Lula, o sapador de Dilma
Toda criatura acaba se voltando contra o seu criador. Isso vem da Bíblia (Livro de Ezequiel), onde Deus lançou Lúcifer às trevas, por ele ter tido a ambição de querer se igualar ao seu Criador. O anjo de luz preferido de Deus passou a ser “príncipe das trevas”.
Mas, Teologia à parte, a presidenta Dilma Roussef, nesses sete meses de governo, tem tido muito cuidado para não contrariar o seu criador Lula, que, fora da presidência, continua circulando como fera em busca de repasto do poder, fazendo conferências e dando pitacos no governo fora do proscênio.
Recentemente falou dos militares como não ousou falar durante seu Governo, depois de impingir-lhes a nomeação do diplomata e ex-ministro Celso Amorim para o Ministério da Defesa, após estranha bufonaria heróica (como diria Aquilino Ribeiro) do ministro Nelson Jobim que resultou em sua exoneração do cargo.
Com seus 70% de apoio popular, segundo a pesquisa Sensus, Dilma não quer saber de contrariar Lula, pois conhece seu poder de fogo não como ex-presidente, mas como sindicalista e líder popular já testado no poder e, portanto, temperado pela ousadia e pelo risco político e pelo conhecimento – condição essa muito diferente daquela quando liderava os sindicalistas nas ruas contra os militares para, mais tarde, fundar o Partido dos Trabalhadores.
Pois, aqueles que ajudaram Lula a fundar o PT e que compartilharam do poder desde que o partido o empolgou, dentro e nas cercanias do governo federal, continuam temendo o “barbudo”, que, como presidente, deixou abertas várias feridas que continuam sendo cutucadas pelos seus críticos, mas, que, como líder popular e agitador, desfruta ainda de inigualável prestígio dentro do Brasil e, quiçá, nas Américas.
Que outro líder popular é mais influente do que Lula hoje, aqui e alhures? Fidel Castro já era... A mídia e os ideólogos da esquerda não têm melhor referência de poder do que Lula, um gênio político, sem dúvida, capaz de proezas que todo político teme, uma delas a agitação das massas. É o único político brasileiro do momento com capacidade de encher num comício a Praça da Sé ou a Candelária. Não estou jogando confete. Gênio é gênio e cria suas próprias regras – como afirma Kant.
Não só Dilma, mas as esquerdas e os capitalistas que ajudaram a elegê-la, tendo Lula como espécie de El Cid à frente da batalha eleitoral, querem que as coisas continuem como estão: Nada de movimentos sindicais nervosos, deixem o MST comendo pelas beiradas, continue a UNE calada e desmobilizada e boa parte da imprensa e das universidades sob controle e –o que é mais importante –um congresso virtualmente submisso aos interesses do Planalto.
Não há oposição significativa atualmente no País e a própria democracia de que se fala é uma” democracia mitigada desmobilizante “-expressão que reivindico como de minha autoria, a qual criei já no transcorrer do Governo Fernando Henrique Cardoso.Mas, de lá para cá, o marasmo se tornou maior e institucionalizado, e talvez a expressão mais correta que devo usar é “democracia mitigada imobilizante”. Um silêncio que, não sendo de reprovação, já que a Presidenta tem 70% de aprovação, só pode significar de apatia, regada a pão e circo.
A situação periclitante da economia dos Estados Unidos e da Europa e o inferno astral do presidente Barack Obama contribuem para esse clima de expectativa geral em relação a uma tempestade que se avizinha que tanto pode virar furacão como se dispersar em chuva de verão, pois a primavera vem chegando. Mas, é bom ficarmos de olho em 21 de dezembro de 2012, porque muitos profetas prenunciam o fim do mundo...
Nesses meses de governo Dilma, os indicadores políticos, econômicos e sociais são modestos e a inflação começa a corroer os salários. Especialista em energia, Dilma ainda não aplicou o choque prometido contra vários males, o pior deles a corrupção endêmica, geradora de muitas outras distorções sociais. Ainda é cedo, e a Presidenta ainda testa o terreno,contando com o apoio de Lula como sapador para evitar áreas minadas...