Sobre nomes e feitos
Quando ouvi a primeira história sobre o personagem Ricardo Coração de Leão, bem como d’outro seu companheiro monarca, o Rei Arthur, fiquei entusiasmado que houvesse entre tantos perversos no mundo a pretensão de artistas de boa vontade a tornar real, ainda que apenas sob o manto encantado da Fantasia, certos personagens representantes da justiça e do heroísmo.
Mas se, como dizem, o Rei Ricardo Coração de Leão existiu como nós, feito de carnes, ossos, fluxo sanguíneo e ambições perversas; como nós, pretendida “imagem e semelhança” daquele necessariamente justo Deus-pai, Ricardo Coração de Leão, como o Rei Arthur, é muito mais, hoje, um influente personagem da Literatura, entre muitos outros. Porque quantos personagens literários existem mais importantes que muitos de nós? Quantos deles ainda estão muito mais vivos do que qualquer um de nós poderia pretender viver? Quantos baseados nos ditos "fatos", no exemplo daqueles homens e mulheres que, das donas de casa aos mártires, dedicaram suas vidas à sustentação e melhoria da vida de outros?
Admiro os justos feitos imaginários do personagem Ricardo Coração de Leão, entre mitos outros, embora não seja naturalista nem monarquista. Não no sentido de que possa ser absolutamente um ou outro daqueles.
Visto que "tudo tem seu valor", admiro tanto a força e majestade animalesca leonina quanto os poderes e pompas da Monarquia. Um leão, a despeito de sua selvageria e violência (ou também por causa dela), é um belo animal. Tanto que, como com Ricardo, pode representar a força de homens poderosos. Um castelo luxuoso, extensão das expressões de poder da Igreja, é bem atraente e confortável – a despeito de que aquele nosso Deus católico, representado por Jesus Cristo e São Francisco de Assis, tenha nos dito sempre sobre a puerilidade do desejo humano de ser nobre na carne, possuir, permanecer. Mas o que admiro na Monarquia, a despeito da prepotência a consideração da cor azul do sangue dos monarcas como característica de um sangue genuinamente real (talvez em relação simbólica direta com o valor da cor do céu, “morada do Criador”), o que admiro em qualquer regime político é que, na Monarquia, possa haver um rei justo e, consequentemente, bom.
Para valorizar também o Comunismo como qualquer outro pretendido bom regime político – ao mesmo tempo repudiando que ainda possa ser remanescente da intolerância e violência de seus fundadores – digo também que não reclamaria ser comandado por um ditador; desde que ele nos lembrasse de nossas obrigações cidadãs, ditasse a nos fazer colaborar com a melhoria da vida dos necessitados e nos desse as condições necessárias pra isso.
Assim, entre “capitalistas”, “comunistas”, “cristãos”, “ateus”, “monarquistas”, “anarquistas” e outros tantos desses istas que se arvoram a ser salvadores de pátrias, quero apenas que qualquer um deles seja representante de verdadeiros valores humanos. Nem tanto aqueles de quem machistas de quaisquer gêneros reivindicam manifestações de força (física), mas principalmente daquele protótipo de um bondoso Super-homem que, imaginado por artistas de boa vontade, também “vindo do céu”, como um Jesus Cristo moderno tem nos exemplificado o que todos nós deveríamos fazer caso tivéssemos poderes ilimitados e fôssemos capazes de nos tornar “senhores (e senhoras) do mundo”.