Uma Previsão Desconcertante
Normalmente em minhas crônicas uso de bom senso para tratar dos assuntos que dizem respeito a nossa sociedade. No entanto, fica difícil, em certas situações, conter o descontentamento com a forma de o país tratar certas questões cruciais para o bem estar geral. Todos sabem que as formas de se obter energia estão diretamente ligadas a uma interação com o meio ambiente. Se não forem feitos os esforços necessários para uma manipulação sustentável dos recursos naturais, vai ficar cada vez mais inviável uma vida digna para os nossos descendentes. Os países estão se industrializando cada vez mais. É mais do que justo que todos queiram crescer economicamente. O que precisa, a meu ver, é uma ação em conjunto que vise o todo. Estou começando desse jeito esta crônica porque estamos prestes a entrar numa fase negativa da produção de gás no Brasil. Uma empresa tão renomada quanto a Petrobrás jamais poderia deixar que essa bola de neve tomasse tal proporção. As previsões são pessimistas no que tange às reservas nacionais deste precioso combustível.
Não houve nenhuma espécie de planejamento para evitar que isso acontecesse e agora o presidente da Petrobrás vem anunciar que as reservas do país só vão até o ano de 2016. A princípio, pensa-se que o abalo será doloroso e que o país irá sofrer com isto. Não deixa de fazer sentido. No entanto, se analisarmos friamente a questão podemos concluir que há manipulação político interesseira nessa história. E porque afirmo isto? Somos o país do petróleo. A produção de gás desvia para outros seguimentos a concentração que poderia estar voltada exclusivamente para a produção mais rentável economicamente. Ninguém me convence de que entre Brasil e Bolívia reina a paz absoluta na negociação dos preços do gás. Estou sentindo cheiro de um novo boicote. Não tem sido nada interessante para o nosso maior fornecedor de gás continuar enviando para nós o precioso combustível. Parece que ter ou não ter gás em abundância, suficiente para todas as demandas e a preços convidativos não interessa ao Senhor Sergio Gabriele; ele foi simplesmente frio e indiferente ao transmitir à imprensa essa triste notícia.
Há um movimento generalizado em torno da distribuição dos recursos que serão gerados com a extração das camadas do pré sal. Esta disputa acirrada tem sido o assunto do momento em todas as mídias cariocas. É um assunto que vai render ainda muitas desavenças e penso que não será nada fácil encontrar uma solução que agrade à maioria. Mesmo que haja divisão equitativa isto não vai servir para acalmar os ânimos dos insatisfeitos. Embora natural do Rio de Janeiro, reconheço que, sendo um bem nacional, não há porque não beneficiar locais que realmente necessitem de recursos; afinal somos todos brasileiros e se fomos contemplados pela natureza que nos deu o pré-sal por que não compartilhar o que é de todos? Precisamos entender que o crescimento deve visar à nação como um todo. Sei que vou contrariar muitos com minha posição, mas o que posso fazer? Considero-me um patriota e penso no bem estar do cidadão do meu país.
Não é de hoje que o uso do petróleo como principal fonte de energia tem gerado o mesmo tanto de desenvolvimento econômico como de ganância materialista. Somos um país tropical por natureza. Nossos recursos naturais como vento e sol são capazes de suprir-nos de uma quantidade de energia muito próxima da demanda nacional. Não é exagero afirmar que o petróleo está com os seus dias contados. O carvão de péssima qualidade existente por aqui pode vir a ser o vilão da degradação ambiental se for utilizado para uma produção nacional de gás. Todas as fontes tradicionais são agentes poluidores e parece serem elas a ocuparem as agendas dos responsáveis por esta decisão crucial. Não gostaria de desanimar, mas pelo que tenho visto há algumas dezenas de anos, abrir mão de recursos altamente rentáveis, mesmo que mortalmente poluidores, não faz parte das intenções dos nossos governantes. Haja vista o que fizeram com os milhares de vias férreas que foram desativados e a produção alarmante de automóveis que não cessa nem diminui a despeito do perigo que vem representando ao conforto das grandes cidades; já está impraticável circular livremente em certas regiões do país.
Temos uma natureza privilegiada, capaz de fornecer suas benesses a todas as partes do globo sem que seja necessário poluir as cidades e encurtar a vida dos cidadãos. As fontes geotérmicas são abundantes; sua energia é barata e facilmente transportável. A energia eólica, utilizada em alta escala em muitos países, já mais do que provou que é possível suprir sem poluir. Painéis solares já fazem parte da paisagem de incontáveis localidades. Em minha opinião, se for feito um esforço para colocar na frente do interesse financeiro o bem estar da nação, o Brasil tem tudo para sair na frente na utilização de energia sustentável. A questão do gás é uma questão de bom senso. A Petrobrás, na condição de oitava maior empresa do mundo, precisa dar exemplo ao mundo. Não custa nada. Somos riquíssimos em recursos naturais. Já temos dado demonstrações do nosso potencial com os biocombustíveis. O importante agora é não permitir a certos seguimentos do governo, em nome da ganância e do egoísmo, proliferar ideias individualistas e interesseiras.
Vem pela frente uma escassez de gás; tudo porque as vantagens da produção de petróleo superam incomensuravelmente as de gás. E, para piorar a situação, todos os seguimentos da produção de gás, a indústria de um modo geral e a ponta mais frágil da corda, onde se encontra o consumidor, serão as mais prejudicadas, como sempre acontece. É esperar para ver. Tomara que não precisemos rachar um pouco de lenha e empretecer nossas panelas. Seria o cúmulo da irresponsabilidade.