UMA QUESTÃO DE RESPONSABILIDADE
O número de pedintes cresce assustadoramente nas ruas da Cidade do Natal. Eles invadem os canteiros, os semáforos, os pontos de ônibus, as calçadas, as portas dos restaurantes e não dão trégua, sequer, quando estamos em casa porque até ali continuam a pedir e quando não são atendidos, praguejam, amaldiçoam, esbravejam e nos ridicularizam. Considerando que o salário mínimo do País é pouco mais de 500 reais, constata-se que o potiguar vive em condição de penúria absoluta, tendo que manter a família, os pedintes e os políticos.
Paralelamente, cresce também o número de pessoas viciadas em drogas pesadas, levando desespero às famílias e aos cidadãos porque, para obter recursos que possibilitem a manutenção do vício, o dependente é capaz de praticar verdadeiras atrocidades. Assim, a cidade se torna palco de roubos e assaltos, deixando a população à mercê de sua própria sorte. As crianças, que deveriam estar nas escolas, também ficam expostas, porque vendendo bugigangas pelas ruas, acabam vergonhosamente, tornando-se alvos dos predadores humanos.
Eu, contudo, não sinto qualquer responsabilidade em relação ao crescente número de pedintes, viciados, marginais e menores abandonados que se multiplica pelas ruas da cidade por um único motivo: Como cidadã, sou obrigada a pagar compulsoriamente, uma das maiores cargas tributárias do mundo. Portanto, a parte que me compete está sendo feita, uma vez que mensalmente sai do meu salário à custa de muito suor, a quantia que me cabe pagar, para a solução desses e de outros problemas que afligem a nossa Cidade.
O mesmo, porém, não pode ser dito pela maioria dos nossos representantes, que nos obrigam a pagar em dose dupla, pelos serviços aos quais temos direito assegurado pela Constituição Federal. Somos obrigados, por exemplo, a pagar duas vezes pelos serviços de Educação, Saúde e Segurança, porque, diferentemente do que é mostrado nas propagandas oficiais, o contribuinte paga, mas não leva o serviço a que tem direito.
Ao ser criado na década de 40, o salário mínimo deveria ser suficiente para cobrir as despesas mensais com alimentação (55%), habitação (20%), vestuário (8%), higiene (10%) e transporte (7%), tomando-se por base uma família composta por dois adultos e duas crianças. Hoje, porém, percebe-se que o objetivo do idealizador de tal valor perdeu-se com o tempo. Não existe espaço no mundo moderno, para quem ganha salário mínimo.
Considero um acinte a taxa estimada em mais de 100 reais cobrada pelas universidades, a um aluno que deseja prestar vestibular; ou o preço cobrado por um ingresso para alguém assistir a um espetáculo no TAM, Teatro Riachuelo, e similares, sempre superior a 100 reais. Logo se vê que cultura, educação, comida e roupa lavada, não são destinados para aqueles que ganham salário mínimo.
Além dos impostos pagos de forma compulsória, ainda somos obrigados a pagar outros impostos embutidos em cada mercadoria que compramos ou em cada produto que consumimos. Desse modo, adquirir um CD ou DVD ao preço de 50 – 60 - 120 reais está fora de cogitação, porque a compra de um artigo considerado supérfluo compromete assustadoramente o orçamento doméstico. Assim, a pirataria corre solta; sem controle. Afinal, vivemos em um País capitalista onde a palavra de ordem é consumir; seguir os ditames da moda mesmo usando a imitação dos produtos de marca.
O incrível nisso tudo é constatar que existe dinheiro para tudo nesse País, desde que não seja para investir em projetos que melhorem a vida dos trabalhadores, ou que façam a Educação progredir, contribuindo para formação de cidadão conscientes e críticos. Curiosamente é isso que os governantes mais temem: A capacidade crítica dos cidadãos.
No ano 55 a.C Marcus Tullius fez a seguinte citação: “O orçamento nacional deve ser equilibrado. As dívidas públicas devem ser reduzidas; a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentos a governos devem ser reduzidos, se a nação não quiser ir à falência. As pessoas devem, novamente, aprender a trabalhar, em vez de viver à custa do erário público”.
Rui Barbosa, por sua vez, afirmou: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto..."
Eu ainda acredito na mudança desse cenário, porque tenho em minhas mãos uma arma poderosíssima: O meu voto. No próximo ano haverá eleição e dois terços do Congresso Nacional serão renovados. Como cidadã brasileira e consciente da minha responsabilidade na escolha do meu representante, não votarei em candidatos cuja história desconheço. Tampouco votarei em troca de óculos, dentadura ou consulta médica. Para ganhar meu voto, o candidato deverá ter ficha limpa. E tenho dito. (17/ago/2011)