A Manipulação da Opinião Pública

MANIPULAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA.

Antônio Mesquita Galvão

Filósofo e Doutor em Teologia Moral

O filósofo Noam Chomsky, um comunista norteamericano, fala, em uma de suas obras (“Visões Alternativas”) nas estratégias que o sistema (e aí se incluem as elites sociais, políticas, educacionais, econômicas e até religiosas) utiliza para manipular o pensamento das pessoas e assim conformar a opinião geral às suas ideologias. O curioso é que os sistemas, de direita ou esquerda, capitalistas ou socialistas, religiosos, ateus ou ortodoxos, todos usam as mesmas técnicas e táticas, visando dominar e impor seus pontos de vista, para assim dominar, suplantar e “vender o seu peixe”..

1. A estratégia da distração

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mu-danças decididas pelas elites sociais, políticas e econômicas. A técnica é a da inundação de contínuas distrações e informações sem importância. No Brasil temos vários eventos de distração, como as férias de verão, o carnaval, o feridão da “semana santa”, os jogos de futebol, a "novena da padroeira", sem falar na Copa do Mundo, na grandes desgraças e na efervescência política e eleitoral. Esta estratégia é indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, nas diversas áreas da atividade social. Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, sem nenhum tempo para pensar. É o que Chomsky chama de “armas silenciosas para guerras tranqüilas”.

2. Criar os problemas e depois oferecer as soluções

Este método segue o esquema chamado de problema→reação→solução Cria-se um problema, uma “situação” adversa prevista para causar certa reação no público, a fim de que este se torna “suplicante” (clamor) das medidas que se deseja implantar. Fazer com que o público requeira atitudes e medidas, mesmo as que prejudiquem sua liberdade. Ou criar uma crise econômica para que o povo a-ceite como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais ou o desmantelamento dos serviços públicos. Temos aí o a lei de restrição às armas como resposta à violência, as campanhas de trânsito e a proibição de bebidas nas es-tradas, como resposta aos acidentes, o clamor pela “ficha limpa” diante da corrupção parlamentar, etc.

3. A estratégia da gradualidade

Dizem que “devagarzinho dói menos”. Para fazer que se aceite uma medida inadmissível, basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, num prazo alargado. Dessa forma, as novas condições impostas, as mudanças radicais são aceitas sem provocar revoltas...

4. A estratégia do adiamento

Outra maneira de provocar a aceitação de uma decisão impopular é a de apresentá-la com “dolorosa e necessária” (o “cortar na carne” de todos os governos da República), obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro que um imediato. Primeiro por-que o esforço não é imediato; segundo porque a massa, ingenuamente crê que “amanhã tudo irá melhorar” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao cidadão para se acostumar à idéia da mudança e a de aceitá-la quando chegar o momento. É o caso dos anúncios de aumento dos combustíveis, que é desmentido e protelado.

5. Dirigir-se ao público com se ele fosse uma criança

A maioria da publicidade veiculada pelos canais de televisão, dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos e imagens particularmente infantis e meigas, muitas vezes a roçar a debilidade (com desenhos, animaizinhos, criancinhas), como se o expectador fosse uma criança ou um deficiente mental. Quanto mais se enganar o expectador, mais se tende a adotar um tema infantil. Por quê? Porque dirigir-se a uma pessoa como se tivesse doze anos ou menos, tenderá, por sugestão, a provocar respostas ou reações mais infantis e desprovidas de senso critico. Um conhecido “âncora” de um jornal da Rede Globo disse em off, que o telespectador brasileiro tem mentalidade de Homer Simpson.

6. Utilizar a emoção acima da reflexão

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para curto-circuitar a análise racional, e neutralizar o sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar idéias, desejos, mensagens, temores, compulsões ou induzir determinados comportamentos. A psicologia afirma que quando se faz uma platéia rir e chorar em seqüência, as pessoas se desarmam e ficam mais vulneráveis aos objetivos dos comunicadores. Isto acontece em comerciais de tevê, programas políticos, palestras motivacionais, campanhas sociais, aulas e encontros de igreja, etc.

7. Manter o povo na ignorância, alimentando ideais medíocres

Fazer com que o público seja incapaz de compreender a tecnologia e métodos utilizados para seu controle e escravidão. É o mesmo Chomsky que afirma: “A qualidade da educação dada, nos Estados Unidos, às classes socialmente inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância en-tre estas e as classes altas permaneça inalterada no tempo, e seja impossível alcançar uma autêntica igualdade de oportunidade para todos”. Se acontece is-so lá, imaginem cá.

8. Estimular uma complacência com a mediocridade

Trata-se da filosofia do “coitadinho”. Aquilo que Paulo Freire mencionou como “pedagogia do oprimido”. É induzir o povo à vulgaridade, incultura, e o ser malfalado ou admirar personagens sem talento. Isto está na moda! É o desprezo pelo intelectual, o exagero do culto ao corpo e a desvalorização do espírito de sacrifício e do esforço pessoal. Instaura-se aí o culto à mediocridade.

9. Reforçar o sentimento de culpa pessoal

Fazer crer ao indivíduo que ele é o maior (ou o único) culpado por sua própria desgraça, por insuficiência de inteligência, de capacidade de preparo ou de esforço. O pobre é pobre, não por causa da opressão ou da injustiça, mas por causa de sua ignorância, sua pouca vontade de trabalhar (é vagabundo), cheio de filhos e sem ambições. Assim, em lugar de se revoltar contra o sistema (social, político, religioso e econômico) o individuo vai se desvalorizar, culpando-se e gerando em si um estado depressivo que inibe sua auto-estima e capacidade de reagir. Sem indignação não ocorre a mudança nem a revolução!

10. Afirmar que conhecem as pessoas melhor do que elas próprias

Nos últimos cinqüenta anos, os avanços da ciência geraram uma crescente brecha entre os conhecimentos do público em geral e aqueles utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia, à psicologia e à filosofia clínica aplicada, o sistema tem desfrutado de um conhecimento do ser humano, tanto de forma física como psicológica. Os sistemas de informática “espionam” a vida das pessoas, usuários desses programas. Ás vezes um pregador, um comunicador ou um conferencista diz alguma coisa, e certas pessoas da platéia afirmam “parece que ele está falando diretamente para mim. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo se conhece. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema (como um novo “big brother” de George Orwel, in “1984”) exerce um maior controle, influência e poder sobre os indivíduos, superior ao que eles pensam que realmente tem.

Notaram que a maioria desses fatores faz parte das iniciativas da Rede Globo no Brasil? Eles impõem sua ideologia midiática porque nós nos calamos, não reagi-mos, não julgamos... A manipulação da opinião pública, das consciências e dos com-portamentos sociais é fruto do laxismo de muitas pessoas e instituições, que prefe-rem caminhos mais fáceis e estradas menos sacrificadas. Hitler, e outros fascistas, impuseram uma “doutrina de segurança nacional” para enganar incautos e preguiçosos. Essa preguiça, essa inapetência à reação, incapacidade de se indignar é fruto de uma falta de senso crítico. Quando não criticamos não julgamos, e quando não julgamos aceitamos a opinião, a doutrina e a ideologia dos outros.

Texto publicado em 18/05/2012 no portal ADITAL www.adital.com.br