CÂMARA DOS DEPUTADOS VOTA PELA CORRUPÇÃO

Por 265 contra, 166 a favor e 20 abstenções o Câmara do Deputados votou a favor da manutenção de um regime escuso de corporativismo e impunidade, cuspindo de forma grotesca na cara da ética, da moralidade e acima de tudo dos princípios basilares de um Estado Democrático de Direito. Ao absolver Jaqueline Roriz o congresso aponta uma tendência lasciva de nossa política; a de que cadeia e punição realmente só se aplicam as classes menos favorecidas da nossa sociedade.

A luta pela democracia, o enfrentamento de um governo militar com a perda de inúmeras vidas ceifadas pela cortina de fumaça de um governo autoritário visava a construção de um Estado igualitário, onde cada homem independente de sua nascença tivesse os mesmos direitos e sobretudo o mesmos deveres que a lei garantisse. Contudo nesse universo dúbio em que se assenta a atual conjuntura política brasileira não há que se falar em igualdade, sobretudo no que tanja o rigor e a eficácia da lei. Erga omnes esse é o caráter da lei que os nossos políticos insistem em deturpar; parece que cristalizados pelas redomas do congresso nossos parlamentares se tornam super-homens inatingíveis pelas leis que afetam a vida do homem comum.

O Brasil acordou nessa quarta feira com o gosto amargo da impunidade na boca. E a certeza que pouca coisa muda com a inda e a vinda desse ou aquele sistema. A corrupção sempre estará lá, os mandos e os desmandos dos poderosos também. E o que é mais vexante é a tentativa de reverter a culpabilidade atribuindo a imprensa o motivo de tão nobre deputada estar passando por tão vil constrangimento. Isso quando menos é um esboço de ato institucional que tenciona veladamente silenciar aqueles que cumprem seu papel na conscientização de uma sociedade cada vez mais bestializada e mal representada.

O recado dos Deputados já foi dado, a ética e a moralidade tem prazo de validade, isto é, só serão consideradas na vigência do mandato, tudo que se der antes disso não tem valor e tão pouco macula o mandato de um nobre parlamentar eleito com dinheiro proveniente da corrupção. É tão grande a sensação de impunidade que se cria, agora, a figura da corrupção familiar. Noutra época os pais teriam vergonha dos negócios escusos que praticavam e esconderiam de todas as formas de seu filhos para que pelo menos para esses transparecessem ser honestos, mas como roubar o que é público parece não ser fato criminoso a família inteira pode participar do esquema sem o peso de consciência de um assalto a mão armada.

E nada mais justo em terminar esse artigo com a célebre frase do francês Joseph De Maistre que denota perfeitamente o momento histórico por que passa a jovem democracia brasileira: “O povo tem o governo que merece”.

Gilmar Faustino
Enviado por Gilmar Faustino em 31/08/2011
Reeditado em 01/09/2011
Código do texto: T3192411