Brasil Ano Zero - A Nova Esquerda Reescrevendo a História
O presente artigo tem por alvo uma análise do Poder na realidade nacional a partir de conceitos utilizados pela chamada Nova Esquerda. Busca em primeiro momento situar na história a expressão Ano Zero mostrando qual seria a sua suposta origem na França e depois sua apropriação pela ditadura genocida de Pol Pot no Camboja do Khmer Vermelho. Antes de tudo algumas observações iniciais.
Independente do lugar ou da época é muito difícil negar que qualquer revolução tenha sido uma luta por conquistas materiais.
Terras, armas,dinheiro,fábricas..pouco importa o grau de idealismo envolvido. Desde os escravos romanos até os estudantes chineses, a luta armada foi
sempre o método para realizar aqui na terra o que a religião prometia no céu e só se podia considerar vencedora uma revolução com resultados práticos. Metas precisavam ser alcançadas muito mais rapidamente que os "corações e mentes" dos quais o General Westmoreland sentiu tanto a falta durante a Guerra do Vietnã. Num sentido muito real, talvez o fracasso de todas as revoluções até hoje tenha sido causado exatamente por esse paradoxo - pessoas que tinham condição para mudar o mundo não acreditavam que podiam fazê-lo enquanto aqueles que não tinham meio algum para tanto eram os mais aguerridos combatentes.
Eu acredito, de uma maneira geral, que a história muitas vezes foi assim mas,
como todo regra tem exceção, gostaria aqui de escrever sobre algumas.
Publicado pela primeira em 1848 e hoje disponível mais nos "saldos" dos sebos do que em qualquer livraria de qualidade, o Manifesto Comunista deixou uma mensagem (talvez a única entre tanta bobagem) que haveria de trazer consequências. "Somos o que produzimos" afirmava o “filósofo” que, mesmo sem falar com a língua presa e tendo dez dedos nas mãos, foi sempre sustentado por amigos. Nenhum de seus seguidores quis questioná-lo, com exceção de um obscuro fundador do Partido Comunista Italiano. Mais preocupado com a
educação de operários do que com as armas, seu nome era Antônio Gramsci.
É sobre essa personagem obscura da história do marxismo que devemos pensar quando queremos abordar o tema da Nova Esquerda, do Ano Zero, da Revolução Cultural, e de tudo que está acontecendo agora no Brasil. Não pretendo aqui me prolongar a respeito dele. Basta que se entenda uma coisa - Gramsci foi o primeiro a compreender o papel da cultura no processo da revolução. Ele seguiu e "superou" Marx mostrando que antes de tudo cabe ao partido controlar o que as pessoas pensam e não quantas fábricas, hectares de terra ou dinheiro no banco elas tem ! Antes que Hanah Arendt afirmasse que "poder é a capacidade de
gerar consenso" ele percebeu a importância dos chamados "intelectuais orgânicos" no processo revolucionário. Preso (graças a Deus) por Mussolini, morreu de tuberculose mas plantou a semente da celebrada "Geração de 1968". Os historiadores, filósofos, sociólogos, psicólogos, pedagogos que constituíram este grupo foram liderados por um alemão chamado Hebert Marcuse. Agrupados em torno do núcleo universitário de Frankfurt eles compuseram aquela que depois seria conhecida como "Nova Esquerda" e pela primeira, desde que Stalin
assaltava bancos e Mao Tse Tung financiava a revolução com dinheiro do ópio, reconheceram o "papel transformador da realidade" que os "marginalizados" podem ter no processo revolucionário. É com muito orgulho que vários deles, que sobreviveram ao uso frenético da maconha e do LSD, hoje constituem a "elite da universidade brasileira". A expressão Ano Zero passou a ser usada com mais frequência a partir da Revolução Francesa. Ela entra no vocabulário político como sinônimo de "mundo novo", "nova ordem", ou "nova realidade" após um episódio da história que cortou a cabeça de um rei, mas não mudou em nada a de um povo que teve na Restauração e em Napoleão a prova disso. Esquecida através do século XX, foi ressuscitada em 1975 por um estudante que chegou a trabalhar como garçom nos cafés de Paris - o cambojano Saloth Sar - que entrou para história como Pol Pot. Responsável pelo assassinato de cerca de 25% da população total do Camboja, Pot, mesmo emulando Hitler e Stalin, financiado e armado por Mao talvez tenha sido o primeiro a colocar em prática a idéia do Ano Zero. Matou médicos, professores, advogados, engenheiros..proibiu o uso do dinheiro e mesmo da linguagem escrita. Tinha por objetivo fazer o Camboja voltar no tempo e retornar a uma sociedade que existiu no sudeste da Ásia em meados do século XIV. Ao contrário de Gramsci, que queria controlar a Itália através da alfabetização de adultos em aulas noturnas e assim submetê-los voluntariamente ao partido, Pol Pot tinha outra estratégia...controlar as crianças órfãs após 1975. Ele não criou nenhuma ONG, não distribuiu kit gay nas escolas, não retirou crucifixos de tribunais ou proibiu palmadas - matou os pais e deixou os filhos, às vezes de 8 ou 10 anos de idade, com um fuzil AK-47 na mão e uma vida
vazia de qualquer significado – era o Khmer Vermelho que dizia qual o motivo para as pessoas viverem.
Quem me leu até aqui pode pensar que tudo isso é "passado"...que a revolução só se faz com sangue e que o Camboja fica muito longe. Minha resposta é a seguinte - uma revolução marxista não se faz obrigatoriamente com armas, mortes, torturas ou mesmo a violência de qualquer tipo - se faz criando aquilo que ouso chamar de "vazio histórico" - o verdadeiro Ano Zero – o Novo Mundo Sem Medo de Ser Feliz.
O Ano Zero só pode vir quando essa verdadeira ralé que chegou ao poder onseguir
reescrever o passado..mudar completamente a verdade do que aconteceu entre 1964 e 1985, destruir todos os valores da família, da honra, do mérito..humilhar as Forças Armadas e levar a Igreja ao ridículo total. Mesmo com seus pais ainda vivos, toda uma geração vai perder a noção de sentido e aceitar tranquilamente um Brasil governado pelo Partido dos Traficantes.
É em direção a este verdadeiro abismo que todos nós caminhamos..um abismo sem campos de concentração, sem mortes e sem torturas..um abismo sem guerra civil e sem "luta armada" mas preenchido pelo mais absoluto, covarde e devastador silêncio de uma nação.
17 de julho de 2012.