Vamos Votar Neles?
No Brasil o complexo eleitoral capital-mídia assume quase a mesma importância que um complexo industrial. No nosso país, como nos USA, independente de o voto ser facultativo lá e obrigatório aqui, o candidato é eleito a partir do dinheiro aplicado/vinculado à sua campanha. Gastos como o tempo na TV ou no rádio, além do oferecido pelo Estado (que é dinheiro público), ou espaço em outros tipos de mídia, terão sempre o apoio da iniciativa privada. Despesas com faixas, cartazes, panfletos, locação de salas, lojas, correspondências aos eleitores, churrascos de confraternização, eventos esportivos ou shows musicais, palanques para discursos no interior ou localidades na periferia – tudo isso será também objeto de financiamentos. Do mesmo modo a cargo de empresas ou de seus donos, interessados na eleição de determinada pessoa.
Por trás do nome do futuro político, ficam apenas as promessas (ou mentiras) destinadas a não serem cumpridas. A isso costumamos chamar de democracia.
Apesar de tudo, continuo achando que o voto facultativo atende mais aos interesses do eleitor que o obrigatório. Porque provocará a alteração, para melhor, do nível da campanha. Na tentativa de motivar o eleitor a ir às urnas, o candidato deverá mentir menos ou se preocupar em cumprir alguma coisa do que tiver prometido. Sob pena de não ser eleito numa nova oportunidade.
Por outro lado, a alavancagem de dinheiro estará voltada não apenas para a eleição do candidato, mas para fazer com que o eleitor saia de casa para votar. Com isso será preciso que o postulante ao cargo político inspire confiança no eleitorado para que os empresários se decidam por apoiá-lo. Pois haverá agora a preocupação de que o investimento não tenha um retorno assegurado.
Com relação a uma possível despolitização das pessoas com a adoção do voto facultativo, também aí o povo sairá ganhando. Porque, com a necessária elevação do nível de conteúdo da campanha, para que o eleitor se sinta motivado a votar, as mensagens/informações veiculadas pela mídia ou quaisquer outros meios de comunicação deverão ser mais fundamentadas. Voltando-se o apelo com maior contundência para o setor técnico, para o empreendedorismo ou para os problemas que afetam mais diretamente a vida do cidadão, perdendo vigor os aspectos emocional, religioso, comportamental, etc.
O enriquecimento do discurso do candidato seria decisivo na politização de eleitor. Ou eles não teriam os nossos votos.