Judiciário de Salto alto
JUDICIÁRIO DE SALTO ALTO
Antônio Mesquita Galvão
Tem vezes que a gente é obrigado a transcrever textos de outros jornalistas, dada a extrema propriedade do escrito. É o caso de uma matéria intitulada “Que país é esse?” do jornalista paulistano Wálter Fanganiello Maierovitch. A crítica é contra o Judiciário e a Polícia Militar.
“Ontem foi concluída a reintegração na posse, determinada por ordem judicial da 6ª Vara de São José dos Campos, no chamado bairro Pinheirinho, com 1,3 milhão de metros quadrados de área ocupada por cerca 6 mil moradores desde 2004. A rein-tegração se deu em favor da massa falida da Selecta Comércio e Indústria S/A, uma holding administrada, até a quebra em 2004, pelo megaespeculador Naji Na-has acusado de quase quebrar a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Preso preven-tivamente se beneficiou da liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes em favor do banqueiro Daniel Dantas. E também da decisão, ainda não definitiva, do STJ que anulou a Operação Satiagraha.
Com a reintegração de posse concluída, desencadeou-se uma operação militar da tropa de choque da Polícia Militar de São Paulo desalojando cerca de 1.500 famí-lias. Como se nota, não houve tempo oportuno para ser apreciado o pedido de sus-pensão da reintegração. Em São Paulo, a decisão foi mantida e o ministro presiden-te do STJ entendeu não ser da Justiça federal a competência para suspender a re-integração. Essa decisão de Ari Pargendler foi dada liminarmente, quando a Polícia Militar, truculenta como todas, desalojava, com bombas, balas de borrachas e cães, os pobres moradores do Pinheirinho.
Juntamente com a ação da Polícia Militar, máquinas cuidaram da derrubada de ca-sas de alvenaria e de madeira que abrigaram os antigos moradores e residentes há mais de 8 anos na área. Num grotesco espetáculo mostrado pelas televisões, a juíza responsável pela decisão de reintegração compareceu ao Pinheirinho para deliciar-se com o cumprimento do seu obscuro mandado judicial.
Agora a área esta pronta para ser vendida e a sobra vai para o bolso dos sócios da Selecta, ou seja, de Naji Nahas. O prefeito de São José dos Campos, cuja insensibi-lidade chegou a ponto de não se preocupar em alojar as famílias tiradas violenta-mente do Pinheirinho, vai ter um bom caixa para promover o populismo. Enquanto isso, com o ritmo de ‘lesma reumática’, o governador Geraldo Alckmin afirma que cuidará de verbas para a locação de casas aos expulsos do Pinheirinho, pois não existem casas populares disponíveis”.
Com tanta insensibilidade, repito o refrão cantado pela banda Legião Urbana: “Que país é esse?”
Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral