A Política e o Padre

Talvez nunca tenha havido profissão mais turbulenta, mais inquieta, um ofício mais polêmico do que o do político. Este político, não é, contudo, um grande cientista. Nem inventor. Nem sempre pode submeter-se às verdades éticas. Entretanto, antes, surgiu outra figura social no cenário político; refiro-me aos sacerdotes. Mas também, junto desses, pretensos sábios decidiram o que é a política e o sacerdócio, mas como nada sabiam sobre o que falavam, era muito justo que tivessem opiniões diferentes.

Na Grécia, berço da democracia e de certos erros que se cultivam ainda hoje, onde as grandezas e as baixezas do espírito humano tanto se desenvolveram, raciocinava-se sobre a política e o sacerdócio como hoje o faz nosso senso comum. Para os gregos, a política e o sacerdócio são como coisas antagônicas e diferentes, sem se encontrarem, sem interesses comuns e relações.

Quanto aos primeiros padres da Igreja Católica, alguns chamados de santos, acreditaram que a política fosse tão importante para os homens quanto sua religião, que nascia sob violentos protestos do Império Romano. Santo Agostinho chegou a construir uma monumental obra intitulada “Cidade de Deus”, para falar, não só do reino que está por vir e é eterno, mas também do reino que se faz aqui e deve obedecer às mesmas leis da cidade celeste.

Faço essa introdução porque acabo de ler, do jornal CORREIO DE UBERLÂNDIA, estas palavras sobre o padre e a política: "À conduta de um padre implica ser servidor de Cristo em horário integral (!) por isso discordo de um padre candidato”. Ah! Senhor Gustavo Hoffay, autor desse comentário, onde foi aprender semelhante parvonice? O que são então a política e os políticos? Demônios? O que são então os padres e os pastores? Anjos? Esse argumento do senhor Gustavo Hoffay rebentou enormes comentários até mesmo entre as pessoas inteligentes, quando proferido por Mani, fundador de uma seita hermética chamada maniqueísmo, que pregava a separação entre o bem e o mal de forma tão dicotômica como se a realidade não fosse o que ela o é: imbricada, joio no meio de trigo, preto transvestido de branco e branco encardido pela sujeira alheia.

A omissão dos religiosos à luta política é clássica; tem seus traços singulares na Idade Média, para onde o Senhor Hoffay nos quer levar. Ora! É notável que nenhum bom político tenha falado mal de padres na política, só os maus políticos o fazem. São os maus padres que desprezam a política. Sobre o sacerdócio, ao que o vulgo chama de profissão do altar, não entrarei em maiores detalhes, só rebato mais uma tolice de milorde Hoffay, que diz ser tentação o poder do político. É ele quem diz: “A tentação é particularmente forte no poder político”. Ora, milorde Hoffay, não se fala daquilo que não se entende. Imagine se a tentação está somente na política? Imagine se a salvação está somente na igreja? Precisamos humanizar nossas cidades sem coração. Precisamos cuidar do futuro. Agir com mais bondade em nossas relações. Rezando, somente, não conseguiremos ser cristãos.

 

Durval Baranowske, é padre e escritor do livro “O QUE DIZEM OS SANTOS” - Editora A Partilha, 2010.

 

Bara
Enviado por Bara em 15/12/2011
Reeditado em 26/01/2012
Código do texto: T3390212