Pois é,neste mês de agosto,estaremos comemorando(?) a intempestiva e nunca muito bem esclarecida renúncia de Jânio Quadros.Lá se passaram 50 anos...
Lembram do homem da vassoura?Os da minha  geração,sim;os mais jovens,duvido!
O mato-grossense  Jânio da Silva Quadros foi eleito presidente da República  sete anos depois do suicídio de Vargas,após uma campanha monumental,onde se apresentava nos comícios de vassoura em punho,brandindo-a contra os corruptos que prometeu acabar.
O Brasil está acostumados  a candidatos pirotécnicos ,mas,Jânio era um gênio no palanque.Contra esse furacão o que poderia o General Lott tão  discreto  nas suas atitudes e tão conciso no seu comportamento?
A performance do candidato ,ex-prefeito de São Paulo,era sempre a mesma.Chegava nos palanques suado,vestido um terno da Esplanada,(como diria o Rubem Fonseca) cheio de caspas,cabelos despenteados e engolindo um sanduiche;protagonizava um operário saindo do trabalho e sempre atrasado devido ao transporte difícil.
Convidado a falar, alisava seu famoso bigode de dono de mercearia, passava seu olhar meio zarolho e com um jeito de louco ou messias   naquele mar de vassouras, antes de começar o discurso de conteúdo discutível,mas,perfeito na encenação.
Seu português era perfeito  e muitas vezes ia desenterrar expressões no dicionário para deslumbrar o povão.
Bradava contra os corruptos, os maus  funcionários públicos,os empresários desumanos,os adversários em geral,o “mar de lama” que a UDN inventou desde os tempos de Getúlio,- a UDN,não sabe o senhor,era  os  nossos republicanos do “tea party”,-sequazes do  maldito Corvo,o Carlos Lacerda,escória do jornalismo deste país.
Afonso Arinos dizia sobre Jânio:
-“Ele foi a UDN de porre no governo”.
Era mesmo muito chegado a uma caninha.
Era o presidente dos bilhetinhos; durante seu governo enviou mais de 5000 ,sendo o último,em papel timbrado da Presidência,no dia 25 de agosto de 1961,comunicando  em tom melancólico sua renúncia.em sete linhas escritas á mão.
Durante seu governo de sete meses proibiu o bikini,as brigas de galo,o maiô das misses,(tinha que ter um saiote,dizia),o hipnotismo como espetáculo e outras coisas sem importância,mas,que agradavam a seus eleitores,mostrando um presidente preocupado com tudo ,onipresente  e onisciente,embora não onipotente.
Havia um Congresso  Nacional,afinal, que precisava ser ouvido,cheirado e adulado.E,que,não estava nada satisfeito,inclusive com a condecoração a Che Guevara  e o restabelecimento das relações diplomáticas com a União Soviética.
Não satisfeito,  aumentou o horário de expediente dos  servidores públicos,exonerou um monte de gente ,suspendeu nomeações por um ano,reduziu o orçamento das Forças Armadas , diminuiu os quadros funcionais das embaixadas,tabelou o arroz e o feijão,queria anexar a Guiana Francesa,combateu o monopólio,desvalorizou a moeda,proibiu o  lança- perfume permitiu corridas de cavalo  apenas nos fins de semana,regulamentou a remessa de lucros para o Exterior e brigou com quase toda a base aliada,inclusive o famigerado  Lacerda.
O Jânio do “varre,varre,vassourinha”, de saco cheio com o Congresso,vivendo numa cidade que detestava,resolveu chutar o pau da barraca.Cometeu um erro de estratégia.Soltou a renúncia pensando que o Congresso não aceitaria e o povo sairia ás ruas para exigir sua volta.
Nada disso aconteceu.
O então Presidente do  Senado,Auro de Moura Andrade,considerou a renúncia “um ato de vontade unilateral” e apressou-se  a  empossar  o Presidente  da Câmara, Rainieri Mazzili,já que o vice, Jango Goulart ,estava na China enviado em missão oficial.
Só lhe restava meter o rabo entre as pernas ,assumir o volante do seu velho DKW rumo a Guarujá e,de lá,para a Europa,deixando o país e os 50% que o elegeram mergulhados no caos que culminou no golpe militar de 64.
 
A CARTA-RENÚNCIA
"Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.
"Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
"Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.
"Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.
"Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.
"Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria."
Brasília, 25 de agosto de 1961.
 
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 22/08/2011
Código do texto: T3174892
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