A RAPOSA DEU O BOTE
Noutras vezes chegava mais cedo. Era no primeiro ato do dia seguinte à posse que o pacote nos chegava, com embrulhadas surpresas. Desta vez, por se tratar de uma raposa, o bote veio a galope e demorou quarenta dias. Talvez para o impacto não quebrar de imediato o encanto e o gozo da lua de mel da presidenta com o público que a elegeu.
Passado o calor dessa quarentena festiva, abrem-se as cortinas do palácio. O sol do novo tempo areja espaços sombrios, desperta mentes sonolentas. Raia a clara realidade. E como todo fim de festa deixa uma funesta ressaca, sobras espalhadas pelos cantos denunciam exageros e provocam lamentos tardios. Que fazer para repor os gastos e reparar os danos?
Cortes. Rigorosos cortes nas "gorduras”. Gorduras? De onde tirá-las se o rebanho está magro? Grande parte dele sobrevive da ração “bolsa família”, e esta é intocável. Não se pode tirar do povo o natural nutriente gerador de votos.
Projetos. Sim, os projetos; que tal repensá-los? Mas como? Suceder a um governo para o qual há o compromisso de dar continuidade implica a impossibilidade de ser declarada qualquer “herança maldita”. Pegaria mal!...
A máquina. Sim, a máquina pública está inchada. - Reconhece a presidenta. - “É por ela que começaremos os cortes. Não. Os 37 ministérios são indispensáveis.” Claro, digo eu: não se pode desacomodar a base da militância partidária. Ela é tão forte e essencial quanto temerária.
“Ah!... As nomeações, os concursos”- decide a presidenta: “de já todos estão suspensos. Até mesmo os aprovados nos últimos pleitos. Danem-se. Temos que cortar gastos.”
E assim ficam todos com seus danos. Os exonerados, para que outros lhes ocupem os lugares. Os aprovados em concurso, amargando a frustração de uma estressante investida que se vê inútil. E os que há meses se preparam para concorrer às vagas na segura carreira do serviço público, muitos dos quais até largaram empregos, trancaram semestres em faculdades para se prepararem para as provas, amargam igual decepção. Danem-se, diz o governo: " precisamos cortar gastos".
Brasília, 14/02/2011
Noutras vezes chegava mais cedo. Era no primeiro ato do dia seguinte à posse que o pacote nos chegava, com embrulhadas surpresas. Desta vez, por se tratar de uma raposa, o bote veio a galope e demorou quarenta dias. Talvez para o impacto não quebrar de imediato o encanto e o gozo da lua de mel da presidenta com o público que a elegeu.
Passado o calor dessa quarentena festiva, abrem-se as cortinas do palácio. O sol do novo tempo areja espaços sombrios, desperta mentes sonolentas. Raia a clara realidade. E como todo fim de festa deixa uma funesta ressaca, sobras espalhadas pelos cantos denunciam exageros e provocam lamentos tardios. Que fazer para repor os gastos e reparar os danos?
Cortes. Rigorosos cortes nas "gorduras”. Gorduras? De onde tirá-las se o rebanho está magro? Grande parte dele sobrevive da ração “bolsa família”, e esta é intocável. Não se pode tirar do povo o natural nutriente gerador de votos.
Projetos. Sim, os projetos; que tal repensá-los? Mas como? Suceder a um governo para o qual há o compromisso de dar continuidade implica a impossibilidade de ser declarada qualquer “herança maldita”. Pegaria mal!...
A máquina. Sim, a máquina pública está inchada. - Reconhece a presidenta. - “É por ela que começaremos os cortes. Não. Os 37 ministérios são indispensáveis.” Claro, digo eu: não se pode desacomodar a base da militância partidária. Ela é tão forte e essencial quanto temerária.
“Ah!... As nomeações, os concursos”- decide a presidenta: “de já todos estão suspensos. Até mesmo os aprovados nos últimos pleitos. Danem-se. Temos que cortar gastos.”
E assim ficam todos com seus danos. Os exonerados, para que outros lhes ocupem os lugares. Os aprovados em concurso, amargando a frustração de uma estressante investida que se vê inútil. E os que há meses se preparam para concorrer às vagas na segura carreira do serviço público, muitos dos quais até largaram empregos, trancaram semestres em faculdades para se prepararem para as provas, amargam igual decepção. Danem-se, diz o governo: " precisamos cortar gastos".
Brasília, 14/02/2011