INDEPENDÊNCIA DO BRASIL REVISITADA
                                      Sérgio Martins Pandolfo*
  
          
“Não me obrigueis a usar a força para vos libertar”
        
D. Pedro IV de Portugal, I do Brasil


     Comemoramos ontem com brilhantismo e civismo mais um ano de independência do Brasil de nossa pátria-mãe, Portugal, ocorrida, como sabem todos, aos 7 de setembro de 1922, proclamada por D. Pedro I às margens do riacho Ipiranga (atual cidade de São Paulo), como reza a História e como contam os lentes e os livros. Éramos então a cabeça do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves, um dos mais importantes impérios deste rotundo Globo, com terras em todos os continentes habitados na face da Terra.
    E nosso orgulho cresce a cada ano, nosso peito se estufa um poço mais por vermos nosso querido País progredir, agigantar-se e fazer-se influente entre as nações contemporâneas, graças ao trabalho de seu povo, aos bons princípios herdados da heróica nação portuguesa e ao contributo de engenho e labor partilhado com outros povos que para cá vieram, fazendo-se nossos irmãos.
     A Guerra Peninsular, no contexto das invasões napoleônicas ensejou, uma vez mais, que o minúsculo Portugal que trezentos anos antes houvera dado “novos mundos ao Mundo”, viesse a ocasionar profunda transformação na face do mundo de então.  Mudanças geográficas, geopolíticas e geopopulacionais. Ante a ameaça de ser aniquilado por Napoleão ou ver a Madeira, os Açores e as colônias de ultramar, incluindo o Brasil, tomados pela Inglaterra, o governo português escapou dos dois. Entre dois fogos D. João fez a opção certa. Entre a prudência útil e a bravura inútil, o regente deu a ordem de embarcar. E não se tratou de fuga açodada da família real como anedoticamente ainda se declina, mas sim de mudança radical e permanente da sede do trono lusitano.
    O translado da Corte Portuguesa para o Brasil foi um feito monumental e um episódio grandioso. A maior e mais arrojada navegação que o Atlântico já testemunhou. Sob o aspecto puramente náutico a portentosa empreitada só é equiparável àquela empreendida pela majestosa esquadra cabralina, três séculos antes, que descobriu o Brasil, foi à Índia e assentou feitoria em Calecute. Apesar das agruras e perigos não há um só registro de morte ou acidente fatal durante a viagem.
    Ao mudar a capital do Império Português de Lisboa para o Rio de Janeiro o Príncipe Regente não chegou aqui como foragido ou exilado, mas como soberano em solo seu. “Com a chegada da corte à Bahia de Todos os Santos começava o último ato do Brasil colônia e o 1º do Brasil Independente”, reconhece o escritor Laurentino Gomes (V. foto acima).
    Nesse ponto é que queremos pôr de manifesto nosso pensamento: achamos, como muitos, que a mudança da sede do trono do Império português para o Brasil constituiu episódio igual ou equiparável ao advento da Independência, posto que esta foi, afinal, direta e natural conseqüência daquela.  Já em seu 1º manifesto na nova terra D. João proclamava, alto e bom som, que “... a corte de Portugal levantará sua voz do seio do novo Império que vai fundar”. Realmente, a independência formal não tardaria com a elevação do Brasil à dignidade de Reino Unido ao de Portugal e Algarves, em dezembro de 1815. Da noite para o dia, com a mudança da Corte para o Rio de Janeiro, que ascendia a Capital do Império Português, o Brasil tornara-se a mãe-pátria e Portugal a colônia - a chamada “inversão metropolitana” -, iniciando-se aí a contagem regressiva para a Independência oficial, ou histórica, que viria logo a seguir.

   “Em apenas 13 anos o Brasil ascendeu de colônia a nação independente, próspera e respeitada, efeito direto da vinda da Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro”, nos diz em crônica da época o Pe. Perereca. Em 06 de fevereiro de 1818, o Regente é coroado e aclamado rei, como D.João VI, primeira ocorrência dessa estirpe em solo americano. Forçado a voltar para Portugal por injunções intransponíveis foi ele o verdadeiro maestro, a concertar com seu filho Pedro, através de cartas de orientação e ajuizados conselhos, a independência brasileira, mantendo a casa de Bragança à frente do trono do Brasil com a ascensão de D. Pedro I e após... o “Grito”.

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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 08/09/2011
Reeditado em 09/09/2011
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