AS FACES NO “FACE”
Faz algum tempo postei um comentário no meu perfil do Facebook afirmando que essa rede social, tão bajulada pelos políticos locais, poderia se tornar um tiro no pé – deles!
Talvez embalados pelo exemplo de Barack Obama, que bem soube utilizar as teias sociais para agarrar algumas “presas” (pura estratégia de campanha), se aproximando de uma parcela significativa de eleitores americanos plugados na net, nossos políticos jocosos se enveredam pelas artimanhas dos bits, crendo ser ali, um campo livre de crítica e discernimento da verdade, onde podem postar seus feitos e esperarem que os seguidores votem, ou melhor, “curtam”.
O poder dessas redes sociais, sem dúvida nenhuma, é indiscutível. O próprio Facebook, uma das mais acessadas do mundo, vem sofrendo diversas ações em países onde a mobilização em torno de eventos publicados nele, alcança grandes números de pessoas, causando, por vezes, distúrbios à ordem pública, ou ainda por questões ligadas a direitos autorais, de imagens etc. Cada opinião, foto, vídeo ou evento postado por seus usuários, automaticamente se torna matéria do Oiapoque ao Chuí. A visibilidade é planetária e pode vir a tornar-se sucesso, ou devastação.
As redes são outdoors livres de taxas. Suas imagens, trabalhos e pensamentos podem ser postados e rapidamente veiculados a dezenas de pessoas e a partir dessas dezenas, para outras centenas, milhares. Eis aqui a “visgueira” dos políticos camaçarienses: propaganda a custo zero! Todavia, é importante salientar que em redes como o Facebook, por exemplo, o photoshop às vezes não surte o efeito desejado. O tiro pode sair pela culatra. Os feitos divulgados como favores, são logo sobrepujados com a publicação do outro lado da moeda. A rede também se tornou campo de denuncia e de exposição pública das mazelas que, outrora eram, veladamente, censuradas nas mídias tradicionais, mas agora encontram nos grandes sítios virtuais a sua voz de protesto.
Prova disso, foi a recente publicação de uma dessas vozes através de imagem, onde um quadrinho comparava a evolução do prometido e do que verdadeiramente foi realizado, com relação à tão anunciada retirada da linha férrea do Centro de Camaçari. Ou seja, em oito anos, apenas espuma. O quadrinho tragicômico causou um reboliço daqueles! Pessoas ligadas ao governo partiram para o São Bento Grande1, quando o que estava sendo tocado era uma Banguela2. A força da rede social havia, mais uma vez, rompido a linha do que se apresenta na propaganda (mundo da fantasia) e do obstáculo que temos que enfrentar quando queremos ir da Rua Francisco Drumond para a Praça Desembargador Montenegro (mundo real).
A opção de “marcar” uma pessoa, disponível no Facebook e comumente utilizada para que outras pessoas possam visualizar algo que você deseje que seus amigos virtuais vejam, foi a tentativa utilizada para que o usuário desviasse a atenção do verdadeiro absurdo: topar com os trilhos do trem, antes da “breja”, no bar da estação. Claro, o tiro foi no pé, pois ai sim a coisa tomou corpo e as vozes começaram a bradar; só que desta vez contra o fato e o retratista.
As faces, no “Face”, verdadeiramente são apresentadas como elas realmente são. As idéias, os eventos, as figuras são rapidamente ratificadas ou retrucadas. Não existe maquiagem para quem abre a porta e vê o corpo estendido no chão. Não existe propaganda ou número estatístico que refute o quanto tem sido impotente o modelo educacional estabelecido em nossa rede pública. O Face e demais redes sociais, felizmente, têm se tornado uma ferramenta importante de informação e propagação, paradoxalmente, do mundo real. Com um simples clik, o photoshop é logo desmascarado e as máscaras caem rapidamente por terra.
Que estejamos todos atentos e prontos para separarmos os bits, dos bestas.
Salve,
Caio Marcel Simões Souza (crenteregional@gmail.com) é Administrador de Empresas e formado em Capoeira Regional, pelo Grupo de Capoeira Regional Porto da Barra. Também é responsável e mantenedor do Projeto Social Crianças Cabeludas, no bairro do Parque das Mangabas, Camaçari.
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1. São Bento Grande: jogo de Capoeira, típico da Capoeira Regional. Caracterizado por suas trocas de golpes rápidos, floreados e violentos, onde é jogado a Capoeira luta;
2. Banguela: toque de berimbau utilizado na Capoeira Regional, para a prática do jogo de mesmo nome “banguela”. Neste jogo, os adversários desferem movimentos suaves, sem agressividades, prezando mais as habilidades dos lutadores e onde os golpes não podem tocar o adversário.
Texto publicado no Portal Eletrônico Camaçari Agora, em 08/12/2011: http://www.camacariagora.com.br/colunista.php?cod_colunista=17&cod_coluna=151