Shakspeare e as reflexões de um bêbado sobre o PT
Ato I – Cena 3: Na esplanada, Hamlet, Horácio e Marcelo conversam. Já soou a meia-noite e Horácio diz a Hamlet que o fantasma do rei já está ali e pretende falar-lhe. Hamlet segue o fantasma do pai, mesmo contra a vontade de Horácio e Marcelo, que decidem segui-lo. Marcelo diz: Há algo de podre no reino da Dinamarca. Mais duas falas e termina a cena 3.
Zé Sá, também conhecido como O pato, já estava na quarta cerveja. Bebia, solitário, num bar da Mem de Sá. No mesmo boteco, dois jovens ainda imberbes, lourinhos, um trajando a camisa da seleção inglesa de futebol (a branca) e o outro, a da Dinamarca (a vermelha), devoravam sanduíches e refrigerantes. Falavam muito e num ritmo frenético; gesticulavam e riam. Não dava para ouvir o que falavam, mas mesmo desse, de nada adiantaria, por que O pato não manjava nada do idioma do Barde de Avon. Mas tinha certeza de que os meninos conversavam sobre alguma aventura amorosa. Tinha mulher na história.
Eram umas seis e meia da noite, e ainda estava claro. Na quinta cerveja, a bexiga cheia começou a incomodar. O Zé foi mijar; o banheiro era pequeno, escuro e imundo;o mijo vertia fraco, quase um fio, mas era um não parar mais. Enquanto o fundo do mictório, amarronzado pela sujeira ia se manchando de amarelo, o nosso amigo pensou nos lourinhos e, talvez por associação de idéias, lembrou de ter lido no ginasial, por imposição de D. Ofélia, Hamlet, O Príncipe da Dinamarca, e aquele texto surgiu assim, muito claro, muito vivo em sua mente, assim como surgiram muito vivas as coxas e a bunda da professora, ainda que cobertas por aquele horrível vestido verde-água. Mas a fetidez que exalava do vaso sanitário aumentou, o que levou o Zé a esquecer rapidamente o dramaturgo inglês, a Dinamarca e D. Ofélia. O cheiro de cocô azedo, agora talvez por associação olfativa, fez O pato lembrar das cagadas malcheirosas que os barbudinhos do PT fizeram e estão fazendo no governo.
E o mijão, embriagado, recordou: Desde o início do mandato do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, começando por aquela mamata da Benedita, que a coisa não parou mais. Por mais de oito anos o país vê, cotidianamente, brotar do pântano político toda uma sujeira putrefata, que de forma contínua contamina e emperra as velhas e enferrujadas máquinas da administração pública. Os incorruptíveis, hem? Os Josés, o Genoino – nada original e o Dirceu – que não é de Marília, o Professor Luizinho – Ah! Que belo mestre na arte de sujar. O careca, o barbudo (que foi da Fazenda com um e da Casa Civil com a outra) na mansão das negociatas com as garotas de programa, observado atentamente pelo caseiro e mais recentemente com todo esse enriquecimento descoberto pela imprensa. Todo esse processo do mensalão que envolve 38 maganões ligados, de uma forma ou de outra, ao PT. Escândalos envolvendo toda sorte de membros ou aliados do governo se sucedem com espantosa velocidade, num processo de “o escândalo de hoje abafa o escândalo de ontem”. O barbudo mor sempre dizendo que não sabe de nada e que não viu nada; afirmando, nas entrelinhas, que a roubalheira toda faz parte da vida política brasileira, coisa assim, boba.
Tudo isso passou atropeladamente, de enxurrada, pela cabeça, já meia zonza, d’O pato. O mijo cessou e, após três sacudidelas, ele guardou o "ganso", pensou na vida e vomitou. Olhando a mistura fermentada de cerveja e batata frita que se espalhava pelo cubículo, tartamudeou para si mesmo: Há algo de podre no reino dos barbudinhos! E partiu para a sexta cerveja.
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