Sobre Lula e Fernando Henrique Cardoso
Sempre que pode, o ex-presidente Lula gosta de afirmar que não lê jornal e dá-nos a entender, quando discursa, que na verdade, ele nada lê. O seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, mais conhecido pela sigla FHC, é doutor em Sociologia e Ciências Políticas e diz ter como livro de cabeceira o “Príncipe” de Maquiavel. Por outro lado, não faz muito tempo, o senador Antônio Carlos Magalhães, de custosa memória, na casa do senado brasileiro, começou seu discurso com as seguintes palavras: “Peço licença aos senhores senadores para pronunciar-me de pé, pois o cabo dos punhais ainda balançam, cravados que estão nas minhas costas”. A singularidade da expressão provocou uma explosão de risos. Entretanto, sem desconcertar-se, ACM, repetiu as mesmas palavras, comparando-se a Julio César e os seus inimigos à Brutus e outros traidores de César. Depois desse esclarecimento de ACM, ninguém riu mais.
Confesso que nada vejo em comum entre Julio César e ACM, e menos ainda entre o senado brasileiro e o antigo senado romano. Embora, sempre que podem, os membros da câmara de deputados do Brasil se furtam a comparar-se aos antigos romanos, hipocrisia que para o palhaço Tiririca não será possível, já que ele não conhece a história da humanidade.
Há no Brasil um senado e muitos de seus membros são suspeitos de venderem ocasionalmente suas vozes, como fazia-se em Roma: eis a única semelhança entre os nossos parlamentares e os romanos. Ademais, as duas nações parecem-me inteiramente diferentes, tanto no bem quanto no mal. Mas, devo confessar, pois se entre os romanos os governos de César e Augusto se imortalizaram, aqui no Brasil, o governo do torneiro mecânico Lula entra para a história, e como Augusto outrora em Roma; Lula para os brasileiros, encerra seu ciclo de governo como o melhor de todos os presidentes da República Federativa do Brasil. Eis aqui, outra semelhança essencial entre Roma e o Brasil, vantajosa para nós, é claro.
Antes do governo Lula, FHC governou o Brasil por tortuosos e longos oitos anos. O governo de FHC foi feito para um grande brilho, mas seu fim foi funesto, como sempre acontece com os governos arrogantes, gananciosos e insensíveis. A finalidade do governo de FHC teve como ímpeto fazer brilhar suas loucuras econômicas e impedir que os pobres crescessem. O seu governo, sem dúvida, custou caro para a igualdade entre os brasileiros, isso, tanto no campo econômico, quanto na educação e na justiça. Outros governos do Brasil não tiveram menos perturbações do que o de FHC, nem estagnaram tanto o país quanto o dele, e, no entanto, embora retrocedendo em alguns pontos, esses governos cheios de um orgulho punível, nada querendo dividir com o povo; ocuparam-se em rapinar e depredar o edifício público das estatais do povo brasileiro, mas FHC foi além, seu governo encarniçou-se na ambição, combatendo por objetivos particulares sem coração e seguramente sem nem uma intenção nacionalista.
O governo de FHC equivale às dores do parto, o de Lula à alegria da criança. O doutor FHC não tem espírito, mas tem muita ambição mal empregada. Seu segundo mandato foi sem motivo, faccioso e sem propósito, conchavando por conchavar, por ser tão ruim, apagou tudo de bom que realizou no primeiro mandato. O povo brasileiro não sabia quem era o seu presidente e deixou de querer saber; quando o escritor baiano Jorge Amado faleceu, e FHC, então presidente da República, não foi ao seu enterro, enquanto autoridades do mundo inteiro choravam a nossa perda. Por conseguinte, Roberto Drummond, também escritor, só que mineiro, disse em todos os jornais que por não ter ido ao enterro de Jorge Amado, FHC provava mais uma vez não representar o povo brasileiro. FHC ficou mais detestado ainda, entre os de letras, quando na morte de Roberto Drummond, não enviou para sua família, nem se quer um bilhete de pêsames. Ele é doutor, mas parece não se engraçar com os intelectuais. Ouvi dele, em uma entrevista, que lê Maquiavel. Ah, FHC. Maquiavel?
Uma revolução no Brasil foi feita pelo governo do torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva. Essa revolução de avanços está nas estradas pavimentadas, na alimentação do povo, na melhoria do Estado e na melhor distribuição de renda. O governo do quase analfabeto Lula criou quatorze Universidades Federais, já o do doutor FHC nem uma. Nos tempos detestáveis de FHC vivíamos finais de anos em penúria e desespero, tratando-se apenas de saber se teríamos ou não emprego nos próximos anos. Devo admitir que os governos dos militares foram cruéis, o de Fernando Collor de Mello, abominável, e o de FHC foi ridículo.
Frei Beto conta-nos que viu Lula carregar o caixão de sua mãe de mãos algemadas, cercado por policiais do Dops, pois estava preso pela ditadura militar por liderar greves no ABC paulista. Essa é uma cena forte. Lula foi forte. Ele não ler jornais, mas ler a alma do povo. Dele tenho anotado uma sentença tirada do seu último pronunciamento como presidente, transmitido em rede nacional. Lá ele diz: “Onde houver um jovem que queira sonhar grande, peço-lhe que olhe a minha história e veja que na vida nada é impossível”. Acreditem-me, isso ecoará pela história, já FHC, disse que é para esquecermos tudo que ele escreveu... Então, que assim seja!
Durval Baranowske