Que Brasil é esse?
Essa é nova, América do Sul, estou atolado até o pescoço e nadando pra sobreviver, e ainda tenho 782 regras novas para decorar e tenho um mandato jurídico à espera na minha porta e tenho novos líderes escolhendo por mim. Há os críticos das revistas de tiragem nacional e eles escrevem apenas o que gostam de ler. Servem uma bandeja nacional para boa parte da população, e eu vivo no Brasil e o Brasil não me serve como uma nação. Eu as vezes regurgito meu café da manhã nas contracapas dos jornais, nos editais de edições dominicais e nos babacas engravatados que aprisionam nossas ideias. Talvez até o próximo ano, no Brasil, entrem duas ou três novas tendências de direita. O governo é vermelho como uma bandeira comunista e os comunistas são tão malvados quantos os capitalistas. Eles formam um belo circo entediante e colorido. Como calças da nova moda. Esse país de ideais envelhecidos me obriga a cumprir solenemente com meus deveres, mas não se preocupa se meu instestino funciona regularmente, nem se vou acabar me limpando na bandeira nacional, por falta de papel. O que eu ganho em troca? Eu vi assaltos, eu vi assassinatos, eu vi acidentes em vias públicas, e eu vi dinheiro sendo desviado, eu vi inconformismo no olhar dos transeuntes mas ninguém faz nada. Porque somos uma nação unida, não é mesmo? Porque nos importa muito chegar em casa e ligar o televisor na audiência barata dos telejornais e ver quantas pessoas morreram e fazer as contas para ver quanto tempo falta até chegar nossa vez. Eu estou tossindo e não sei se estou gripado ou se estou doente, mas eu vou marcar consulta e esperar na fila do SUS. Algum político teve a genial ideia de pagar médicos com dinheiro público para a população ser atendida de graça. Mas eu duvido que ele já tenha sido atendido num desses hospitais. E a carne que eu compro no mercado é escura, ela reflete, talvez, a podridão desta corja de assassinos engravatados? Wall street, Brasilia, Palácio Piratini, - a cena do crime. Mas o crime está nas ruas, nas favelas, não é mesmo Sr. Secretário de Segurança Pública? Eu irei passear despreocupado pelas ruas e se for assaltado, gostaria de que o senhor assistisse e me dissesse quais são os motivos. E eu perguntaria ao seu filho se ele acharia graça de ficar sem comida por alguns dias e ver sua mãe vendendo o corpo numa esquina suja e fria na madrugada. Mas o Brasil é maravilhoso. O Brasil tem dinheiro e vai sediar uma Copa do Mundo. Hoje é recém segunda-feira, tem muita coisa pela frente. Jesus morreu crucificado, Getúlio com uma bala na cabeça e os indigentes morreram pelo frio, pela miséria e pelo fogo. E nenhum deles entrou pra história. A sociedade não é o reflexo de seus homens. Não é o reflexo de quem nela vive. Porque eu não vi ninguém flutuando nas aguas poluídas, eu não vi ninguém colocar uma bala na cabeça e entrar pra história. Eu só tenho minha liberdade de respirar e consumir enlatados americanos. Eu não posso entrar em um super mercado e comprar um pedaço de queijo só com minha boa aparência, como 'Carlo Marx' me falou, posso? Só vejo as sombras dos comandantes, suas assinaturas, seus papéis mofados, suas ideias empoeiradas, suas cadeiras marcadas com o desenho de suas bundas, suas secretárias ocupadas com esmalte, tinta pra cabelo, fitas adesivas. A sociedade evolui para um dilema primitivo, o Brasil vai começar a furar suas terras para extrair petroleo e vai vender isso ao resto do mundo. Isso é tudo que podemos fazer? Estamos perdidos.
E nós todos estamos calados, bancando invejosos, olhando as janelas dos automóveis não ocupados, fechadas. E quem não tem como comprar deve roubar, quem não tem uma vida feliz, deve tirar a felicidade de outro. Olho por olho e dente por dente, é nossa sociedade evoluindo para um dilema primitivo. É a gente gastando dinheiro em computador, tecnologia. E as pessoas se 'arquivando' em apartamentos minúsculos sem nem saber quem vive a 12 metros de distância. Pegue uma arma, invada uma escola e faça sua própria revolução.
América do Sul.. do velho sonho de liberdade e paz.