Contra a retórica elitista em demérito dos não-graduados – os chamados “semi-analfabetos”

Em palestra do Dr. Rodrigo Silva, ouvi que em certa reunião do Unisef, um conferencista advertiu que a educação não é saída para a violência e o crime, citando os brutais crimes nazistas de jovens alemães de refinada educação que torturaram, trespassaram, esquartejaram e mataram sem o menor drama de consciência a velhos, mulheres e crianças. Não recordo o nome do conferencista. Os, porém, detalhes são irrelevantes, bastando assistir filme sobre o holocausto para testemunhar essa verdade.

No escritório de um cliente, o anfitrião apresentou os presentes, entre eles, um professor de Português da Unisinos. Ao falar meu nome, ele censurou a “mania de estrangeirizar os nomes”. Eu poderia argumentar que Wilson se escreve com W, seja em alemão ou em inglês, e que grafar Vilson com V, como na pronúncia dos alemães, ou Uilson com U, como na dos ingleses, é torcer a grafia. Isto sem dizer que os únicos nomes não estrangeiros no Brasil são os indígenas, esquecendo, é claro, que os índios também vieram de outro continente. Preferi, explicar que é comum aos impérios impor sua língua, citando os impérios grego e romano, visto que facilmente se percebe a influência de suas línguas no inglês e alemão. Impressionado, o anfitrião indagou do idoso professor se era isso mesmo. Ele, porém, respondeu que história não era sua área, mas o português.

Que mico! E naquela época eu nem sabia que um dia cursaria história.

O que se traduz é que a educação só serve a quem tem habilidade para usá-la, o que depende da vontade da pessoa e sua disposição para usar a inteligência que nasce com ela. A maioria dos graduados brasileiros são “semi-analfabetos diplomados”, até porque a maioria sai da aula após o intervalo, dependendo depois de pontinhos para passar.

Isto sim é demérito. Entretanto, esses “especialistas incompetentes” tripudiam os que desmerecem chamando de “autodidatas”. Gloriam-se de seus títulos sem se tocar que a vanglória denuncia-lhes a incompetência, pois mostra que com tantas ferramentas não fazem nada.

Num país com a qualidade do ensino universitário classificada abaixo do 170º lugar é mico a retórica elitista que menospreza as qualidades do Lula e questiona o título Doutor Honoris Causa a ele concedido pelo Instituto de Ciência Política de Paris por ele não possuir nível universitário. É um brutal recalque dizer que ele não tem competência para ser presidente por ser “semi-analfabeto”. Trata-se sem de uma ofensa vil, seja a ele, cuja carreira mostrou muita competência, seja a maioria dos brasileiros, visto que as palestras motivacionais comumente são ilustradas com histórias de analfabetos e semi-analfabetos que construíram impérios que seus filhos e netos bem graduados levaram à falência. Um exemplo é a gigante Rossi, de São Leopoldo, fundada por um sapateiro de Caxias do Sul, Amadeo Rossi.

A educação formal não faz alguém melhor, apenas ensina como melhor utilizar o raciocínio, que serve tanto para o bem quanto para o mal, para a competência e incompetência, dependendo da educação moral da pessoa, o que define tudo que faz mal ou bem feito – se para o bem de todos ou apenas para o seu próprio. E isto faz grande diferença entre os administradores.

Quantos “autodidatas” têm infinitamente maior retórica e escrevem com tanto mais riqueza e eloquência que a maioria dos graduados e pós-graduados. Aliás, sem desmerecer a educação formal, a única diferença entre freqüentar a universidade e ler livros por conta própria é a metodologia que a universidade fornece. O resto depende unicamente do aprendiz e de sua vontade de aprender e crescer. E quem lê por prazer é muito mais bem formado que quem estuda por obrigação.

Wilson do Amaral