Campanhas (publicado originalmente em 21/8/2012)
Hoje começa a campanha política para prefeito e vereador na televisão. Então, para fazer este artigo, cá com meus botões, como escreveria o decano Mino Carta, volto no tempo para mostrar que as tais propagandas no eram relevantes como são. Um exemplo minguado é a disputa pela cadeira de prefeito da cidade de São Paulo em 1985. Na TV, Jânio Quadros lia jornais, comentava as notícias no horário eleitoral gratuito. Fernando Henrique Cardoso rebatia rumores de que colocaria maconha na merenda das criancinhas. Nem me referirei a Enéas Carneiro e os seus 15 segundos em 89, quando o médico cardiologista disputou a presidência. Quem se lembra do jingle ‘Vote no Velhinho’ de Ulysses Guimarães? Aliás, 1989 foi uma bagunça só. Mais de 20 postulantes, candidatos de última hora, uma disputa marcada pela aparição do marketing político com Fernando Collor e as suas frases de efeito.
Em Jacareí não existia horário eleitoral na TV nas décadas de 1960, 70, 80 e 90. Somente em 2008 os candidatos surgiram nas telas por meio da TV Câmara Jacareí. A base das campanhas era o comício, sobretudo. Havia outras opções, como bater de porta em porta, entrar, sentar nos sofás e só esperar o cafezinho chegar e bebericar. Hoje há ainda este tipo de iniciativa. Jacareí, que bom, segue sendo uma cidade com ranços, cheiros de interior. Quando Malek Assad pretendia se eleger prefeito, em 1968, a campanha era de uma singeleza de dar dó. O então jovem rapagão de 29 anos fazia a festa das mocinhas espevitadas ansiosas por um aceno ou um sorriso. Ele inflamava as pessoas e depois ia receber flores nos palanques das admiradoras. Entre elas a jornalista, ex-redatora-chefe deste Diário de Jacareí, Eloísa Nascimento, com 20 anos de idade. O procedimento era entregar as flores, trocar beijinhos de rosto com Malek e sair. Tudo muito inocente, bem ensaiado e pronto para transformar Malek no homem perfeito. No fim, foi eleito com uma diferença de menos de 300 votos para Antônio Nunes de Moraes Júnior, prefeito entre 1960 e 1964. Como se vê, receber flores faz toda a diferença.
Nos tempos de vovó-menina a preocupação com direitos autorais era nula. Na campanha de prefeito de 1982, Thelmo de Almeida Cruz usou a música do refrão ‘Viver e não ter a vergonha de ser feliz’, de Gonzaguinha. Quando eu o entrevistei, em 2009, ele chegou a entoar trechos da canção. Era o médico-galã, aos 57 anos, se tornando prefeito pela primeira vez comandante de Jacareí. Outra foi há duas décadas, em 92, com Nicolau Kohle. Conhecido por seu trabalho como presidente do SAAE (Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto), a escolha do tema era barbada: ‘Planeta Água’, marca do cantor Guilherme Arantes. Com Demésio Rodrigues Mota, em 1988, o sertanejo de raiz tinha vez. Nos comícios–showmícios –(hoje proibidos), duplas caipiras entoavam melodias a delírio da plateia.
Atualmente, é bom frisar, tudo ficou careta demais. O politicamente correto teve a tarefa de deixar tudo chato. E conseguiu. Nas campanhas políticas o engessamento é quase 100%. Além destes showmícios, estão proibidos os brindes (canetas, réguas, bonés, camisetas, isqueiros), por exemplo. Tudo é cronometrado, com os direitos de resposta para lá e para cá e embonecados. Ideias como a de Thales Ferreira, de ter como meta ‘trazer um helicóptero’ para o município, seriam consideradas de gosto estúpido, de brincar com o dinheiro público (era a eleição de 1976 e ele ficou em último lugar, com 536 votos). Na de 1972, a estagnação reinou. Por conta do regime militar, somente dois estavam no pleito: novamente Antônio Nunes de Moraes Júnior (Thelmo A. Cruz era vice) e Benedicto Sérgio Lencioni (Gil Milício de Souza, o vice). Ambos da Arena (Aliança Renovadora Nacional). Nem teve a graça de outros duelos. E nunca uma eleição em Jacareí amealhou tantos candidatos a prefeito como a já citada de 1992. Foram dez– Thelmo, BSL, Valter de Souza, Kohle, Luiz Máximo, Aureliano Sales, Tonhão Raad, Fued Chaquib, Therezinha Jesus Zerbine, José Leite. Os tempos mudaram realmente.