VINGANÇA MALIGNA

A Câmara Municipal da Cidade do Natal conta com 21 vereadores. Eles são os legítimos representantes do povo, uma vez que foram escolhidos democraticamente através do voto, para um mandato de quatro anos, com a possibilidade de renovação indefinida. Vereadores são eleitos para, em nome do povo que o elegeu, fiscalizar os atos do Executivo Municipal em relação à administração e gastos do orçamento. Também é responsabilidade do vereador criar leis em benefício da população, assim como cumprir e fazer cumprir a Lei Orgânica do Município.

O vereador atua como um procurador imediato das classes populares. Desse modo, ele assume o papel de representante da população das cidades, bairros, vilas e distritos de sua influência, devendo, portanto, estar presente nesses locais para conhecer os problemas que afligem as comunidades, encaminhando as devidas soluções. Eles também são eleitos para regulamentar alguns atos normativos das cidades, como definir a atuação de vendedores ambulantes e do transporte alternativo, bem como elaborar o Plano Diretor das Cidades.

Outra importante atribuição do vereador é que ele deve trabalhar em função da melhoria da qualidade de vida da população, atendendo suas reivindicações e desempenhando a função de mediador entre os habitantes e o prefeito. Para realizar todas essas atribuições, o vereador recebe um subsídio de 75% do salário de um deputado estadual, nos municípios com mais de 500 mil habitantes, como Natal, por exemplo. Além dos subsídios, eles também recebem verbas de gabinete e outras verbas de representação, entre as quais aquela conhecida como “auxílio paletó”.

Tudo isso, porém, parece funcionar apenas na teoria, porque no que se refere às atribuições de um vereador, na prática mesmo, não é isso o que se vê. Nossos parlamentares municipais, com raríssimas exceções, ficam duas, três ou mais legislaturas sem elaborar um único projeto que possa melhorar a vida do povo potiguar. Muitos se preocupam apenas em mudar nomes de ruas e avenidas, enviar telegramas de pêsames para a família de seus eleitores, enquanto outros, nem isso se preocupam em fazer.

Moro no Conjunto Pirangi há cerca de 30 anos e esse local é conhecido como um verdadeiro celeiro de votos, pela quantidade de vereadores que ajuda a eleger. O lugar, porém, jamais recebe a visita de um desses parlamentares fora das campanhas eleitorais. Nem mesmo aqueles que ocupam uma cadeira graças aos eleitores do Pirangi, demonstram alguma preocupação em solucionar os problemas que se avolumam dentro da comunidade.

Lembro-me muito bem da última campanha para vereador, quando o Conjunto Pirangi foi invadido por uma infinidade de candidatos vindos dos mais diversos pontos da cidade, em busca de votos. Não foram convidados; simplesmente chegaram para visitar os moradores. Apertaram mãos, abraçaram, beijaram criancinhas, conversaram, participaram de aniversários, batizados, casamentos, velórios, enterros, missa de sétimo dia, enfim, tornaram-se íntimos dos moradores, fizeram promessas até saberem o resultado das eleições. Eleitos ou não desapareceram, deixando a população amargando uma série de problemas, cuja solução é responsabilidade deles.

Na I Etapa do Conjunto, por exemplo, existe uma praça inacabada desde a primeira administração da então prefeita Wilma de Faria. O abandono ao qual o espaço vive relegado só não é maior por causa dos moradores que cuidam dele. À noite, contudo, o lugar se torna inóspito por causa da escuridão e dos viciados em drogas pesadas, que levam pânico aos transeuntes.

Apesar de o bairro abrigar uma Delegacia e um Batalhão de Polícia Militar - o 5º BPM - os moradores são vítimas de assaltos em plena luz do dia, sem que qualquer providência seja tomada. O atendimento no Posto de Saúde, a exemplo do que ocorre em outras comunidades, é precário, com a falta de médico e medicamentos. Os buracos transformam-se em crateras dificultando o trânsito de veículos pelas ruas. Um dos locais mais críticos é a Rua Caparaó, onde os veículos são obrigados a trafegar em uma única mão.

Os moradores ainda são obrigados a conviver com os constantes alagamentos na Avenida Ayrton Senna e parte da Avenida das Alagoas, provocados pela falta de cuidados com as bombas instaladas na lagoa. Os alagamentos se agravaram depois que a Caern realizou um serviço de escavação nas ruas, para a instalação de uma tubulação. Esse trabalho acabou com diversas calçadas e aumentou o problema de alagamento. Colocaram o calçamento de qualquer jeito e os moradores arcam com o prejuízo, porque as ruas que não apresentavam o problema, como a Cataguases e a Lagoa Dourada, por exemplo, passaram a alagar com uma simples neblina.

Tenho certeza de que os problemas do Conjunto Pirangi são comuns a outros bairros da Cidade do Natal, que também se ressentem da atuação dos parlamentares eleitos, a quem cabe a responsabilidade pela solução desses problemas. Afinal, eles foram eleitos para isso; são pagos para isso. Os nobres parlamentares, contudo, fingem-se de mortos. Para mim nem será surpresa se algum desses, eleitos com os votos do meu bairro, afirmar não ter conhecimento de que em Natal existe uma comunidade chamada Pirangi.

Eu, como moradora da localidade e eleitora da Capital Potiguar, lembro muito bem das promessas e da cara de pau de cada um que visitou o meu bairro e prometo dar-lhe o troco na próxima eleição. No que depender de mim, prometo dar a cada candidato à reeleição, o mesmo tratamento que dispensou à população residente no Conjunto Pirangi durante o seu mandato.

Na condição de detentora do poder que me é imputado por meu voto, eu prometo: lembrar-me-ei do nome de cada político que não honra a palavra empenhada durante a campanha política; que desrespeita seus eleitores; que promete e não cumpre. Convoco a todos os moradores da Capital Potiguar para que se unam a mim. Vamos formar uma grande corrente e dar o troco a esses maus servidores públicos, que apenas se locupletam à custa de nosso suor e boa fé. Políticos do meu Brasil varonil: Minha vingança será maligna. (19/Ago/2011)