VIVAS às ONGs?
24.06.2005.
Nunca me adaptei com facilidade aos sapatos apertados. Sempre inquiri: se existe um sapato com o meu número, por que tenho que usar 36? (alusão a Raul Seixas). Tudo bem, já sei, com o uso, depois de alguns calos e tropeções eles se moldam e meus pés se acostumam (se deformam)... ainda assim vou estar lá no fundo perguntando: por que tive de usar um tamanho menor que meus pés pediam?
A burocracia é como uma sapataria que vende apenas sapatos apertados; não existe tal sapataria, mas existe a burocracia. Desnecessariamente nos empurra números menores que os nossos. Vivemos num país entupido de filas de espera e a isso se deve à total despreocupação de nossos predecessores em criar condições que caminhassem na mesma velocidade do aumento populacional ao menos que fosse. Perderam muito tempo em cronogramas e hoje vivemos o caos a espera de tudo, até do sistema que sai do ar quando chega a nossa vez na fila. Vai dizer que isso nunca aconteceu contigo?! Rsrs.
Numa cidade pequena não se percebe tanto o retranco dessa afunilação a que nos impõe uma senha, um engarrafamento e imagino o que deve significar ter o nome na lista de espera para um transplante de órgão. São especificidades e fatalidades que podem surpreender qualquer um de nós, indiferentemente de classe social e poder aquisitivo, mas logicamente afetará mais diretamente as pessoas com situação financeira de subsistência, ou seja, 70% dos brasileiros (sendo otimista).
Recorrer a soluções alternativas é a única arma que temos ante aos transtornos da máquina burocrática governamental e vos apresento Brasil: o país das Organizações Não-Governamentais! Nenhum outro país possui tantas ONGs como o Brasil. Solidariedade privada, somos o número 1 nesse tipo de organização social e isso se deve indiscutivelmente ao descaso de décadas de nossos governos municipais, estaduais e federais. Foi o “jeitinho” brasileiro que criou alternatividades para amparar seus irmãos em suas urgências que não tem tempo à burocracia; foi o tal jeitinho que criou e cria tantas associações e entidades. Tentam, essas ONGs, suprir a ausência dos deveres governamentais. Visam promover um futuro de educação, humanidade, cidadania e conforto aos atuais e futuros brasileiros. Seremos o “país do futuro” até quando, o país do “passe amanhã” até quando?
A custa de muito sacrifício, fugi provisoriamente de um grande centro urbano e lá deixei 4 horas diárias de engarrafamentos na ida e na volta do trabalho, deixei a poluição excessiva do ar, a sonora, a visual, a violência que acerca qualquer que seja a metrópole, a desorganização viciosa e o contato quase que direto com a faixa malandra e marginal, pessoas também vítimas do descaso de governos que não lhe promoveram condições mínimas de cidadania e educação; hoje são os agressores e réus dos atuais governos. Senti novamente a necessidade do interior onde as pessoas ainda estão menos agressivas, apressadas, deseducadas, estressadas e onde consigo dedicar-me melhor à “tarefa” de raciocinar. Corri na contra mão, o êxodo ainda não é o rural.
Deixemos que a burocracia se enrede em sua própria teia de dificuldades e trâmites legais e criemos nossa própria forma de viver, mais amena e descomplicada.