UM ALTRUÍSTA EM XINGUARA?
                       Sérgio Martins Pandolfo*
 
“Depois de procelosa tempestade...
traz a manhã serena claridade... “.
               Camões, Os Lusíadas, IV-1
   
       Mais de dez dias passados do plebiscito travado para decidir sobre a proposta de tripartição do Pará, em que maioria exuberante se pronunciou pela manutenção do Estado em sua inteireza territorial, ainda nos surpreendemos com notícias de inconformação por parte do segmento divisionista, que se recusa a aceitar o veredicto das urnas, haurido em processo eleitoral límpido, tranquilo, irretorquível de consulta direta à população interessada.

      Da leitura das folhas da semana finda chamou-nos a atenção principalmente duas notas: “Ontem à noite (11/12/11), a Prefeitura de Santarém anunciou luto oficial para hoje.. .A prefeita disse que outras cidades em que a maior parte dos votos foi a favor da criação do Tapajós e do Carajás também decretarão luto”. Aditivamente, o presidente da Frente Parlamentar Pró-Tapajós, em postura ostensivamente revanchista, disse que irá apresentar projeto de mudança da capital paraense para uma região mais central do Estado (leia-se: Santarém). Ao criticar a decisão de unificar as campanhas apontaram o marqueteiro Duda Mendonça como principal culpado pelo fracasso. A segunda, igualmente desoladora, pôs-nos a par de que para um jantar oferecido pelo governador Simão Jatene (15/12 p.p.), para o qual todos os parlamentares, de todos os partidos, foram convidados, as três principais lideranças das frentes separatistas não compareceram, nem sequer  justificaram suas ausências
       Forçoso é reconhecer que o. Governador do Estado manteve, durante todo o tempo que durou a campanha plebiscitária, postura de legítimo magistrado, somente se posicionando contrário ao retalhamento de nosso território após dura e injuriosamente atacado pelos secessionistas, ganhando então, muito justamente da Justiça Eleitoral, direito de defesa em peças oficiais da campanha pró-divisão. Finda a refrega, proclamados os resultados amplamente favoráveis à manutenção do Pará em sua grandeza, Jatene deu à mídia Nota Oficial explicitamente conciliatória e aglutinante, da qual destacamos especialmente o trecho: “O Pará continua junto e, juntos, vamos juntar as cabeças e os corações, juntar o amor que cada um de nós sente pelo outro e todos sentimos pela terra comum”.
      Ora, caríssimos leitores, o escrutínio eleitoral direto e secreto é o processo mais legítimo e reconhecido do regime que ora fruímos, solidamente implantado e consolidado no País, quase um ex-líbris da Democracia e por isso há que se respeitá-lo. Insurgir-se contra seus resultados é rebelar-se contra o regime. No caso da prefeitura de Santarém chama a atenção principalmente o fato de ser sua atual titular uma operadora da Lei, pois servidora de órgão aligado ao Poder Judiciário e os três cabeças das frentes separatistas membros do Poder Legislativo, segmento legiferante da Nação.
      Outro fato ligado à campanha plebiscitária que igualmente nos deixou pasmado foi que, aquando do festão de lançamento das Frentes Parlamentares pró-criação dos estados do Tapajós e de Carajás, no Hilton Belém (julho p.p.), em entrevista concedida à imprensa, o marqueteiro-mor da campanha anunciou em tom comovido, quase patético, que, tão logo ocorresse a secessão parauara ele iria construir, com recursos próprios, um parque de vaquejada em Xinguara, para oferecer esse tipo de lazer à população da cidade que o não possuía. Conquanto achássemos que muito melhor seria usar tais recursos na construção de uma escola ou de um hospital, p. ex., não deixamos de nos impressionar com o altruísmo demonstrado pelo marqueteiro.        
     Agora vimos num website que Duda Mendonça está bancando a construção de uma pista de vaquejada em Xinguara. Ele diz não ser praticante de vaquejadas, mas gostar de assisti-las, pois um de seus filhos é adepto da prática e disputa torneios em S. Paulo. Aproveitará os certames para leiloar animais de sua fazenda e cobrar ingresso para os espetáculos, que atrairão gente de toda a região. Moral da história: não se trata exatamente de altruísmo, mas de “autoísmo”.

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Nota: Na foto acima cena de vaquejada em Xinguara. A vaquejada, como as touradas e as brigas de galo  são modalidades "esportivas" hoje condenadas no mundo todo (inclusive na Espanha, terra das touradas) pela crueldade e covardia que são impingidas aos animais (veja-se a perversidade da cena acima). Proibidas na imensa maioria dos países, que falta para o nosso pernil verde e amarelo também condená-las?  
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*Médico e escritor. SOBRAMES/ABRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 23/12/2011
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