A EMANCIPAÇÃO DO OESTE BAIANO.

Não é a quantidade dos estados federados que faz nossos políticos serem mais ou menos honestos, como não seria a criação de novos estados que faria nosso país retroceder. As duas afirmativas são, pacificamente, falsas.

Os políticos são desonestos porque encontram apoio na submissão do nosso povo. São corruptos porque têm certeza de estarem protegidos pela impunidade do Estado e pela amnésia do eleitor.

Tivemos, só no primeiro ano do governo da nova presidenta, o afastamento de sete ministros, sendo que seis deles por acusação de corrupção e de ilicitudes. Quase ninguém se lembra mais disso e, com essa certeza, qualquer um deles que desejar concorrer a um cargo público no próximo pleito terá sua eleição garantida.

Somos nós que votamos errado e admiramos os políticos que temos. Em um país sério ninguém se arriscaria tanto.

Agora, no que tange à divisão dos estados poder ser um retrocesso é a afirmativa mais maluca que já ouvi. Os exemplos são todos na direção contrária, e é nisso que está a nossa certeza de que a criação do Estado do São Francisco não seria boa apenas para a população local, mas para toda a Bahia e, principalmente para o Brasil.

A região oeste do Brasil era a mais atrasada até 1977, quando o estado do Mato Grosso se dividiu para dar lugar ao novo estado do Mato Grosso do Sul. Em pouco mais de trinta anos, a região teve uma evolução de mais de mil vezes àquela de quinhentos anos atrás. O avanço é visto a olhos desarmados e representa, só na agricultura, cerca de 15% da produção nacional. E, de lambuja, arrastaram para cima Goiás que é hoje um importante estado brasileiro e, do ponto de vista econômico, o mais importante daquela região. Mato Grosso do Sul, criado em 1977 é o oitavo em IDH e a Bahia está em 19º.

Estive em Palmas uns cinco anos depois da criação do estado do Tocantins e vi aquelas ruas enlameadas de barro vermelho. Era o início, a chegada do progresso que hoje ninguém mais tem coragem de duvidar. E todo mundo sabe que, naquele momento, se dizia que a criação do estado do Tocantins só seria boa para Siqueira Campos, na época, o mais influente político da região. Todos que falaram mal, que foram contra, tiveram que engolir o choro. Como tenho dito, diferentemente do adágio popular, em matéria de política administrativa, a divisão faz a força.

Aqui na Bahia, um dos exemplos do sucesso da divisão territorial foi a criação do município de Wanderley, há pouco mais de 20 anos emancipado de Cotegipe. Wanderley, hoje, superou Cotegipe, com folga. E isso foi ruim para quem? Para Cotegipe foi bom porque não tinha estrutura para atender aos reclamos do seu antigo distrito e para Wanderley melhor porque, com a sua nova administração focada nos seus objetivos, nem mais se lembra que um dia pertenceu ao velho município. Os dois crescem harmônicos e independentes.

E isso acontece em todo lugar. Foi assim com a emancipação de Dias d’Ávila que era um distrito abandonado e pobre e é hoje uma cidade rica e das mais importantes da Bahia. Verdade que poderíamos ter avançado muito mais, que poderíamos ter tido administrações mais comprometidas com os nossos anseios. Mas de quem é a culpa a não ser de nós mesmos que, repetindo, temos votado errado? Verdade também que tivemos o nosso meio ambiente destroçado pela incompreensão e insensibilidade dos nossos políticos, mas isso não nos cega a ponto de não reconhecermos a sua evolução econômica. Hoje conheci a nova sede da prefeitura e fiquei impressionado com a qualidade das instalações. Senti orgulho da minha terra e pensei: foi isso que desejei para todas as coisas que fizeram aqui. Será que alguém desejaria que Dias d’Ávila voltasse a ser distrito de Camaçari?

“Contramão da história” é achar que o mal do Brasil são os políticos. O mal do Brasil somos nós, que temos sido condescendentes com ladrões e com incompetentes, por não nos indignarmos com eles a ponto de reagir com muito mais força. Se emancipar indicasse a “contramão da história” voltar a ser distrito seria evolução? Alguém seria favorável à união de Mato Grosso com Mato Grosso do Sul?

O Engenheiro é a peça mais barata da obra, o administrador a peça mais barata da empresa. Então, não é a administração de um novo estado que vai fazer o Brasil ficar mais pobre. O que faz o Brasil ficar mais pobre é a corrupção, que existe em todos os níveis de organização como se ela compusesse o nosso DNA. Mas isso não pode ser impedimento para lutarmos por uma vida melhor para o nosso povo, do oeste ou do sul do estado, e essa vida melhorará indiscutivelmente se pudermos criar mais dois ou três estados.

Talvez precisemos pensar em redividir o Brasil e, se for para o bem de todos, digo que voto. Isso não é traição e pouco menos falta de patriotismo. Não podemos ser bairristas, regionalistas, precisamos pensar no brasileiro como um só povo, que somos.

Justino Francisco dos Santos

Escritos. Em 10/01/2012

Justino Francisco
Enviado por Justino Francisco em 24/08/2012
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