O REFORMISMO PETISTA E A ESQUERDA

A eleição para a prefeitura de São Paulo (e a entrada do Serra na disputa) acabou me levando a refletir um pouco sobre a institucionalização do Partido dos Trabalhadores (PT) e à ausência de uma verdadeira opção de esquerda no leque partidário.

Quando o PT surgiu nos anos 80, havia o discurso de que o partido seria uma opção, pela via eleitoral, para chegarmos ao socialismo, a partir da organização da classe trabalhadora. Desde a sua fundação, no entanto, o partido foi integrado por trabalhadores organizados, setores da intelectualidade e correntes católicas, principalmente as ligadas às CEB’s (Comunidades Eclesiais de Base) e à Teologia da Libertação. Essa colcha ideológica refletia-se internamente na existência de inúmeras tendências.

O partido se apresentava como alternativa ao PCB e ao PC do B, aglutinando setores, notoriamente urbanos, dispostos a enfrentar disputas eleitorais.

Seguindo essa estratégia foi se firmando no plano eleitoral, primeiro com cargos proporcionais (vereadores, deputados) e depois majoritários (prefeitos, governadores, senadores e presidente).

Foi a partir da consolidação eleitoral que o partido, a meu ver, deixou de ser uma alternativa autêntica de esquerda para aderir, de maneira definitiva, à via reformista com todos os seus limites, sejam de ordem institucional, sejam em função de alianças num arco partidário nada orgânico como o nosso. Mesmo reconhecendo avanços, ainda que muito tímidos, em seus governos, creio que o PT deixou de ser uma alternativa para eleitores de esquerda, exceto quando lança algum quadro que ainda demonstra compromisso com o passado histórico do partido. Coisa cada vez mais rara, diga-se!

Hoje há um deserto ideológico na esquerda partidária. O PSOL, surgido a partir de dissidentes petistas e que tenta se firmar eleitoralmente é muito sectário, além de não apresentar bandeiras novas que representem, de fato, avanços. Fica assim uma sensação de orfandade para aquela fatia do eleitorado mais à esquerda no arco ideológico.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 05/03/2012
Reeditado em 05/03/2012
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