
Chagas Fortaleza
Tentando comover o corrupto com imagens de crianças passando fome, do sofrido nas filas da saúde pública e de outras moléstias afins?
> Não. O maior inimigo da sociedade não se deixará impressionar com o mal que faz. Essas cenas só aumentam a indignação dos já indignados, sem reduzirem a acomodação da grande massa.
Fazendo das polícias uma grande inteligência no combate ao roubo do dinheiro público, dando-lhes autoridade para exigir quebras de sigilos bancário e telefônico de qualquer suspeito e dotando-as de equipamentos de escuta sofisticados, com autonomia para aplicá-los sem consulta prévia a ninguém e para prisão imediata após o flagrante?
> Não. Ver um corrupto ser solto pouco depois de preso é frustrante até para os policiais. O investimento, embora fosse bem vindo, não seria um fator decisivo no combate à corrupção. Nesse contexto, a polícia seria uma das últimas preocupações.
Pedindo aos advogados mais ética no uso das brechas da Lei?
> Não, pois atenderem a esse pedido seria o mesmo que deixarem de ser advogados. Esses profissionais usam de parâmetros legais para defender seus clientes, promovendo-se quando bem sucedidos, independentemente do lado em que estejam. Queiramos ou não, trata-se de um trabalho lícito.
Pedindo aos juízes que não sejam tão rigorosos com a Lei, quando esta falar em favor de um corrupto?
> Não. A lei existe para ser cumprida e é contraditório um juiz não acatá-la. Ainda que usem de favorecimento, suas decisões têm, por via de regra, alguma base legal. Portanto, no máximo eles são donos de metade da culpa por impunidades cometidas.
Gritando nas ruas aos parlamentares, exigindo as mudanças necessárias para que a Justiça não seja tão complacente?
> É possível. No entanto, eles, que sabem da corrupção o que a gente sabe e algo mais, se quisessem já teriam feito. A nossa lei “moderninha” é sob medida para quem a criou e qualquer proposta de mudança decente (de político decente) tende a ser vetada. A Lei é complacente com quem tenha para gastar com advogados, beneficiando inclusive aqueles que, embora não fazendo parte do meio político, estejam envolvidos nesses esquemas milionários (ou bilionários). Os maiores furtos na história deste país estão nos desvios de verbas públicas e a nossa Justiça se vende por parte desse dinheiro. A Justiça é subornável na medida em que faz por um ladrão rico o que não faz por um pobre. As manifestações populares, que, em geral, pela quantidade de pessoas, mais parecem motins, não seriam sozinhas o caminho, mesmo porque estariam tentando chamar a atenção dos menos interessados. Os nossos governantes estão habituados com a nossa falta de memória e passividade, razão pela qual um clamor dificilmente é ouvido.
A questão é: por que esquecemos que O POVO É O PODER?
> Decididamente o voto é a nossa grande arma, mas é também um medidor do interesse público pela política. A falta de interesse do povo é sentida pelos políticos, quando vilões, conhecidos por uma minoria esclarecida, são reeleitos. A alienação parece uma doença, mas, se for, tem cura e os doutores tem que ser essa minoria esclarecida e indignada. O povo leigo é um vulcão adormecido, aqui capaz de conseqüências tão úteis quanto avassaladoras. Acordá-lo é mais que uma obrigação de cidadão, pois o povo esclarecido precisa dessa força para não estar só.
> A corrupção, que é mãe de todas as nossa mazelas, somente o povo precisa, quer e pode coibir. Essa é a proposta.
Como chegar ao povo?
> Qualquer associação de pessoas empenhadas nesse ato de solidariedade poderá ser pivô de uma grande mudança. Uma ONG, por exemplo, teria uma missão tão nobre quanto a do Greenpeace: a conscientização política em prol do bem comum.
De qualquer forma, o trabalho de esclarecer e motivar o povo a agir terá quer ser feito pelo próprio povo, através de voluntários imparciais, atuando com recursos seus e de outros abraçadores da causa, com ou sem ajuda governamental.
Princípio fundamental: TOLERÂNCIA ZERO
> Nunca, jamais, reeleger um político que tenha se envolvido ou acobertado falcatrua contra o povo, sempre haverá candidatos melhores aguardando uma oportunidade. Se não pudermos saber quais dos novatos tem boa índole, pelo menos vamos eliminar os veteranos cuja fraqueza de caráter seja do nosso conhecimento. É importante que eles saibam que estão sendo observados.
Comunicar através de:
- Site
- Sede
- Mídia
- Música
- Palestras
- Disque corrupção
- Pesquisas de opinião
- Banco de dados (uma extensão da memória popular)
- Esclarecimentos prévios e não tendenciosos sobre temas em evidência
- Outros
Propostas de reflexão:
> Cargo político não é profissão, por isso devemos rejeitar aqueles que só fazem da política o seu meio de vida, sem atuarem prioritariamente como representantes do povo;
> A máfia do poder pode transformar em réu qualquer um que lhe seja inconveniente, de modo que devemos estar atentos para não descartarmos bons representantes. Uma verdade maior do que essa, porém, é não termos necessidade de arriscar com segundas chances, por isso qualquer dúvida é razão para que não votemos num determinado candidato;
> Se este país fosse todo governado por pessoas tementes a Deus, teríamos, com certeza, uma outra realidade. Infelizmente, igrejas, a despeito do papel indispensável que poderiam ter num processo de conscientização, mantêm seus fieis despreocupados das coisas terrenas, até apresentarem seus candidatos em épocas de eleição. Vigiemos: ser padre ou pastor não é garantia de temor a Deus;
> Se pudéssemos escolher candidatos usando como critério apenas a competência, as novas oportunidades seriam dadas conforme o desempenho dos que já estivessem no poder. Então a nossa preocupação com política poderia, como já deveria, ser mínima, afinal escolhemos e remuneramos pessoas para isso. Mas a corrupção existe e isso muda as coisas. Precisamos, infelizmente, incluir às nossas obrigações uma parcela maior da responsabilidade com a administração do nosso país;
> É comum e até natural que o candidato à frente nas pesquisas seja perseguido, o que poderia ser evitado com uma lei eleitoral severa, que proibisse as denúncias e só permitisse a propaganda de propostas. Mas será que assim seria melhor? O bom é pensar que os ataques inibem candidaturas de certos políticos a cargos do executivo, por temerem que seus "podres" sejam revelados;
> Apesar de ser dito que a voz do povo é a voz de Deus, somente devemos votar com a nossa consciência, não com a dos outros. Também não tenhamos como perdido o voto dado a um candidato supostamente sem chances de ser eleito. Votos mais antes são perdidos quando deixamos de votar ou quando somos traídos;
> Democracia é o regime de poder em que, se o povo não manda, o DEMO toma de conta;
> As pessoas odeiam mais a política na medida em que a corrupção aumenta; a corrupção aumenta na medida em que as pessoas odeiam mais a política;
> A mídia estuda o nosso comportamento, nossos anseios e reações, para que possa vender e influenciar. Trata-se de uma ciência que envolve psicologia e uma série de outros conhecimentos a nosso respeito. Isso serve inclusive para eleger políticos;
> Nem tudo o que dizem responde às perguntas, mas com um bom jogo de palavras e tom adequado convencem muita gente;
> Ao escolhermos um candidato do executivo, se faz conveniente a escolha de parlamentares do mesmo partido ou coligação. Embora lamentemos que a maioria num parlamento possa ser usada para aprovação de propostas prejudiciais ao povo, devemos reconhecer que tudo é mais difícil para um bom governo que não tenha esse apoio. Isso, no entanto, não precisa ser regra, tampouco é favorável a qualquer tentativa para acabarem com o voto nominal, pois eleger quem não queremos é antidemocrático;
> Pejorativamente, o acomodado é alguém que se adapta a uma situação que lhe é desfavorável, não por falta de opção, mas por puro conformismo. A expressão “Rouba, mas faz” é, certamente, o slogan de quem se acomoda à corrupção, devendo, por isso, ser abolida. A contraproposta “Faz, mas rouba” representa a intolerância (como virtude), perfeita para substituir a primeira;
> Não é por altruísmo que muitos empresários engajam-se na política, provavelmente buscam mais uma forma de lucro, mais um negócio. Aliás, melhor que ser amigo de quem está no poder é estar no poder;
> Num país de necessitados o que dizer para alguém que está prestes a receber comida em troca de seu voto, um discurso para convencê-lo da feiúra de seu ato ou apenas um pedido para que não cumpra a sua parte no trato?
> O salário recebido por um eleito do executivo durante o seu mandato não cobre o que foi gasto em sua campanha. Considerando que tudo não passa de investimento, com que honestidade podemos imaginar que esse capital (caixa dois, recurso próprio,etc.) seja remunerado?
> O que pensam que somos quando abraçam-se perante nós, nos recomendando uns os outros, se em campanhas anteriores atacaram-se com graves denúncias?
> O que nos reservaria o futuro se a conscientização política começasse a ser efetivamente trabalhada nas escolas?
O ANALFABETO POLÍTICO
(por Bertold Brecht)
O pior analfabeto
É o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos.
Ele não sabe que o custo de vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Depende das decisões políticas.
O analfabeto político
É tão burro
Que se orgulha
E estufa o peito
Dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil que
Da sua ignorância política
Nasce a prostituta,
O menor abandonado,
O assaltante
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Portanto,
O corrupto e o lacaio
Das empresas nacionais
E multinacionais.
Somos felizes porque somos burros!
Do filme A Era do Gelo 4
Curiosidade: A palavra idiota surgiu na Grécia (idhiótis) e referia-se àquele que não votava.
Considerações finais:
Este país assemelha-se a uma empresa que, por falta de tempo dos proprietários, é entregue nas mãos de administradores. Ocupados com os problemas pessoais, os donos esquecem-se de acompanhar os trabalhos de gerenciamento. Sempre que desconfiam de traição e procuram explicações, são envolvidos num discurso ensaiado e cheio de termos técnicos. Então, preocupados com suas questões individuais, preferem não fazer mais cobranças e adiam uma tomada de decisão.
O povo brasileiro não é ingênuo, é distraído. Enquanto nossas atenções se voltam para os espetáculos do futebol e da novela, os descuidistas batem as nossas carteiras. Alheios a tudo, somos facilmente engabelados por profissionais da oratória e da propaganda, ouvindo não a verdade, mas o que queremos ouvir.
Não há como negar a esperança que temos por dias melhores, o que se acentua cada vez que vamos às urnas. Pacientes, porém, parecemos pensar que tudo se dará naturalmente, quem sabe com a vinda de um Messias. Conclusão: podemos morrer na ansiedade e deixar para os nossos filhos a tarefa de continuar esperando.