BANDOS, GANGUES, PARTIDOS E ASSOCIAÇÕES

Lendo os primeiros volumes da História de Portugal de Alexandre Herculano, fica-se impressionado com a quantidade de bandos de árabes, normandos, visigodos, etc... que assolaram a península Ibérica no 1º. Milênio de nossa era. Com tanta bandalheira , “bando”, no sentido linguístico, sempre lembra crime: bandido, baderna, bando de corruptos, salteadores, ladrões, sequestradores, gangues... E haja bandos e gangues!. No Brasil, em época recente, ainda se criaram o “bando do Orçamento”, o “bando da Previdência”, o “bando do PC”, o “bando do Congresso”, o “ bando dos Anões”, o “bando do Mensalão”, o “bando do Cachoeira”, as “gangues das drogas”, as “gangues das Milícias”... E mais bandos, gangues e milícias existirão por aí!

Quando as sociedades se civilizam politicamente os “bandos” e as “gangues” são substituídos pelos “partidos”. Desta forma, os partidos deveriam ser os substitutivos civilizados dos bandos e gangues. Mas é preciso reparar que, mesmo que os partidos sejam os correspondentes civilizados dos antigos bandos e gangues, contudo conservam em seu bojo os mesmos princípios básicos de ação destes bandos e gangues: a exclusão, o extermínio, a dominação do adversário; o domínio e a conquista do poder pela “lei da selva” – a sobrevivência do mais forte, e o recurso a todo tipo de falcatruas. Dali as lutas partidárias e a baixaria em todas as campanhas políticas. Denota-se assim que o homem, mesmo organizado institucionalmente em partidos políticos, interiormente ainda conserva a psicologia do bando e das gangues. A diferença está em que os bandos normalmente não possuem ideologia, enquanto os partidos a pretendem ter. E a ideologia dos partidos sempre oferece uma perspectiva de salvação global da sociedade. Cada partido oferece uma proposta de solução de todos os problemas do país. O que, aliás, é uma contradição, pois se é partido, portanto uma parte da sociedade, só parcialmente poderia pretender dar respostas aos problemas humanos. Mas, pelo fato de cada partido oferecer soluções globalizantes e absolutas, necessariamente entrará em conflito com os outros partidos. E deste jogo de brigas partidárias resulta a politicagem, num jogo de poder onde os mais fracos levam a pior.

Diante deste triste quadro das políticas partidárias que, ao menos até agora, no Brasil não conseguiram uma justiça social e uma dignidade adequada para os cidadãos, parece oportuno propor um novo momento civilizatório para a condução política. Tenho a impressão que chegou o momento na civilização ocidental, e especialmente para o Brasil, de superar os partidos, assim como em outro momento de nossa história se superou os bandos e as gangues políticas. Ao que tudo indica, os substitutivos civilizados dos partidos deveriam ser as associações. Por que não aproveitar a atual constatação da corrupção de governantes e a falta de coerência ética dos partidos (exemplo: acordo Lula x Maluf) para pôr fim a estas politicagens partidárias, que se aproveitam da ingenuidade do povo, e humilham todo cidadão honesto neste país, especialmente nos períodos de campanhas eleitorais, com discursos sofísticos de meias verdades? Há uma necessidade urgente no Brasil de uma reforma política radical, que, de fato, atinja a raiz de nossa corrupta cultura política.

Os representantes eleitos das mais diversas associações formariam o Congresso Nacional. Todos estes associados lutariam pelo bem de quem representam e, conjuntamente, buscariam a solução dos problemas de todos os cidadãos. Desta forma, provavelmente, desapareceriam do cenário nacional os “anões”, as “brancas de neve”, os “caciques” e os “coronéis” da vergonhosa política nacional. E os “partidos” deixariam de ser parentes e simples herdeiros da psicologia dos bandos, das gangues e das quadrilhas (não as juninas!).

Inácio Strieder é professor de filosofia – Recife/PE