O século dos socráticos a decadência da polis

Um abalo nas antigas estruturas

O século dos socráticos a desagregação da polis

Havia um sentimento de nostalgia entre os gregos relacionados aos valores cívicos, a desfragmentação da democracia do período clássico devido as constantes guerras tornaram frágeis os antigos alicerces que serviam de orgulho para os gregos da Hélade como civilização.

Nos séculos que sucederam o período clássico podemos observar esse saudosismo nas obras dos filósofos socráticos, que eram contemporâneos à fragilidade da Grécia. A época de ouro de Péricles, o espírito grego estava em sua ascensão. Na Polis ateniense havia uma concentração de bens e tanto na democracia, como na política estavam obviamente interligadas aos anseios dos gregos e tornando únicos, originais as organizações políticas de outros povos e suas organizações sociais.

Homero deixa em suas obras todo o arcabouço que serviria de patrimônio da Grécia sendo a essência do espírito grego desde a áurea Grécia até neste período de crise. O poeta seria constantemente citado, tanto como uma tentativa de fuga para os tempos heróicos, ou mesmo para criticas. Analisando então as fontes históricas deixadas por Homero há uma possibilidade de fazer uma relação até que ponto o poeta influenciou os filósofos socráticos, ou mesmo se há uma pertinência nessa correlação. Com um relato de Aristóteles na Constituição de Atenas: Demonstra como as relações do cidadão grego com a cidade estado já eram sentidas no tempo de Sólon mostrando como era sensível a relação da atividade política, sobre tudo entre aqueles que dispunham do tempo. Tucídides relata veemente o discurso de Péricles que reprova como inútil o cidadão que se mantém afastado dos negócios do Estado.

Não possuindo o mesmo acumulo de riquezas do período Clássico, a democracia fragilizada tornou se por parte dos filósofos contrários vitimas de criticas maiores como podemos verificar nos pensamentos de Aristóteles, e também nas obras de Platão, principalmente na República. As políticas democráticas segundo esses filósofos não poderiam ter êxito para dar inicio a uma nova ordem, e obter um modelo de cidade perfeita, como veremos mais a frente ao analisarmos a República de Platão, pois há todo um pressuposto nessa obra do modelo que seria uma cidade perfeita, e quais estariam melhores capacitados para administrar a polis grega.

Os longos anos de inúmeras guerras comprometeram a grandiosa era de ouro de Péricles, o que deixou grandes seqüelas no mundo grego. Tanto Platão como seu discípulo Aristóteles estavam de acordo na impossibilidade da democracia ateniense reestruturar o complexo mundo grego. Na República de Platão por mais abstrata e mesmo utópica resposta para solucionar a crise na Grécia percebemos o sentimento nostálgico dos tempos passados de estabilidade, e não faltam citações as obras homéricas comprovando o quanto eram significativas às obras do poeta, pois só na Republica de Platão são dezenas dessas citações, algo que nos direciona a uma incógnita quanto à profundidade em que estavam as obras homéricas enraizadas no espírito grego. (Louro, 1997, p.15).

As obras de Homero deixaram marcas que mesmo na filosofia grega orgulhosa da sua passagem do mito ao logos podemos ter plena certeza que é em Homero o maior símbolo da unidade e do espírito grego. Principalmente nesse período em que a crise afetou os sentimentos cívicos restando ao saudosismo dos tempos heróicos o elo que em uma amálgama possibilita nos compreender a importância de Homero para construção de outra magnífica herança da Grécia: A filosofia dos socráticos. Enquanto Platão idealizava um Estado ideal, com o maior alicerce na justiça, e Aristóteles com uma sistemática apresentação moral e ética para a Grécia, é com versos homéricos servindo como escudo e espada consolidando o espírito e pensamento grego sendo um importante fator para o Helenismo.

Lembrando que com a economia em crise houve uma possibilidade de um golpe oligárquico em Atenas, era um presságio que As cidades Estado gregas não seriam as mesmas. Observando como desmoronava as instituições na Grécia, Platão em sua República expõe seus interesses na organização de um Estado perfeito decretando a submissão do individuo a esse Estado, sobre a égide da ética e moral.

Em Atenas não poderia haver uma mudança e nada poderia ser feito sem uma reforma social que alcançasse as antigas raízes. Platão estava consciente disso, não podendo contar com a democracia, nem mesmo com oligarquia. A República é uma utopia, nem por isso não podemos deixar de ter interesse e enxergar a utilidade das utopias. A um interesse pragmático nisso. O filósofo enxergava claramente as adversidades da polis grega, pois em seus anseios haviam soluções, consequentemente fatores externos inviabilizariam toda beleza da quimera construída por Platão.

As conquistas macedônias ofereceram imprevisivelmente desejo para a revolução no pensamento grego. Platão sabia que a democracia muito fragilizada não poderia afastar as ameaças, consequentemente as oligarquias fortaleciam se devido corrupções e favores políticos. A nostalgia dava liberdade ao espírito de sonhar com uma Magna Grécia heróica, livre berço da moral e da ética. Platão não foi originalmente utópico, houveram muitos outros, mas o importante neste estudo é como as obras de Homero vieram servir de arcabouço para consolidação de um espírito que inspiraria e continuaria a inspirar outros futuros.