A história paralela de Luiz Gonzaga e Seu Granja

SEU GRANJA

Este ano é o do centenário de Luiz Gonzaga, o da sanfona. Este texto é uma homenagem a Antonio Ribeiro Granja comunista empedernido até hoje, cheio de histórias interessantíssimas, conterrâneo e contemporâneo do saudoso Lula (não confundam, é o da sanfona)

Oito meses depois de Luiz Gonzaga, nas encostas da serra do Araripe, na nova cidade de Exu, corruptela de inxú, tipo de abelha comum na região, nasce Antonio Ribeiro Granja, filho de negro com branca, já simbolizando o enfrentamento do preconceito e da intolerância da época.

A voz do povo logo trocou inxú por Exu. Exu nos cultos afro-brasileiros é figura de status entre os orixás. Sua função mítica é a de mensageiro, e suas cores o preto e o vermelho.

O poder de comunicar e ligar foi traduzido mitologicamente no fato de Exu habitar as encruzilhadas, passagens, os diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e rotas, e ser o senhor das porteiras, portas entradas e saídas.

Pois quis o destino que Exu nos desse dois dos maiores mensageiros da esperança dos sertanejos e do povo pobre e sofrido em geral, um em suas canções e o outro no seu trabalho, quase sempre clandestino de levar à classe operária a mensagem, de dias melhores, em que o respeito à cidadania e a igualdade de oportunidades acabariam por florescer no Brasil.

O vermelho e negro, O negro e o vermelho.

Assum Preto e Marx. Stalin e o vermelho do sol implícito em Asa Branca.

Enquanto Luiz aprendia sua arte com Januário, aprendendo as escalas sonoras da sanfona e desenvolvia sua sensibilidade para traduzir o sofrimento no sertão nas teclas da “oito baixos”, Antônio era apresentado às escalas sociais das relações de trabalho.

A primeira era a escravidão, abolida no papel mas persistente na vida dos miseráveis e ex-escravos.

A segunda a dos trabalhadores rurais que prestavam serviço ao dono da fazenda em troca de um pedaço de terra para produzir para si e sua família.

Os profissionais, artífices como celeiros, carpinteiros etc, compunham o extrato seguinte da sociedade, e havia ainda o dos jagunços, quase sempre acoitados pelo dono da terra, em troca de proteção.

Assim como no meio de milhares de sanfoneiros que passam a vida a puxar o fole sem, vivendo da mão para a boca, sem esperança de dias melhores, surgiu Luiz Gonzaga, para levar as histórias tristes ou alegres do povo sofrido do sertão, entre milhões de nordestinos fortes sim, como dizia Euclides da Cunha, mas sem a chama do inconformismo, nasceu Antonio Ribeiro Granja, iluminado pela consciência das injustiças sociais que, infelizmente, ainda campeiam no nordeste.

Luiz Gonzaga é a trilha sonora do nordeste espoliado, Antonio Ribeiro Granja é o exemplo de força e coragem na luta pelas conquistas democráticas deste país. Ambos mensageiros, ambos senhores de portas, porteiras e estradas, que viram fechadas pela cupidez, ganância e desumanidade da elite brasileira e seus “podre poderes”.

laurokoehler
Enviado por laurokoehler em 11/01/2012
Reeditado em 11/01/2012
Código do texto: T3435725