O REI E SEU REINADO
Durval Carvalhal
O Sr. Fernando Henrique Cardoso tem “quase” todas as características de um grande líder ou um grande estatista, como ele mesmo se acha: tem pose, boa estatura, anda ereto, é falante, é culto... Mas, faltam-lhe os princípios e as convicções inerentes aos grandes vultos.
Aliás, são fotográficas as palavras do general-historiador Werneck Sodré: “Fernando Henrique [...] embora não seja tão inteligente assim [...]. A obra acadêmica de FHC não é lá essas coisas. Conheço-a toda. Em Sociologia, a obra de Florestan Fernandes é muito mais interessante”.
O outrora parlamentar de talhe progressista começou a desnudar-se, protagonizando dois fatos inusitados na vida político-social brasileira: Pedindo ao País que esquecesse o que escrevera e aliando-se politicamente com as forças que, nos últimos decênios, têm governado o Brasil e que são, portanto, as responsáveis diretas pelos lamentáveis índices de injustiça social.
O avião do Plano Real que, já no governo Itamar Franco, sobrevoava os céus brasileiros, necessitava de um piloto confiável, simpático, sorridente e com aura de estadista, para capitalizar o apoio da grande maioria (apolítica e apática) da população.
E assim, a eleição presidencial de 94 teve um forte sabor de ato homologatório.
Estranho é que só um líder da oposição tenha se colocado contra o Plano Real. FHC até esnobou: “hoje, todo mundo apoia o Real, menos o Brizola”.
País com grande índice de analfabetismo, enorme taxa de desinteresse político e uma imprensa aliada e benevolente com o poder, não foi difícil para o governo FHC conquistar apoio popular cada vez mais crescente.
Mas, a contradição básica jamais se extinguirá: democracia burguesa que defende a liberdade (do capital) e melhoria social coletiva (que pressupõe crescentes gastos públicos).
Parlamentarista convicto, FHC é um presidente sem apetite administrativo. Suas viagens constantes dão a impressão de vazio de poder. Governa-se por Medidas Provisórias. O Brasil parece acéfalo. Mas, não é muito relevante, porque, no Congresso Nacional, seus aliados preenchem essa lacuna, produzindo as leis da barbárie: educação, saúde, segurança e demais necessidades são privatizadas e caras.
Quem paga moradia, plano de saúde, mensalidade escolar e consome outras necessidades vitais, bem sabe o que é neoliberalismo, mesmo com a utilização do rádio, jornal, revista, televisão, cinema que são propriedades deles e basicamente utilizados por eles.
Como corolário, não há mais inibição ética, mente-se a granel, debocha-se escancaradamente. O rei, papudo, sorri prazenteiramente. A corte é alegre e festiva. É a concretização da vida "straussiana": vinhos, mulheres e música. É o paraíso. Vez por outra, folheia-se Dante e o inferno vem à tona: “Quantos submersos vi até à venta! O grão Centauro disse: são tiranos, que usaram morte e roubo em forma cruenta”.
Mas, tudo bem! Ainda não há perigo. Virgílio também está ali. É poeta. Tem trânsito livre no inferno...
E fica no ar uma pergunta: que fazer? Talvez caiba, aqui, o curto diálogo de dois velhos camponeses:
-Ô compádi, será quêsse tá de sorcialiso não é coisa boa?
-Purcá, cumpádi?
-Purcá quêsse tá de sorcialismo fosse coisa ruim, já tinha chegado pra nóis...
25 de junho de 1996.
Aliás, são fotográficas as palavras do general-historiador Werneck Sodré: “Fernando Henrique [...] embora não seja tão inteligente assim [...]. A obra acadêmica de FHC não é lá essas coisas. Conheço-a toda. Em Sociologia, a obra de Florestan Fernandes é muito mais interessante”.
O outrora parlamentar de talhe progressista começou a desnudar-se, protagonizando dois fatos inusitados na vida político-social brasileira: Pedindo ao País que esquecesse o que escrevera e aliando-se politicamente com as forças que, nos últimos decênios, têm governado o Brasil e que são, portanto, as responsáveis diretas pelos lamentáveis índices de injustiça social.
O avião do Plano Real que, já no governo Itamar Franco, sobrevoava os céus brasileiros, necessitava de um piloto confiável, simpático, sorridente e com aura de estadista, para capitalizar o apoio da grande maioria (apolítica e apática) da população.
E assim, a eleição presidencial de 94 teve um forte sabor de ato homologatório.
Estranho é que só um líder da oposição tenha se colocado contra o Plano Real. FHC até esnobou: “hoje, todo mundo apoia o Real, menos o Brizola”.
País com grande índice de analfabetismo, enorme taxa de desinteresse político e uma imprensa aliada e benevolente com o poder, não foi difícil para o governo FHC conquistar apoio popular cada vez mais crescente.
Mas, a contradição básica jamais se extinguirá: democracia burguesa que defende a liberdade (do capital) e melhoria social coletiva (que pressupõe crescentes gastos públicos).
Parlamentarista convicto, FHC é um presidente sem apetite administrativo. Suas viagens constantes dão a impressão de vazio de poder. Governa-se por Medidas Provisórias. O Brasil parece acéfalo. Mas, não é muito relevante, porque, no Congresso Nacional, seus aliados preenchem essa lacuna, produzindo as leis da barbárie: educação, saúde, segurança e demais necessidades são privatizadas e caras.
Quem paga moradia, plano de saúde, mensalidade escolar e consome outras necessidades vitais, bem sabe o que é neoliberalismo, mesmo com a utilização do rádio, jornal, revista, televisão, cinema que são propriedades deles e basicamente utilizados por eles.
Como corolário, não há mais inibição ética, mente-se a granel, debocha-se escancaradamente. O rei, papudo, sorri prazenteiramente. A corte é alegre e festiva. É a concretização da vida "straussiana": vinhos, mulheres e música. É o paraíso. Vez por outra, folheia-se Dante e o inferno vem à tona: “Quantos submersos vi até à venta! O grão Centauro disse: são tiranos, que usaram morte e roubo em forma cruenta”.
Mas, tudo bem! Ainda não há perigo. Virgílio também está ali. É poeta. Tem trânsito livre no inferno...
E fica no ar uma pergunta: que fazer? Talvez caiba, aqui, o curto diálogo de dois velhos camponeses:
-Ô compádi, será quêsse tá de sorcialiso não é coisa boa?
-Purcá, cumpádi?
-Purcá quêsse tá de sorcialismo fosse coisa ruim, já tinha chegado pra nóis...
25 de junho de 1996.