QUEM AVISA AMIGO É
Sérgio Martins Pandolfo*
Este velho brocardo popular nos adverte que conselho ou aviso prévio é próprio de amigos, conquanto nem sempre seguido, mas não custa alertar para o que deverá sair de razões e/ou justificativas visando a convencer os eleitores a votar pela tripartição do Pará, a partir de 11de novembro próximo, quando terá início a propaganda eleitoral pelo rádio e TV.
Não mereceu o devido destaque que a nosso ver deveria ter sido dado às declarações da ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora pelo Acre Marina Silva em pronunciamento recente sobre a pretensão da criação do Estado do Tapajós, mas que valem também, e até mais, para o do Carajás. Marina disse “conhecer bem a realidade do Baixo Amazonas” e ponderou: “A população quer um novo Estado para que cheguem recursos. Mas o problema é que os recursos serão canalizados também para as câmaras legislativas, para as assembleias, para os governos”.
A ex-senadora acriana, que é do ramo (política veterana que conhece à farta os meandros da política e da politicalha e até sofreu na pele os efeitos deletérios dessa abominável entretela eleitoral) e considerada – pelo menos até aqui! – ficha limpíssima e de ética inatacável (daí porque julgamos deva ser levada em boa conta pelos plebiscitantes, assim do Sim como do Não), falou o que todo o mundo sabe, mas nem todos queriam ouvir, isto é: a criação do Estado de Carajás e do Tocantins iria redundar num sorvedouro das verbas federais e de recursos arrecadados pelos próprios pretensos noviestados para movimentar duas máquinas administrativas inchadas, rotundas, gastadoras e certamente corruptas como soem ser a maioria dos governos de hoje, dolorosamente, em nosso País.
Outro ponto que precisa ser devidamente aclarado aos plebiscitantes é o que se tenta passar ao povo através de entrevistas “esclarecedoras”, pretendendo provar que com a divisão em três do território parauara cada um deles vai lucrar porque o Fundo de Participação dos Estados – FPE será a partir de então conferido equitativamente a cada uma das unidades resultantes, baseado em “estudos” realizados por um economista contratado pela trupe dudiana e que, portanto, deverá ser então três vezes maior que o que ora nos é repassado. Mas não dizem que as despesas que adviriam de imediato para suprir os neoestados da infraestrutura administrativo-organizacional suplantam, de muito, os valores advindos do FPE, consoante estudos - sérios - realizados pelo IPEA e agora também pela UFPA e IDESP, bem como minguariam os recursos próprios auferidos por cada um isoladamente.
Advirta-se mais que as neomáquinas governamentais além de edifícios que terão de ser erguidos a fim de abrigar os órgãos de governo terão que contar também com número incalculável de funcionários contratados – os conhecidos temporários – para tocar o aparelho administrativo dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), posto que durante vários anos, por óbvias razões, não poderá haver concurso para preenchimento das vagas, contratados esses que serão constituídos por parentes, “afilhados”, apaniguados, capos e donos de “currais” eleitorais e gente do mais elevado QI (quem indica). Saúde e Educação p. ex., como tem acontecido até aqui em extensão nacional, serão as últimas áreas sociais a serem aquinhoadas com verbas e disposição política para implantá-las, de modo que a formação de profissionais de nível superior para essas duas áreas terá que ser feita aqui, no Pará-Mirim em que pensam transformar nosso atual torrão parauara. Doentes acometidos de afecções mais graves, que demandem tratamento clínico/cirúrgico de alta complexidade terão que vir buscar recursos aqui, pois que lá não haverá disponibilidades, onerando, por muitos anos, o orçamento da já então combalida arrecadação estadual, algo muito parecido, semelhante ou até pior – pois em dose dupla - ao que ocorreu, por décadas, em relação ao Estado do Amapá, desmembrado do Pará em 1943.
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
sergio.serpan@gmail.com - serpanamazon.com.br
www.sergiopandolfo.com
Sérgio Martins Pandolfo*
Este velho brocardo popular nos adverte que conselho ou aviso prévio é próprio de amigos, conquanto nem sempre seguido, mas não custa alertar para o que deverá sair de razões e/ou justificativas visando a convencer os eleitores a votar pela tripartição do Pará, a partir de 11de novembro próximo, quando terá início a propaganda eleitoral pelo rádio e TV.
Não mereceu o devido destaque que a nosso ver deveria ter sido dado às declarações da ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora pelo Acre Marina Silva em pronunciamento recente sobre a pretensão da criação do Estado do Tapajós, mas que valem também, e até mais, para o do Carajás. Marina disse “conhecer bem a realidade do Baixo Amazonas” e ponderou: “A população quer um novo Estado para que cheguem recursos. Mas o problema é que os recursos serão canalizados também para as câmaras legislativas, para as assembleias, para os governos”.
A ex-senadora acriana, que é do ramo (política veterana que conhece à farta os meandros da política e da politicalha e até sofreu na pele os efeitos deletérios dessa abominável entretela eleitoral) e considerada – pelo menos até aqui! – ficha limpíssima e de ética inatacável (daí porque julgamos deva ser levada em boa conta pelos plebiscitantes, assim do Sim como do Não), falou o que todo o mundo sabe, mas nem todos queriam ouvir, isto é: a criação do Estado de Carajás e do Tocantins iria redundar num sorvedouro das verbas federais e de recursos arrecadados pelos próprios pretensos noviestados para movimentar duas máquinas administrativas inchadas, rotundas, gastadoras e certamente corruptas como soem ser a maioria dos governos de hoje, dolorosamente, em nosso País.
Outro ponto que precisa ser devidamente aclarado aos plebiscitantes é o que se tenta passar ao povo através de entrevistas “esclarecedoras”, pretendendo provar que com a divisão em três do território parauara cada um deles vai lucrar porque o Fundo de Participação dos Estados – FPE será a partir de então conferido equitativamente a cada uma das unidades resultantes, baseado em “estudos” realizados por um economista contratado pela trupe dudiana e que, portanto, deverá ser então três vezes maior que o que ora nos é repassado. Mas não dizem que as despesas que adviriam de imediato para suprir os neoestados da infraestrutura administrativo-organizacional suplantam, de muito, os valores advindos do FPE, consoante estudos - sérios - realizados pelo IPEA e agora também pela UFPA e IDESP, bem como minguariam os recursos próprios auferidos por cada um isoladamente.
Advirta-se mais que as neomáquinas governamentais além de edifícios que terão de ser erguidos a fim de abrigar os órgãos de governo terão que contar também com número incalculável de funcionários contratados – os conhecidos temporários – para tocar o aparelho administrativo dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), posto que durante vários anos, por óbvias razões, não poderá haver concurso para preenchimento das vagas, contratados esses que serão constituídos por parentes, “afilhados”, apaniguados, capos e donos de “currais” eleitorais e gente do mais elevado QI (quem indica). Saúde e Educação p. ex., como tem acontecido até aqui em extensão nacional, serão as últimas áreas sociais a serem aquinhoadas com verbas e disposição política para implantá-las, de modo que a formação de profissionais de nível superior para essas duas áreas terá que ser feita aqui, no Pará-Mirim em que pensam transformar nosso atual torrão parauara. Doentes acometidos de afecções mais graves, que demandem tratamento clínico/cirúrgico de alta complexidade terão que vir buscar recursos aqui, pois que lá não haverá disponibilidades, onerando, por muitos anos, o orçamento da já então combalida arrecadação estadual, algo muito parecido, semelhante ou até pior – pois em dose dupla - ao que ocorreu, por décadas, em relação ao Estado do Amapá, desmembrado do Pará em 1943.
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
sergio.serpan@gmail.com - serpanamazon.com.br
www.sergiopandolfo.com