Vocação democrática
VOCAÇÃO DEMOCRÁTICA
De uns tempos para cá tem circulado pela Internet, desabafos do tipo “que país é este?”, citando as mazelas nacionais, como carro-chefe da indignação nacional. À primeira questão, cabe uma resposta objetiva: Este é o país que temos, que por muitas décadas nós brasileiros construímos! O Brasil somos nós, os cidadãos, os profissionais, os professores, os eleitores. Ele é um retrato, nem melhor nem pior, daquilo que nós somos. Os desmazelos dos homens públicos são fruto de nossa incapacidade de eleger representantes.
Um general reformado (??!), lá do Rio de Janeiro criticou, via Internet, a sociedade brasileira, e de viés os Três Poderes da República, pela explosão do gay power. Pois o general acusava as instituições nacionais de culpadas e responsáveis por atividades gays, como se isto fosse uma prerrogativa apenas do Brasil. Por certo ele não lê jornais ou não assiste tevê. Tudo se perfila – e o termo é bem sintomático – a uma tentativa de deslustrar as instituições nacionais. Só faltou dizer, como aquele outro, que se tivesse um filho gay iria torturá-lo até que ele mudasse de opção. Antes o fantasma era o comunismo; hoje é a corrupção e os desvios da moral. Como se esses fenômenos não fossem globais.
Por falar nisto, nossas classes abastadas, as elites urbanas e rurais, alguns profissionais liberais, os donos do capital e certos intelectuais metidos a besta não tem vocação democrática. Qualquer coisa que não corra como eles querem, já sugerem uma virada de mesa, um golpe de estado, um retrocesso à ditadura, com a nefasta imagem dos tanques nas ruas.
Seguindo o mesmo raciocínio, observo que infelizmente, as forças armadas do Brasil não tem vocação democrática. Falam em democracia, mas não a praticam. Democracia é respeitar as diferenças e as divergências, sem querer impor uma uniformidade irracional. Se está mal, nas próximas eleições se troca. Só porque o Ministro Celso Amorim – uma das melhores cabeças nacionais – é considerado “de esquerda” já tem radicais de nariz torcido, como se num regime democrático não coubessem todas as alas da sociedade e da política.
Países democráticos, como os Estados Unidos tem e tiveram suas crises sociopolíticas, com fatos graves envolvendo presidentes (, Kennedy, Nixon, Clinton e Obama) e nem por isso as forças armadas, o maior poder do planeta, pensaram em arranhar a democracia, representada pelo voto livre e pelo poder que emana do povo e em seu nome é exercido. Igualmente, na França, Espanha e Itália, a despeito de crises e problemas, não se escuta ameaças de golpes militares.
É para ver como ainda temos muito que caminhar até atingir a desejada e salutar vocação democrática.
O autor é Escritor, Filósofo e Doutor em Teologia Moral