Henrique Meirelles impõe à presidente eleita sua dispensa da condução do Banco Central. Porquê?

Henrique Meirelles impõe à presidente eleita sua dispensa da condução do Banco Central. Porquê?

Henrique Meirelles rasgou o verbo para "os três porquinhos" e a comissão de transição da presidente eleita: disse que, sem autonomia, não deseja continuar na presidência do Banco Central. E, além disso, não aceita continuar como presidente interino, aguardando a escolha de um novo titular para o cargo.

Parece um rasgo de coragem e pouca educação da parte de Meirelles - mas talvez seja apenas uma forma eficiente de resolver rapidamente um problema que parece ter uma única solução: sua dispensa do cargo de presidente do Banco Central.

Num governo caracterizado pela ascedência de gente do porte do mensaleiro José Dirceu e, em cujo projeto de governo está estampada claramente a política de intervenção na atividade econômica (estatização ou intervenção estatal em determinados nichos econômicos e financeiros), não há ambiente para Meirelles.

E talvez ele desconfie que, no momento em que uma grave crise cambial varre o mundo, inundando o mercado planetário de dólar barato, à falta de condições mínimas para enfrentar o problema, o negócio é sair de cena.

Com efeito, ele sabe que a situação do Brasil no meio da crise não é nada confortável, já que é um dos mercados mais atrativos e sedentos de capital volátil, posto que o governo brasileiro pega dia sim, outro também, absurdas quantias de dólares de empréstimo para rolar sua estratosférica dívida interna e externa*, que foi responsável pela utilização de 51% dos gastos governamentais do ano passado**.

E, do lado da presidente eleita e, sua equipe de trânsição, os sinais são contraditórios e, indicativos de que a gastança (em última instância, o motivo do governo ir ao mercado pegar o dinheiro que não tem, para financiar seus débitos) vai continuar, pois a despeito da fala em torno de controle dos gastos governamentais, os sinais em contrário são muitos, como, por exemplo, a criação de mais um ministério e, o financiamento de uma obra polêmica e faraônica, cujo custo poderia aplacar parte da demanda crônica por portos, ferrovias, rodovias e, aeroportos.

Com a fragilidade econômica erigida a partir da gastança num ambiente de crise cambial, ser Presidente do Banco Central de um governo intervecionista, talvez não lhe seja interessante ou, confortável. Melhor deixar o cargo junto com o popular presidente que o levou para o cargo e, esperar o que sucede no cenário político nacional...

Assim, ao que parece, ele só adiantou as coisas, da única maneira possível: estabelecendo exigências para permanência no cargo, que estão na contramão da estratégia do governo que se aproxima.

Meirelles, ex-presidente mundial do Bank Boston, onde iniciou a carreira no posto mais humilde numa agência de investimentos do centro de Goiânia, lembremos, foi guindado à presidência do Banco Central pelo atual presidente da república em seu primeiro mandato em virtude de sua insquestionável experiência profissional, e bem assim, de sua visão conservadora da atuação do Banco Central, que significava a esperta garantia de continuidade da política monetária moeda estabelecida no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Sua presença à frente do Banco Central passou meio despercebida num governo cujo comando tinha um político que sempre exigia - ou trazia os holofotes sempre para si. Mas, sua importância não pode ser desconsiderada, posto que emitiu para os centros decisores dos mais diversos organismos e, corporações privadas, um sinal de confiança e, seriedade no comando da política monetária, essencial para a garantia das decisões de investimentos no país.

Nesse sentido, ele vai sair de cabeça erguida, pois num governo constituido por uma sucessão de escândalos e negociatas de natureza criminosa, conseguiu levar a bom termo a continuidade da política iniciada no governo anterior, evitando macumbaria em relação à política monetária e, livrando o Banco Central do Brasil da sanha predatória dos petistas por cargos e "oportunidades" diversas.

De mácula, talvez a aquisção de um banco quebrado do Antonio Ermírio de Morais e,o carimbo de inépcia do BC em relação à situação falimentar do Banco Panamericano (da qual decorreu mais um portentoso escândalo no governo federal). Em relação a este, não parece aceitável que seus subordinados não conseguissem detectar através do exercício de sua competência - aí incluídas os procedimentos de auditagem contábil e bancária -, o que ocorria por ali.

Se voltar à política goiana, Meirelles terá de se haver com os eleitores que lhe deram um mandato de deputado federal com retumbante votação, cargo do qual renunciou sem nenhuma cerimônia, pouco tempo depois de sua eleição pelo PSDB, justamente para assumir a presidência do BC.

Mas é claro que, dado o sucesso na condução da política monetária brasileira, ele se credencia para cargos políticos importantes - em Goiás ou qualquer outra unidade da federação. Nesse sentido, é bom recordar que,após sua filiação ao PMDB, os modebras goianos esperaram por ele um bom tempo, oferecendo-lhe a vaga de candidato a governador, nas últimas eleições...

* Se lembra que, em plena campanha eleitoral, se alardeava que o Brasil havia pago a dívida externa, caro leitor? Pois, é:o governou pagou apenas a sua mais ínfima e barata quantia, isto é, o débito com o FMI, de quem o Brasil é sócio-cotista (isto é, pega dinheiro lá, quando é preciso e, deposita para compor o fundo que vai ajudar a outros países, quando pode). A maior parte da dívida pública, isto é, a interna, de maior volume e, maior custo na rolagem (e que é o maior motivo de nossa escorchante taxa de juros), continuou crescendo feito uma bola de neve e, ninguém lembrou dela - nem a inepta oposição.

**Quer ler um artigo esclarecedor sobre o assunto "dívida pública"? Então quero lhe indicar um dos melhores (e o mais didático) que já li - e ele está postado aqui, no Recanto das Letras, no perfil do Athos de Alexandria. Leia, porque vale a pena. Olha o link

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2628585

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Em 24.11.2010 - Hoje pela manhã, Ricardo Boechat informava aos ouvintes que Henrique Meirelles não havia consiguido sua recondação pela presidência do Banco Central... - mas como é lamentável e sórdido o mundo capachão da imprensa "a favor"!