O VALOR DA LIBERDADE
Só sabe o quanto é bom um belo copo com água quem já sentiu sede. A liberdade de ir e vir quem a já teve privada. Assisti neste sábado no SESC o documentário; “Ditadura Reservada”, dirigido por Fabrício Porto que revela o que foi a ditadura militar especificamente em Joinville e região. Os depoimentos são emocionantes e revelam o quando se precisou lutar para que hoje, se tenha liberdade de expressão e muitos outros direitos assegurados constitucionalmente.
Das milhares de pessoas atingidas pelo regime militar de 64, muitas eram conformadas com a situação, mas havia algumas que se negavam a dar o braço a torcer. Seja lendo livros comunistas, severamente proibidos, ou mesmo proferindo determinadas ideias consideradas subversivas, ocorre que um grupo de cidadãos lutou contra o autoritarismo de 64 e teve a sorte de sobreviver para contar suas belas histórias.
Foi o caso do Sr. Edgard Shatzmann, que relata o que teve de passar, até mesmo ir preso, por ser contra o sistema. Sua esposa, a Sra. Lucia Shatzmann, uma mulher determinada e sempre ao lado do seu marido, conta no documentário de forma engraçada fatos que sem dúvida no momento em que ocorreram não geraram um riso sequer.
A tortura também foi mencionada no documentário, sem, no entanto receber tanto ênfase. O mais interessante nos relatos das pessoas, foi o medo sempre presente em suas vidas. Sem existir toda a facilidade de comunicação que se tem hoje em dia, naquela época estas pessoas precisavam se arriscar em reuniões clandestinas com grande risco de serem pegos. Mas isto não as impediu defender seus ideais.
Há quem diga que a ditadura militar de 64 trouxe avanços para o Brasil, sob o argumento de que os militares eram disciplinados e tinham a virtude de não serem corruptos. Interessante observação, mas que, no entanto não justifica o cerceamento das liberdades fundamentais ocorridas naquela época.
Ao final do documentário, a Sra. Lucia Shatzmann diz que a juventude de hoje está muito parada. De fato não se vê os estudantes lutarem com tanta garra como no passado. Será preciso um novo governo autoritário para que o povo mostre o seu verdadeiro potencial reivindicando os seus direitos como cidadãos? Que somente depois que as liberdades individuais sejam novamente violadas para a juventude ir às ruas? Não há necessidade, pois tais violações já ocorrem, mas de modo mais sutil. E que não seja preciso tornar-se mais evidentes para que os jovens lutem como outrora.