BARULHO NA TERRA ALHEIA
                                                   
                                                                       
Sérgio Martins Pandolfo*
          


             Não vamos deixar, pois sim!
             que estranhos vindos pra cá
             mudem pra Pará-Mirim
             o que já foi Grão-Pará

                                                   SerPan      

       O carimbó é o legítimo e mais tradicional ritmo musical parauara, com instrumental lusoafroameríndio primitivo e letras de uma singeleza tal que raia às lindes da ingenuidade, o que não impede de retratar, quase fielmente, os fatos do cotidiano. O carimbó é também dança folclórica, das mais autênticas e representativas da região, quiçá do Brasil. Há uma música do Mestre Pinduca que diz assim: “Embarca morena embarca/ molha o pé, mas não molha a meia/ viemos da nossa terra fazer barulho na terra alheia” (bis).     
      A letra reflete bem o que está ocorrendo com as áreas que nos pertencem e querem subtrair do Pará, formando mais dois estados, deixando para nós, que somos os donos e mantenedores deste naco de solo setentrional quase desde o começo do Brasil, apenas uma nesga de terra, quem sabe a título de consolação.

      O genuíno parauara ama e quer seu Estado por inteiro, como sempre foi; falamos a mesma linguagem, o parauarês, que se reconhece ao primeiro contacto e queremos continuar juntos, com nossas raízes assentadas nas duas margens   de nossos “rios gigantes”, que banham nossas “terras de ricas florestas, fecundadas ao sol do Equador”, por inteiro. E, por favor, não nos venham alegar xenofobia, pois, longe de nós que temos verdadeira miscelânea étnico-geográfica na família, assim de fora como de dentro do País, o que inclui laços parentais com pessoas das regiões pretensamente separatistas. Muito menos preconceito, palavrinha hoje abominavelmente usada a modo de escudo protetor por quem quer impor suas esdrúxulas ambições a muque. Nada de separatismo étnico-cultural para cima de nós, que muito nos orgulhamos de nossas origens indígenas.       Somos extremamente ciosos de nossos domínios terreais, hauridos a ferro e fogo em um tempo que já se faz distante. Esta terra que cuidamos e sustivemos desde quando, ainda Inferno Verde, amedrontava os pusilânimes, passou a Verde Vagomundo do Bené e é, agora, o Eldorado do Brasil e do Globo. As regiões que maquinam nos subtrair sempre foram por nós muito queridas e valorizadas, bem como as populações que lá mourejam e ajudam a desenvolver com sua participação laboral honesta, dedicada, indispensável, sejam elas autóctones ou provindas de outras regiões, todas bem-vindas e apetecidas, pois filhas deste mesmo Brasil gigante.
      Há um outro “Hino” parauara, além do oficial, que é a belíssima composição do conjunto Mosaico de Ravena, com uma letra precisa e preciosa e estribilhos em legítimo, espevitado e remexente carimbó, denominada “Belém, Pará, Brasil”, que nos adverte: A culpa é da mentalidade / Criada sobre a região / Por que é que tanta gente teme? Norte não é com M”. De fato, a região assusta, mete medo mesmo, para quem não a conhece, mas, depois que nela pisam e se assentam veem que “nossos índios não comem ninguém, agora é só Hambúrguer” - que alguém já trouxe pr’aqui para lentamente envenená-los - ficam encantados e não mais a deixam. O problema é que muitos dos que pra cá vieram e se adonaram de pedaços às vezes imensos de terra logo pensam delas se tornar caciques e comandar os “índios” daqui. Pensam ter a força!       O sangue cabano que ainda nos corre nas veias vai novamente fazer-nos pegar em armas, estas mais requintadas e eficientes, o voto eletrônico que nos garantirá a vitória plebiscitária final, legítima e irretorquível, a garantir, para o Pará, sua grandeza e inteireza.

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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
E-mail: sergio.serpan@gmail.com
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Site: www.sergiopandolfo.com


Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 14/07/2011
Reeditado em 13/09/2011
Código do texto: T3094728
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