OS DEMÔNIOS DO IML!
Não apenas de escândalos na Assembleia Legislativa vive o noticiário sensacionalista do Estado. Uma das raízes da polêmica atual é o Instituto Médico-Legal (IML), situado na Av. Visconde de Guarapuava, no centro de Curitiba. Instituído no Paraná em setembro de 1899 e subordinado à Secretaria de Estado da Segurança Pública, o IML é teoricamente responsável por serviços como necropsia, exames laboratoriais, embalsamentos e testes de conjunção carnal e sanidade física e mental. O órgão também abriga um museu, atraente para acadêmicos das áreas de Biomedicina, Enfermagem, Direito, entre outros. Evidentemente, o recolhimento e a organização de cadáveres também são incumbências do IML.
Não é uma tarefa simples. A atuação do Instituto deve ser a mais ilibada e séria possível. Não se tratam apenas de ossos, sangue e vísceras amarfanhados, mas de espíritos que um dia ocuparam um corpo. Alguém que estava conosco... Porém, agora, não deixou mais do que lembranças, saudades. Estamos nos referindo a semelhantes, muitas vezes ceifados pela violência, este galopante alazão do Apocalipse. Um cavalo agourento responsável por interromper planos, alimentar vinganças e sustentar melancolias. Oh, aquele jovem estudante, ou aquela bela menina... Quanto vigor, quanta mocidade, quanto talento! Quantos pais, mães, tios, avós não estiveram esperançosos por um futuro promissor para seus rebentos? Entretanto, tudo o que veem agora é um corpo inerte dilacerado em um logradouro qualquer! Talvez um acidente de trânsito, bala perdida, briga ou estupro? Não importa. Em meio à angústia, não há muito que ser feito, a não ser providenciar um funeral. A dor é intensa. A perda, irreparável. Os sonhos esmigalhados por uma fatalidade. A família reza junto ao caixão. Ele será aberto pela última vez antes de ser entregue a um cemitério, para que sejam feitas as despedidas. Mas então, o ataúde não traz os restos mortais corretos! O cadáver não era o esperado! Sim, houve uma troca. O IML se equivocou e colocou o “presunto” errado no “pão” errado! “Meu Deus, onde estará meu filho(a)”, desespera-se a mãe. Àquela altura, o corpo de sua eterna criança talvez esteja entulhado junto a dezenas de outros desconhecidos, dentro de uma câmara frigorífica, tal qual pedaços de vitelo. Seu sangue, misturado a diferentes tipos e tons, jaz absorvido por um vulgar pano de chão, torcido ao encharcar-se. Ou seja, na realidade, seus glóbulos brancos e vermelhos podem estar navegando na rede pluvial da cidade. Ela pode estar sem cabeça ou membros, não necessariamente pela gravidade do acidente, mas porque seu cadáver foi jogado para dentro da grande geladeira. Isto, claro, se o corpo estiver realmente lá! Por quanto tempo terá que aguardar uma família enlutada e, agora, aterrorizada com tamanha desestruturação?
O exemplo acima poderia ter sido extraído de um livro do escritor russo Fiodor Dostoievski. Entretanto, é o mais puro retrato da lamentável administração que conduziu o Instituto Médico-Legal à atual decadência. No começo de abril, o portal IG Paraná divulgou que uma mãe precisou esperar quatro meses para conseguir enterrar seu filho, devido a supostos problemas com o exame de DNA. Essa senhora certamente está enfrentando um sufocante vexame, somado à incrível dor proporcionada pela morte de um herdeiro. Quatro meses, vejam vocês... Cerca de 120 dias chorando pelo filho triturado pelas agruras do destino e sequer imaginando em qual jazigo depositar o que sobrou do rapaz, tudo pelo circo mambembe e de mau gosto no qual o IML se transformou. Algo precisa ser feito urgentemente. Que a nova direção do Instituto possa contornar habilmente a situação. A comunidade pede socorro.