O analfabeto político

A igualdade moderna é diferente daquela exercida pelos gregos. Na modernidade ser cidadão é direito e dever de todos. Já na Grécia Antiga, especificamente em Atenas, a cidadania era um direito reservado apenas aos que pertenciam a Pólis. Todos os iguais cuidavam rotineiramente dos interesses coletivos.

Já a vida privada era diferente daquela que os homens tinham como responsabilidade junto a Pólis. O lar era o local pré-politico, permitindo-se ao déspota a violência ao invés da persuasão. Esse era o local onde existia todo tipo de desigualdade. Devido a pequena extensão territorial a guerra fazia parte do cotidiano dos antigos.

Na modernidade, os homens para poderem cuidar de seus interesses privados criam um sistema representativo no qual uma pequeno número de escolhidos possam fazer a política por eles. O terrítorio se expande, a guerra deixa de ser prioridade máxima e o comércio ganha cada vez mais destaque. Com a abolição da escravatura os modernos passam a cuidar diretamente do seus negócios. A ética capitalista ganha uma nova forma rompendo com os valores tradicionais.

Tudo isso cria a apatia entre os cidadãos modernos. Não vendo mais necessidade de participar diretamente da política e de não cobrar seus representantes, o homem moderno, frequentemente se afasta dos assuntos da esfera pública passando a agir em função das atividades definida pela econômica.

Eis que surge o analfabeto político no qual o poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht, destaca em uma das suas maiores poesias:

O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Ao invés de ação, a sociedade espera de cada um dos seus membros um certo tipo de comportamento, impondo inúmeras e variadas regras, todas elas tendentes a normalizar os seus membros, a fazê-los comportar-se, a abolir a ação espontânea ou a ação inusitada” (ARENDT, Hannah. “A condição humana).

Surge um conformismo através de uma ação política reduzida em função de uma padronização comportamental que aflige a maioria dos cidadãos modernos.

Nesse caso, a poesia de Bertolt Brecht confronta o conformismo daqueles que teimam em dizer que odeiam política, pois mesmo que atualmente a ação esteje reduzida, os modernos continuam sendo um animal político e social que deve lutar e exigir determinadas posturas de seus representantes.

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 07/03/2011
Reeditado em 11/03/2011
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