E se não existisse oposição?
É preciso entender, por mais estranho que possa parecer, que contribuímos muito mais para o crescimento de nosso município quando fazemos críticas que possam auxiliar o gestor público na direção onde este deve atuar. Isso é muito mais construtivo do que esse mar de puxa sacos que apenas balançam as cabeças, dizendo: sim, senhor! Não, senhor! Temendo perder suas “boquinhas”. Em suma, quem se propõe a pelejar na dura missão de soltar a voz, mesmo que por muitas vezes assemelhando-se ao profeta João Batista, ou seja, pregando no deserto, em meio a corações áridos, torna-se, sem dúvida, o maior colaborador de um governo (claro que se este entender que toda critica é válida e potencialmente construtiva).
Um bom político abrirá primeiro as páginas que estão criticando a sua gestão. Essa premissa é básica se este pretende atuar na solução dos problemas. Convenhamos, problemas não estão nas floridas colunas sociais. Estão?
A oposição, ou a crítica, é o freio de arrumação do poder democraticamente estabelecido. O que seria de uma população inteira se não houvesse meios de comunicação e pessoas que denunciassem os mais diversos problemas em seus bairros e comunidades? Será que a prefeitura chegaria até eles? Faço aqui o meu registro das comunidades às quais tenho tido a possibilidade de conhecer, de perto, suas duras realidades. Recentemente estive no Palheiro, em Monte Gordo e, parafraseando uma das moradoras mais antigas de lá, Dona Mariana, “aqui a prefeitura não chegou, apenas as drogas e a violência”. Qual a melhor ação, neste e em muitos casos? Negar e apresentar novamente a Cidade do Saber como a grande solução (tão distante do Palheiro), ou intervir de forma efetiva?
Um governo sem oposição e sem crítica é fadado a tornar-se um governo cheio de “reis na barriga” e nisso, sabemos, o PT, infelizmente (digo infelizmente por ser um admirador da estrela) tem se tornado o próprio rei, em todas as esferas (municipal, estadual e federal). Prova de que o molde da “casadinha” não é lá as flores que tanto pregavam.
Esse modelo de dominação política, tão combatida pelo próprio PT, na época do carlismo, tornou-se a principal forma de articulação petista. Desta forma, alianças inimagináveis foram feitas em todo o território nacional, em nome do “povo”. Os debates de idéias foram quase que extintos, dando lugar a uma disputa de interesses – e de quem são esses interesses? São seus? Quando assisto à novela que se tornou a sucessão municipal, fico me perguntando: “será que esses engravatados pensam em Dona Mariana?” Lá se vão sete anos, ou melhor, mais de setenta anos dessa senhora que em nada viu melhorar o seu cotidiano e o da comunidade onde vive.
Ao analisarmos o modelo, obviamente também adotado pelo prefeito Caetano, em nossa cidade, vemos que este trabalhou arduamente para “eliminar” a oposição local. Nem preciso citar nomes, pois creio que cada um que ler este artigo, conhece ao menos um politiqueiro que acendia velas para Tude e/ou Helder e hoje rezam missas inteiras para o atual gestor.
Alguns companheiros, que entendem de política mais do que eu, sempre tentam me explicar tal situação afirmando que: “esse é o jogo político. Nada há de errado. Tudo é feito em nome do povo”. Bom, é no mínimo curioso que eu, digo, eles, tenham combatido a oposição (hoje situação) e, após a derrota nas urnas, se lambuzem no mesmo prato. Se eu, que fiz campanha para o PT fico sem referência, imagine a maioria do povo camaçariense!
Lembrei-me de um fato que me marcou quando da primeira vitória de Caetano, nas urnas, em 2004. Enquanto eu, praticamente sozinho, comemorava o triunfo do “13”, no apartamento de uma amiga, no Inocoop, ao mesmo tempo tentava consolar uma pefelista ferrenha, que trabalhou duro para que Helder permanecesse no poder e ela, consequentimente, mantivesse seu cargo... Quem diria que ela, após a vitória da estrela solitária, não apenas manteve-se na prefeitura, como foi promovida! Resultado? Minha amiga virou PT desde criancinha (ou até o próximo resultado eleitoral, em 2012). E qual o benefício prático disto para a sociedade? Ela mesma me respondeu outro dia: “nenhum. Quando posso bato meu ponto, não coloco meus projetos em prática, pois dará muito trabalho para meu secretário, que me acha uma sonhadora e engavetam todos eles. É frustrante, mas meu salário é bom”, concluiu ela.
Imagine quais interesses são “negociados” em cargos de 1º e 2º escalão? Imagine aquele político que era avesso ao PT, que não podia ver uma bandeira vermelha, que se arrepiava todo e hoje dorme enrolado a ela. Agora me digam, viraram a casaca em nome do povo? E aquele que era oposição, depois apoiou Caetano, ganhou um pedaço do bolo no governo, depois saiu do governo e hoje faz novamente oposição. É mesmo em nome dos interesses da “Aldeia do Divino Espírito Santo”?
Gente, isso é muito sério! Essas movimentações partidárias, de ideologias frágeis e jogos de interesse dominam o cenário da política local (tal qual se tornou regra Brasil a fora!). Tudo isso resumido num único conceito, dado pelos especialistas de plantão: “jogo político”. Às favas com esse miserável jogo! Quem anda pelos bairros, comunidades e distritos de Camaçari vêem claramente que esse jogo tem é jogado muita gente no chão. Enquanto se discute quem vai assumir a câmara, as pastas, os cargos, as articulações internas e quem vai se aliar a A ou a B, nada acontece nas comunidades e quando não há poder público, o poder paralelo estabelece suas práticas.
A crítica, senhores donos das canetas, não são pessoais, são para os factóides e espumas que diariamente ouvimos e vemos. Isso cansa! Essa política de compra de alma cansa!
Em meio a esse tiroteio de interesses, estão, agora, os cacos da oposição camaçariense, tentando se mostrar forte. O irmão, a Doutora, os “ex´s” e afins já tentam navegar rumo ao rio Camaçari, onde emana leite e mel. Todavia, me permitam alguns questionamentos. Só agora vão fiscalizar as ações do executivo? Só agora vão caminhar nas ruas cheias de lama da nossa cidade? Só agora vão criticar as políticas públicas? Só agora vão contribuir com a construção de uma nova Camaçari? Como eleitor, fico meio perdido e sem saber qual mesmo é o interesse de vocês, pois nas comunidades que estive nestes últimos sete anos, não vi nem prefeitura, nem tão pouco vocês!
É... Sei que vocês devem estar pensando: “pirou! O cara atirou pra todo lado”. Sobrou para todo mundo mesmo... Se Caetano estabelece a política carlista do “tome sua ponta e fique quieto”, muitos dos que são (eram) de oposição são cúmplices, pois permutaram a ideologia. No jargão do administrador, dizemos que se há oferta, é porque há demanda. Desta forma, vemos claramente que muitos politiqueiros camaçarienses têm tratado o povo como mercadoria a ser negociada, segundo seus interesses próprios.
A crítica, meus nobres, se vocês forem sábios, servirá como reflexão e, por conseguinte, para mudanças substanciais. Eliminar a oposição, os críticos, a liberdade de opinião ou cerceamento da imprensa, é uma tolice que só servirá para cegá-los. Creio que aprendemos em um passado de chumbo, não muito distante, que quando o domínio sobre tais seguimentos se estabelece num governo, a miopia os levará ao tropeço. A crítica, paradoxalmente, torna-se os óculos que os ajuda a enxergar em meio a tanta vaidade de poder.
Quanto à “nova” oposição camaçariense, mesmo que se articulando tardiamente, ficarei na torcida para que estes estabeleçam debates que realmente possam contribuir, mais que isso, que a sua atuação em prol do bem comum possa ser realizada com as próprias mãos, sem dependência do poder público.
Como costumo dizer: “criticar é preciso, mas se não houver o exemplo de mãos calejadas, fica vazio o discurso”. Não concordam?
Salve,
Caio Marcel (admcaio@gmail.com) é administrador de empresas e formado em capoeira regional, pelo Grupo de Capoeira Regional Porto da Barra. Também é responsável e mantenedor do Projeto Social Crianças Cabeludas, nos bairros do Parque das Mangabas, Machadinho, Monte Gordo e Parque Satélite, em Camaçari.
Artigo publicado no Portal Eletrônico Camaçari Agora: http://www.camacariagora.com.br/colunista.php?cod_colunista=17&cod_coluna=126