Cuba siempre libre

As reformas políticas e econômicas propostas pelo presidente cubano Raúl Castro no VI congresso do Partido Comunista Cubano, realizado em abril deste ano, são o prolongamento das pequenas reformas já postas em prática desde que ele assumiu a presidência, substituindo o irmão Fidel Castro, em Fevereiro de 2008.

Thomas A. Shannon, Jr – atual embaixador dos Estados Unidos no Brasil – então o principal executivo do Departamento de Estado Americano para a Região do Caribe, em entrevista à Reuters Latin America Investment Summit, comentando as reformas postas em prática por Raúl, declarou que "Essas coisas, por pequenas que sejam, são boas, mas claramente não são suficientes a partir do nosso ponto de vista". Shannon, Jr disse ainda: "Instamos aos cubanos a serem mais valentes, mais audazes em sua reforma”.

Pela fala do executivo, na ocasião, pode-se perceber que o milho na gamela é insuficiente para a insaciável goela do ganso, ou seja: por mais que Havana vá promovendo suas reformas os americanos nunca estarão satisfeitos, a não ser que os cubanos entreguem sua Ilha para que eles a transformem em seu quintal, como era na época de Fulgencio Batista.

Cuba há mais de cinqüenta anos sofre com as pressões dos Estados Unidos, que entre outras agressões, determinaram ao FMI e ao BID que excluíssem o país caribenho do rol de nações com acesso a financiamentos dessas instituições. Pelo andar da carruagem o governo de Barack Obama não pretende mexer uma palha sequer com relação a isso, temendo confrontos com o Congresso, de maioria republicana. Outro complicador é que a deputada Ileana Ros-Lehtinen, que ocupa a presidência do Comitê de Relações Exteriores, foi eleita pelos cubanos anticastristas da Flórida e não cogita nenhum tipo de distensão com relação à Ilha.

Desde a vitória da Revolução, Cuba foi se tornando, por força das circunstâncias, um país diferente. Se por um lado as políticas sociais são um absoluto sucesso, por outro, a economia é tímida, principalmente depois do desmoronamento da União Soviética, e há, também por força das circunstâncias, alguma restrição das liberdades individuais. Daí ser imperioso ao se analisar como um todo o país, levar em consideração as peculiaridades existentes.

Alguns, timidamente, reconhecem que o país tem um excelente sistema educacional e de saúde, que vive pressionado pelos embargos impostos pelos Estados Unidos e seus aliados e que o Fidel Castro dos idos de 1959, tinha realmente um ideal de liberdade para o seu povo. Outros, de forma ponderada, admitem a marcante personalidade e o carisma do ex-presidente, o quanto ele proporcionou aos cubanos, mas o criticam por ter se submetido à Nikita Khrushchov e estabelecido uma ditadura na Ilha. Porém, são muitos os que o consideram ultrapassado, o eterno guerrilheiro já meio fora de época. Estes muitos pregam que Cuba é um país antiquado, que parou no tempo e que no mundo moderno não há mais lugar para o modelo castrista. Estes mesmos, propagam abertamente, que a Ilha só tem salvação rendendo-se ao modelo liberal capitalista.

Todos nós sabemos como era a Cuba antes da Revolução. Um paraíso infestado de prostitutas, quadrilheiros, mafiosos, contrabandistas, traficantes e toda sorte de malfeitores. Um povo explorado pelo capital americano, que vivia miseravelmente, sem educação e sem saúde. Grandes empresários, líderes políticos, militares e mafiosos americanos, numa relação promíscua de negócios, política e crime, iam fazer turismo sexual na ilha. Pisavam, com o tacão do poder, na cara do povo cubano.

Hoje há pobreza na República de Cuba, não se pode esconder o fato. Mas não há miséria. O povo não é espoliado pelo capital estrangeiro, há educação (o analfabetismo há muito foi erradicado e a Universidade é realmente para o povo), há saúde, e os salários, mesmo que baixos, são nivelados, o que diminui as diferenças sociais.

Em recente entrevista à Eleonora de Lucena, da Folha de São Paulo, a pediatra Aleida Guevara, 50 anos, filha de Ernesto “Che” Guevara declara que “A democracia é o poder do povo. É um Estado de direitos para todos os cidadãos. Isso em Cuba existe. O que o povo diz é o que se faz. O povo tem sempre a última palavra”. Diz ainda e ainda que “Os EUA têm o direito de embargar suas relações com Cuba. Não protestamos contra isso. Protestamos quando os EUA têm o propósito de que nenhum outro país comercialize livremente com Cuba. Isso é o bloqueio. Acreditávamos que Obama teria outras perspectivas, mas nos equivocamos. Ele responde aos interesses da grande indústria. Prometeu que fecharia a base de Guantánamo e isso não ocorreu até agora. Seguem tendo presos ilegais em nosso território. Essa base é roubada de Cuba”.

A ditadura não é boa para ninguém, mas sob certas condições é um mal necessário. É uma questão de manutenção da soberania de um país de apenas cem mil quilômetros quadrados. Renda-se Havana ao capitalismo e veremos que em poucas décadas o país retornará à miséria social da época de Batista.

O Brasil, os países das Américas do Sul e Central e os da África são exemplos bem claro da submissão irrestrita ao capitalismo e à globalização. Mude os Estados Unidos a postura que adota desde Eisenhower, passe o gigante do norte a tratar Cuba como um parceiro comercial, eliminem-se os embargos, sepulte-se a perene ameaça de intervenção armada e, logo, passo a passo, numa evolução natural, poderá se perceber mudanças na forma de governar de Havana e as reformas que advirão.

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Luiz Vila Flor
Enviado por Luiz Vila Flor em 31/07/2011
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