A NOVA FEMINISTRA E A “QUESTÃO DO ABORTO”
Sérgio Pandolfo*
“Matar passarinho é crime inafiançável, que dirá matar criança!”.
Elba Ramalho, cantora.
Não, caros leitores, não há nenhum “cochilo” ortográfico no título deste artigo. Feministra é um neologismo que criamos para deixar explícito o fato de a nova ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci – recém-empossada em substituição a Iriny Lopes que, demitida, retorna à Câmara dos Deputados -, ter-se declarado feminista convicta. Até aí, a redizer o genial frasista Nelson Rodrigues, temos o óbvio ululante, afinal de contas ser feminista é pugnar ativamente em favor dos direitos e interesses das mulheres.
Ocorre que a nova titular ministerial parece ser, além de feminista roxa, dada ao exercício da facúndia (falar muito e soltamente), o que não é coisa deveras salutar a aspirantes a ou detentores de cargos públicos de relevo pela má interpretação que isso possa ensejar. Eleonora ao longo de sua vida e militância política também declarou-se, inúmeras vezes, favorável à descriminalização do aborto, revelando, inclusive, ter ela mesma se submetido duas vezes a intervenções desse tipo para eliminação de gravidez indesejada ou inoportuna, uma delas em momento inóspito (no contexto da luta armada contra o regime militar vigente, durante o qual chegou a dividir cela prisional na “Torre das Donzelas” com a atual presidente) e, gravame sobreajuntado, decisão assumida por deliberação cupular de sua célula guerrilheira, o Partido Operário Comunista. Realizou, com intreresse e aproveitamento, “curso de aborto” na Colômbia. À pergunta de uma jornalista, se era pessoalmente favorável ao aborto, a novel feministra aduziu: “A minha posição pessoal sobre o aborto está em todos os jornais, em todas as entrevistas que eu dei”. E rematou: “Eu não seria eu se não reafirmasse”
Como era de se esperar, as declarações pregressas da novel titular do Ministério das Mulheres eriçou os ânimos e fez com que contra ela se assestassem as baterias de todos os segmentos contrários à descriminação do aborto, tais as bancadas evangélicas do Congresso e eminentes dignitários da Igreja Católica, dentre os quais o presidente da Regional Sul da CNBB que assim se pronunciou: “É uma pessoa infeliz, mal-amada e irresponsável” e um saliente parlamentar da base aliada, em virulento manifesto de incitamento pespegado em website de relacionamento, conclamando a que a bancada evangélica se unisse “para combater a abortista que nomearam ministra”. Cremos não ser esse o caminho mais ajuizado e exitoso para o diálogo.
No discurso de entronização de sua feministra a presidente, que na campanha eleitoral de 2010 teve que enfrentar verdadeiro tsunami das alas contrárias à despenalização do aborto, tratou de aveludar as palavras com que enquadrou publicamente a auxiliar entrante de modo a apaziguar, pelo menos temporariamente, as verberantes vozes dissonantes: “Tenho certeza que meu governo ganha hoje uma lutadora incansável e inquebrantável pelos direitos das mulheres. Uma feminista que respeitará seus ideais, mas que vai atuar segundo as diretrizes do governo em todos os temas sobre os quais terá atribuição”. Em sua alocução retributiva Menucutti fez questão de destacar: “Minha vida não foi só na cadeia”. Como, de fato, dias depois foi discutir aborto na ONU.
Daqui mesmo desta midiática tribuna temos deixado bem clara nossa posição com respeito do tema. A despenalização do crime de aborto não deve ser considerada à luz da exegese religiosa ou ideológica, muito menos da desvalida justificativa de convicções pessoais. Aborto é crime porque é assassinato! Frio, hediondo, perverso, covarde de ser inocente e inerme, que tem direito à vida assegurado pelas leis vigentes do País por se tratar de ser humano (só muda o tamanho), reconhecido como tal desde suas mais primevas fases: ovo, embrião, feto. Essa a razão óbvia e bastante.
Foto: a nova feministra assina o ato de posse assistida pela presidente Dilma
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
sergio.serpan@gmail.com - serpan@amazon.com.br www.sergiopandolfo.com
“Matar passarinho é crime inafiançável, que dirá matar criança!”.
Elba Ramalho, cantora.
Não, caros leitores, não há nenhum “cochilo” ortográfico no título deste artigo. Feministra é um neologismo que criamos para deixar explícito o fato de a nova ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci – recém-empossada em substituição a Iriny Lopes que, demitida, retorna à Câmara dos Deputados -, ter-se declarado feminista convicta. Até aí, a redizer o genial frasista Nelson Rodrigues, temos o óbvio ululante, afinal de contas ser feminista é pugnar ativamente em favor dos direitos e interesses das mulheres.
Ocorre que a nova titular ministerial parece ser, além de feminista roxa, dada ao exercício da facúndia (falar muito e soltamente), o que não é coisa deveras salutar a aspirantes a ou detentores de cargos públicos de relevo pela má interpretação que isso possa ensejar. Eleonora ao longo de sua vida e militância política também declarou-se, inúmeras vezes, favorável à descriminalização do aborto, revelando, inclusive, ter ela mesma se submetido duas vezes a intervenções desse tipo para eliminação de gravidez indesejada ou inoportuna, uma delas em momento inóspito (no contexto da luta armada contra o regime militar vigente, durante o qual chegou a dividir cela prisional na “Torre das Donzelas” com a atual presidente) e, gravame sobreajuntado, decisão assumida por deliberação cupular de sua célula guerrilheira, o Partido Operário Comunista. Realizou, com intreresse e aproveitamento, “curso de aborto” na Colômbia. À pergunta de uma jornalista, se era pessoalmente favorável ao aborto, a novel feministra aduziu: “A minha posição pessoal sobre o aborto está em todos os jornais, em todas as entrevistas que eu dei”. E rematou: “Eu não seria eu se não reafirmasse”
Como era de se esperar, as declarações pregressas da novel titular do Ministério das Mulheres eriçou os ânimos e fez com que contra ela se assestassem as baterias de todos os segmentos contrários à descriminação do aborto, tais as bancadas evangélicas do Congresso e eminentes dignitários da Igreja Católica, dentre os quais o presidente da Regional Sul da CNBB que assim se pronunciou: “É uma pessoa infeliz, mal-amada e irresponsável” e um saliente parlamentar da base aliada, em virulento manifesto de incitamento pespegado em website de relacionamento, conclamando a que a bancada evangélica se unisse “para combater a abortista que nomearam ministra”. Cremos não ser esse o caminho mais ajuizado e exitoso para o diálogo.
No discurso de entronização de sua feministra a presidente, que na campanha eleitoral de 2010 teve que enfrentar verdadeiro tsunami das alas contrárias à despenalização do aborto, tratou de aveludar as palavras com que enquadrou publicamente a auxiliar entrante de modo a apaziguar, pelo menos temporariamente, as verberantes vozes dissonantes: “Tenho certeza que meu governo ganha hoje uma lutadora incansável e inquebrantável pelos direitos das mulheres. Uma feminista que respeitará seus ideais, mas que vai atuar segundo as diretrizes do governo em todos os temas sobre os quais terá atribuição”. Em sua alocução retributiva Menucutti fez questão de destacar: “Minha vida não foi só na cadeia”. Como, de fato, dias depois foi discutir aborto na ONU.
Daqui mesmo desta midiática tribuna temos deixado bem clara nossa posição com respeito do tema. A despenalização do crime de aborto não deve ser considerada à luz da exegese religiosa ou ideológica, muito menos da desvalida justificativa de convicções pessoais. Aborto é crime porque é assassinato! Frio, hediondo, perverso, covarde de ser inocente e inerme, que tem direito à vida assegurado pelas leis vigentes do País por se tratar de ser humano (só muda o tamanho), reconhecido como tal desde suas mais primevas fases: ovo, embrião, feto. Essa a razão óbvia e bastante.
Foto: a nova feministra assina o ato de posse assistida pela presidente Dilma
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
sergio.serpan@gmail.com - serpan@amazon.com.br www.sergiopandolfo.com