ANARQUISTAS E TROTSKISTAS: OS HERÓIS ESQUECIDOS DO MOVIMENTO OPERÁRIO NA HISTÓRIA DA ESQUERDA BRASILEIRA
ANARQUISTAS E TROTSKISTAS: OS HERÓIS ESQUECIDOS DO MOVIMENTO OPERÁRIO NA HISTÓRIA DA ESQUERDA BRASILEIRA
Em 1906 ocorre o I Congresso Operário Brasileiro e em 1908 é fundada a COB (Confederação Operária Brasileira), organização operária de caráter federativo e não centralizada, dirigida pelos anarquistas, que divulgava suas propostas e campanhas através do seu jornal - A Voz do Trabalhador.
O caráter revolucionário do anarcossindicalismo expressou-se nas diversas greves de trabalhadores que dirigiu, na Greve Geral de 1917 e na Insurreição Anarquista de 1918.
A derrota da insurreição de 1918 e a adesão de vários intelectuais e operários do mundo todo, inclusive do Brasil, ao bolchevismo depois da Revolução Russa de 1917 levaram ao declínio da hegemonia anarquista no movimento operário brasileiro e à fundação do PCB (Partido Comunista do Brasil, depois Partido Comunista Brasileiro) em 1922, com um ex-militante anarquista, Astrojildo Pereira, assumindo o cargo de Secretário-Geral do Partido.
Nos primeiros anos do PCB, os trotskistas tiveram uma atuação decisiva. Combateram desde o início o stalinismo no PCB e tiveram como sua principal liderança o intelectual Mário Pedrosa, que foi delegado no Congresso de Fundação da IV Internacional e membro do Comitê Executivo Internacional (CEI) da Internacional liderada por Trotsky, em 1938.
Os trotskistas travaram a luta contra a extrema-direita, contra o fascismo brasileiro - o Integralismo. Chamaram a Frente Única Operária como forma de unificar os comitês antifascistas do PCB e dos anarquistas para fortalecer a esquerda revolucionária e o movimento operário para enfrentar os integralistas. Foram a linha de frente na Batalha da Praça da Sé em que os operários dispersaram uma manifestação dos integralistas com paus e pedras e, até mesmo, armas de fogo. O episódio conhecido também como "a revoada das galinhas verdes" mostrou a força da classe operária organizada e desferiu um duro golpe na Ação Integralista Brasileira, construindo uma sólida resistência popular contra o fascismo.
Apesar disso, fizeram uma dura crítica ao putch dos stalinistas, a Intentona Comunista, política aventureira e ultra-esquerdista do stalinismo do "terceiro período". A derrota da insurreição comunista levou vários militantes à prisão, à deportação, às torturas e mortes pelo governo Vargas, assim como o equívoco da insurreição anarquista de 1918 destruiu o movimento anarquista e expôs seus militantes à mais dura repressão pelo governo oligárquico.
Além de Mário Pedrosa, destacaram-se outros importantes quadros trotskistas como Pagu, João da Costa Pimenta e Febus Gikovate. Várias organizações trotskistas se constituíram durante o governo Vargas: GCL (Grupo Comunista Lênin), LCI (Liga Comunista Internacionalista), POL (Partido Operário Leninista) e PSR (Partido Socialista Revolucionário), seção brasileira da IV Internacional. João da Costa Pimenta (ex-militante anarquista e do Partido Comunista), acompanhou Pedrosa em todas essas organizações, assim como Febus Gikovate. Pagu, que foi dos grupos de autodefesa que protegiam os oradores nos comícios e nas reuniões do PCB, também rompeu criticando o stalinismo e esteve com Pedrosa no jornal A Vanguarda Socialista, no PSR e na fundação do PSB (Partido Socialista Brasileiro), em 1947, assim como outros militantes trotskistas da época, entre eles Gikovate e Pimenta.
Mário Pedrosa e Febus Gikovate participaram ainda da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e Pedrosa foi o primeiro intelectual a se filiar a esse partido.
HERÓIS ESQUECIDOS: Astrojildo Pereira, Pagu, Mário Pedrosa, Febus Gikovate e João da Costa Pimenta.
ASTROJILDO PEREIRA - iniciou sua militância política nas organizações anarquistas, sendo um dos organizadores do II Congresso Operário Brasileiro, aderindo mais tarde ao comunismo, tornando-se um dos fundadores do PCB e o Secretário-Geral da organização e fazendo parte do Comitê Executivo da Internacional Comunista até ser atingido pela política de proletarização do Partido imposta pela direção stalinista. Foi delegado do Estado do Rio ao I Congresso Brasileiro de Escritores em 1945.
PAGU - artista modernista integrante do movimento antropofágico, militou no PCB, fazia parte dos grupos de autodefesa que protegiam os oradores nos comícios e nas reuniões do Partido, filiou-se ao PC Francês, rompendo com o PCB mais tarde por criticar sua orientação stalinista, aderindo ao trotskismo e participando a seguir do jornal A Vanguarda Socialista, do PSR (organização trotskista) e do PSB (Partido Socialista Brasileiro), formado nas décadas de 40 e 50 por um núcleo de revolucionários socialistas.
MÁRIO PEDROSA - militou no PCB e passou a integrar o grupo de simpatizantes trotskistas no interior do Partido, participou do Congresso de Fundação da Quarta Internacional, na França, em 1938, e integrou o Comitê Executivo Internacional (CEI) da IV Internacional, participou da criação e atuou no jornal A Vanguarda Socialista, no GCL (Grupo Comunista Lênin, na LCI (Liga Comunista Internacionalista), no POL (Partido Operário Leninista) e no PSR (Partido Socialista Revolucionário), reuniu seus camaradas para atuarem na Esquerda Democrática e, em 1947, fundou o PSB. Participou ativamente na criação do PT (Partido dos Trabalhadores), tornando-se o primeiro intelectual a se filiar ao novo partido operário brasileiro, surgido das lutas sindicais do final da ditadura militar.
FEBUS GIKOVATE - militante trotskista, foi um dos fundadores do POL, em 1936, junto com Mário Pedrosa, e passou a dirigir a organização, quando Pedrosa se tornou membro do CEI da IV Internacional. Tornou-se, mais tarde, dirigente do PSR, seção brasileira da IV Internacional e assumiu a seguir um papel de destaque na Esquerda Democrática e na fundação do PSB. Participou ainda da fundação do PT.
JOÃO DA COSTA PIMENTA - militante anarquista e, posteriormente, comunista e trotskista. Presidiu o III Congresso Operário Brasileiro e o comitê que dirigiu a Greve Geral de 1917 e participou da organização da Insurreição Anarquista de 1918; participou da fundação do PCB, com Astrojildo Pereira, em 1922, foi o primeiro candidato comunista ao Congresso Nacional pelo BOC (Bloco Operário e Camponês), em 1927, rompeu com o PCB em 1928 por sua orientação stalinista e fundou, com Mário Pedrosa, a Liga Comunista Internacionalista (LCI) e, ao sair da prisão da ditadura varguista, fundou o PSB com o grupo de trotskistas remanescentes, liderado por Pedrosa.