O PC do Bolso e o Partido do Trambique
Eu adoro recorrer à história para discernir sobre alguns assuntos. Muitos de meus críticos dizem que sou recursivo, reentrante e muitas vezes prolixo. Pouco importa; a história é quem me satisfaz de subsídios interessantes, porque além de explicar, muitas vezes consigo provar que a emenda é de fato muito pior do que o soneto. E vou muito mais além; é a história, quando escrita de forma séria, que nos mostra que muitos personagens saem da ignomínia para a incongruência, ou vice versa, ou ambos ao mesmo tempo.
Vou voltar aos meus idos escolares, quando ainda era um mero, humilde e simples militante estudantil nos tempos da velha escola secundarista, que no meu tempo e na minha cidade era conhecida como “normal”. Na minha escola eu fazia um curso rigoroso que levava o rótulo de “acadêmico” e tinha um ano a mais do que outros cursos. Eram tempos de ditadura militar no Brasil e minha diretora queria que os líderes estudantis fossem seguidores do regime. Quando me tornei diretor do Centro Cívico, logo recebi as primeiras influências do velho e surrado comunismo.
Conheci líderes políticos que foram exilados, pessoas que tentava me mostrar que os caminhos do socialismo era de fato aquilo que necessitávamos para podermos sair da opressão; ter direito a voz e voto; enfim, eles pensavam mesmo que o mundo fosse regido pelos ecos do comunismo soviético; que, aliás, muitos jovens sequer sabem o que foi a União Soviética e o Muro de Berlim, a maioria sabe que caiu, mas como foi construído e por qual motivo, isso é muito complexo até mesmo nas escolas de hoje.
Naquela época, ainda com menos de 18 anos, eu cheguei a contatar a Embaixada da Alemanha Oriental, Albânia, Cuba, enfim; eu estava certo de que os caminhos do mundo passavam primeiro pelo ideal comunista. Para minha sorte eu conheci a verdade sobre Cuba, Albânia, Alemanha Oriental, China e URSS. Para minha decepção eles eram piores de que nós e ainda passavam fome, frio e todo tipo de privação, inclusive a privação de democracia, de voz e de voto. Eram ditaduras piores do que a nossa e sabe-se Deus, como é que alguém do Brasil queria de fato transformar isso aqui, naquilo lá?
O grande responsável pela minha decepção comunista chama-se Fidel Castro; o cara que fala de liberdade dos cubanos e os prendem, torturam e matam. O socialismo de Fidel, que já foi alinhado com os de outros países, inclusive URSS, abate todo aquele que for contrário ao seu regime; e no final ainda estes vermes têm a coragem de chamar o regime político que eles praticam de democrático e popular!
Falar de comunismo e não citar o socialismo é um retrocesso histórico. Como uma sistema de idéias políticas, o comunismo é geralmente considerado como a etapa final do socialismo; um grupo amplo de filosofias econômicas e políticas que recorrem a várias oscilações políticas e intelectuais com origens nos trabalhos de teóricos da Revolução Industrial e da Revolução Francesa.
O comunismo pode-se dizer que é o contrário do capitalismo, oferecendo uma alternativa para os problemas da economia de mercado capitalista e do espólio daquilo que eles chamam de imperialismo e do nacionalismo absurdo. Karl Marx afirma que a única maneira de resolver esses problemas seria pela classe proletária, que, segundo ele próprio, são os principais produtores de riqueza na sociedade e são explorados pelos capitalistas de classe burguesa.
Os pensadores modernos, corroídos mentalmente, imaginavam o comunismo para substituir a burguesia, a fim de estabelecer uma sociedade livre, sem classes ou divisões raciais. As formas dominantes de comunismo, como leninismo, Maoísmo são baseadas no Marxismo, embora cada uma dessas formas tenha modificado as idéias originais, mas versões não-marxistas do comunismo também existem.
Em tese o que eles desejavam é que as divisões do mundo não existissem. Um presidente de uma grande empresa teria o mesmo poder de decisão de um operário desta empresa; ele também deveria ganhar algo praticamente igual ao mesmo operário; deveriam morar em locais análogos e ter uma vida equilibradamente igual. Apenas os grandes líderes podiam morar em palácios suntuosos e cheios de riquezas; o resto é o resto!
E assim se baseava o Partido Comunista do Brasil (PC do B), Partido Comunista Brasileiro (extinto PCB) e uns poucos partidos demagogos que enchem nossos ouvidos no horário político que sem mantêm até hoje. Gente que jamais teve qualquer oportunidade financeira e que de posse de um diploma universitário achado numa lata de lixo busca ingressar numa oportunidade de estar no poder para provar aquilo que nem eles próprios desejam viver.
É sempre bom lembrar que nem todos os exilados pela ditadura militar brasileira eram comunistas; eles foram rotulados como tal, mas eu próprio conheci uma dúzia de bons políticos que jamais concordaram com os ideais marxistas. Esta coisa de difundir ideais menos opressores para o povo em nada quer dizer que devemos dividir aquilo que construímos ao longo de uma vida, mas esta é outra história...
O Partido Comunista do Brasil, PC do B, foi fundado em 1922, baseado nas lições marxistas e leninistas; ele inicialmente foi uma seção brasileira da Internacional Socialista. Como braço da IC acredita-se que eles criam nos ideais do partido mãe. O pouco povo crente também imaginava que esta gente fosse um modelo de justiça social e que através deles uma semente de moral fosse plantada no Brasil, mas não é bem isso que nos conta a história; aquela história que se parece com um carro alegre, que vem riscando os trilhos, e muitas vezes se confunde com um trem cargueiro!
A turma comunista sofreu o pão que o diabo amassou desde a sua fundação até a retirada militar em 1984. Depois começaram a tentar angariar alguma coisa no cenário político e somente depois de Lula virar presidente foi que eles conseguiram de fato uma brechinha no Poder. Alguns poucos e raros sonhadores pensavam que os comunistas rotulados fossem finalmente plantar um ideal de igualdade social, mas como diz o velho e bom ditado: quem nunca comeu mel, quando come se lambuza!
No site do partido há esta citação: “A atuação no organismo partidário é a chave para a mobilização do povo em todo o lugar, visando à construção do projeto revolucionário. O Partido Comunista, além de ser o instrumento político e ideológico da transformação radical da sociedade, é também a forma organizada superior de atuação do proletariado na luta pelo poder político. Por isso, militar no PCdoB é fundamental. É a ação política consciente, coletiva e organizada para a construção de uma nova sociedade, digna, justa, socialista. Daí o nosso empenho: nenhum filiado fora de organismo partidário; nenhum filiado sem militância.”.
Os comunistas elegeram vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, senadores e finalmente tiveram uma indicação para um ministério de Estado. Esta indicação recente foi de Orlando Silva; e todos estes juntos será mesmo que promoveram uma transformação radical da sociedade? Será que esta gente que se rotula igualitária promoveu ações políticas conscientes, coletivas e organizadas para a criação de uma sociedade digna e justa?
Orlando Silva de Jesus Júnior que tem 40 anos, é de Salvador e foi Presidente da Une, assim como o Senador Lindberg Farias (RJ). O bom moço comunista foi acadêmico de direito, mas a política lhe seria mais rentável do que a carreira jurídica. Ele foi, acreditem; tesoureiro da Une e depois Presidente; assim como Obama, foi o primeiro negro a ocupar o cargo! Depois foi Secretário de Lula, mais uma vez Secretário nacional dos esportes, até alcançar o cargo de Ministro. Uma honraria na vida do esforçado comunista que sempre sonhou com um mundo mais justo; e onde as pessoas fossem tratadas de forma igual.
Em 2007 ele enfrentou o primeiro escândalo naquela onda de denúncias dos cartões corporativos, mas seu pai político era Lula e ele tirou de letra. Para fazer valer o rótulo de comunista, alegou inocência e devolveu o dinheiro aos cofres públicos, cerca de R$ 30 mil na época. Na cabeça do bom moço aquilo era suficiente para que o povão esquecesse tudo; e esqueceu, mas a imprensa não!
Com a Copa do Mundo no Brasil o PC do B sorriu e gargalhou; e tem mais: além da copa tem as olimpíadas e uma série de eventos que precedem os oficiais. Todo mundo sabe que com este tipo de festa rola a maior grana e onde rola muita grana, têm também aqueles que querem uma fatia e ao que se cogita, o PC do B queria a fatia inteira; fosse para dividir com o proletariado, fosse para embolsar tudo. De uma forma ou de outra tinha boi na linha e a coisa fedeu para o lado do ministro comunista; e alem dele tem mais gente na jogada. Que se prepare o Governador do DF, o outro baiano, Agnelo dos Santos Queiroz Filho.
A trama dos esportes sequer começou e ao que parece, o “Filho” antes de sair do Ministério dos Esportes deixou um legado para o “Júnior”. Eles só não combinaram que aquela história do “faço o que eu falo, mas não faça o que eu mando” poderia dar em “titica”. São os meninos baianos dos “esportes” que pretenderam levar “um a mais” em mais uma mamata do Governo, uma casa, que pelo visto, não tem pai, nem mãe, nem ninguém!
Agora nos resta saber se Dilma se comporta como Mãe ou como faxineira! É o outro capítulo desta novela mexicana que sempre se passa nos estúdios do Planalto há pelo menos 20 anos. Eu torço pela verdade, mesmo que o Filho e o Júnior saiam ilesos, porque isso, já estamos acostumados a ver!
“Os trabalhadores não têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes” Karl Marx.
Carlos Henrique Mascarenhas Pires é autor do Blog www.irregular.com.br