LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA. MAS PODE CHAMAR DE GÉRSON...
Na década de 70, o ex-jogador Gérson, da Seleção Brasileira, foi garoto-propaganda de uma marca de cigarros cujo anúncio tinha como lema levar vantagem em tudo. O slogan era "Leve vantagem você também". A campanha fez tanto sucesso que a expressão "levar vantagem" ficou conhecida como "Lei de Gérson" e passou a ser referência em todos os casos em que alguém obtém alguma regalia de maneira anti-ética, passando outros para trás, sendo "esperto", dando um jeitinho, enfim, obtendo alguma vantagem mesmo que isso seja contra a lei ou prejudique outras pessoas. Foi uma injustiça para com o craque Gérson, dono de brilhante carreira no futebol brasileiro, campeão mundial em 1970 e que nada tinha a ver com o significado que aquela expressão passou a ter. Por outro lado, a Lei de Gérson nunca esteve tão em evidência em nosso país. Ao contrário de outras leis, oficiais, que já caducaram, não "pegaram" ou foram revogadas (alguém lembra do kit de primeiros socorros??) a lei que leva o nome do ex-camisa 8 da Seleção, embora não conste em nenhum código, parece mais válida do que nunca. São "espertos" que furam filas, estacionam sobre as calçadas, ultrapassam pelo acostamento, fraudam licitações. Tem até jogador de futebol simulando sequestro para justificar o atraso na reapresentação ao clube. A categoria que mais a utiliza, sem dúvida, é a nossa classe política, sempre um (mau) exemplo quando se trata de defender seus próprios interesses. A discussão sobre um mísero reajuste do salário mínimo leva meses de negociação só para definir se o valor será de estratosféricos R$ 540,00 ou exorbitantes R$ 560,00. Mas para reajustar os próprios salários em mais de 60%, os nobres parlamentares não demoram mais do que algumas horas. Uma das principais figuras (talvez a maior) a fazer uso da Lei de Gérson nos últimos anos foi o excelentíssimo ex-presidente Lula da Silva. Ele sempre disse que foi o primeiro trabalhador a ocupar a Presidência da República. Isto significa que professores (como Jânio Quadros), médicos (como JK) e advogados (como Itamar Franco) não são trabalhadores. Analisando sob esta ótica, Lula deixou de ser trabalhador em 1975, aos 30 anos, após longos 16 anos de trabalho (dos 14 aos 30). Sua trajetória a partir daí é um exemplo típico de uso da Lei de Gérson. Sua Excelência poderia ter aproveitado o tempo para concluir seus estudos, como fizeram outros sindicalistas. Poderia ter aprendido uma segunda língua ou ao menos ter aprimorado seu Português. Cursos extra-curriculares (nem que fosse informática...) também não lhe teriam feito mal. Mas ele não se preocupou com isso. Era muito trabalhoso. Demorou um pouco, mas ele descobriu que para chegar à Presidência não era preciso tanto sacrifício. Desde que fossem feitas as alianças certas, não era necessário estudar, desenvolver teses, escrever livros (nem ao menos ler...), ter coerência política. Não era preciso nem ser prefeito, senador ou governador. E assim ele venceu, através de uma aliança que foi de Sarney a Renan, de Collor a Maluf, de sindicalistas a banqueiros. Lula usou a Lei de Gérson em toda sua plenitude, já que passou metade da vida viajando, participando de congressos, fazendo promessas, e mesmo assim chegou ao mais alto posto do país. Ao assumir a presidência, sua "esperteza" apenas aumentou. Tudo aquilo que ele criticava por ser anti-ético, todos os que acusava de corruptos, passaram a ser elogiados desde que o apoiassem. A ética e a moral foram substituídas pelo casuísmo, pelo oportunismo e pelo jogo de interesses. As leis e a ordem pública não precisavam ser respeitadas e obedecidas quando se tratava dos atos praticados pelos companheiros de partido e pelos amigos do MST. Terroristas internacionais (de esquerda) foram considerados perseguidos políticos enquanto adversários do regime cubano foram taxados de bandidos comuns. Foi crítico das democracias ocidentais e amigo de regimes totalitários que lhe davam popularidade. Achou absolutamente normal que Cid Gomes, seu aliado, tivesse levado a sogra para passear na Europa às custas do dinheiro público. Passou a tratar o Tribunal de Contas como inimigo quando algumas de suas obras foram paralisadas por suspeita de irregularidades. Cargos em órgãos públicos foram distribuídos à vontade entre ex-sindicalistas e companheiros de luta, inchando de maneira absurda a máquina estatal. A CPMF, chamada por ele de imoral e inútil no governo anterior, passou a ser defendida como imprescindível, mesmo sendo lesiva ao contribuinte. Em 2008, já pensando na sua saída do Planalto, Lula regulamentou a lei 7474 que aumenta os privilégios dos ex-presidentes. Foi nos últimos meses, porém, que sua Excelência usou de maneira brilhante o jeitinho brasileiro. Começando com gentilezas feitas à nova Presidente. Assim que a companheira Dilma foi eleita, Lula convidou-a a morar na Granja do Torto, residência de veraneio do Presidente, como se esta lhe pertencesse. Nunca antes na história deste País, um candidato eleito teve o privilégio de morar em uma residência oficial, com toda a mordomia inclusa, antes de tomar posse. No Governo Lula, isso foi possível. Também comentou, com ironia, que para levar para casa todos os presentes que ganhou nos últimos 8 anos, lotaria 7 caminhões. Só esqueceu que os presentes foram dados ao governo brasileiro e não a ele. No final de 2010, ele também conseguiu que seus dois filhos e um neto de 14 anos tivessem direito a passaporte diplomático, sob alegação de "interesse do país(!!!)". Para completar, assim que passou a faixa para Dilma, a família Lula da Silva viajou em férias para o Guarujá, hospedando-se no Forte dos Andradas, privilégio que apenas autoridades deveriam ter. E isso não inclui ex-presidentes. Para recepcionar a família real, foram gastos R$ 6.000,00 em mercadorias e equipamentos. Não se trata aqui de avaliar o governo Lula, que teve seus erros e acertos. Se trata de protestar contra a atitude de um governante que nunca conseguiu separar o que é público do que é privado, esquecendo que as posturas de Presidente da República e presidente de sindicato devem ser diferentes. Obter todas as vantagens pessoais que o cargo pode oferecer parece ter sido um dos seus grandes objetivos. Assim como aqueles milhares de "espertos" que ficaram conhecidos como "Gérsons". Talvez isso explique porque sua popularidade é tão alta. No fundo, muitos gostariam de estar no seu lugar. Que tal mudar o nome da "lei dos espertos" para "Lei de Lula"?