A dupla vitória de Dilma

Existem vitórias amargas e derrotas com sabor de glória! Quando isto acontece? Quando o vencedor de fato, não é o vencedor moral. A história nos deu esta lição inúmeras vezes. No esporte, basta lembrar a derrota da seleção da Holanda para a seleção da Alemanha Ocidental, na Copa do Mundo de Futebol de 1974, ou a desclassificação da seleção canarinho (campeã moral) na Copa de 1982, sem falar nas armações que tornaram Michael Schumacher heptacampeão de Fórmula 1.

No campo político, ainda hoje se debate o “golpe” aplicado ao candidato Luís Inácio da Silva, nas eleições de 1989, quando a edição do Jornal Nacional favoreceu deliberadamente o candidato Fernando Collor, que venceu (de fato, mas não moralmente) a eleição. (Quem ainda tiver dúvidas quanto à edição fraudulenta, segue o link – ao final – para o depoimento do jornalista Armando Nogueira, que foi contra a edição. Nogueira é um dos pioneiros do telejornalismo brasileiro e, na época, um dos responsáveis pela divisão de jornalismo da Rede Globo. Após este episódio, Nogueira foi “demitido” do jornalismo e se dedicou às crônicas, principalmente sobre futebol).

Na eleição de 2010, concluída em 31/10, embora não se possa dizer que tenha havido uma ação tão deliberada, quanto a de 1989, contra a candidata do PT, foi possível observar que muitos veículos de comunicação de alcance nacional, como a revista Veja, tentaram minar o processo eleitoral com a apresentação de factóides (informação ainda não apurada que, de tanto ser repetida, passa a ser tida como verdadeira e inquestionável) e denúncias guardadas para o momento oportuno (exemplos: Revista Veja de 27 de outubro de 2010, página 68 / Revista Veja de 13 de outubro de 2010, capa), além da rede de “boatos tucanos”. É importante salientar que não constitui crime um determinado meio de comunicação manifestar o seu apoio a um candidato, desde que o faça de forma clara e manifesta e não de maneira velada ou tentando enganar o leitor/eleitor com uma pretensa neutralidade.

O que se pode dizer, após a apuração dos votos e a inquestionável vitória de Dilma Rousseff, é que o eleitor brasileiro já não é mais o mesmo. A vitória de Dilma é dupla, é factual e moral e não se deve apenas à popularidade de Lula, mas ao amadurecimento da Democracia e do processo político no Brasil. O fracasso do ataque moral contra a candidata do PT demonstrou que a oposição vai ter que rever os seus métodos, vai ter que subir ao nível do novo eleitorado, que ela desconhece. Tal fato, por sua vez, forçará o poder instituído a uma autocrítica e ao reconhecimento dos seus pontos fracos, como a confusão entre os interesses do Partido e os interesses da Nação (calcanhar de Aquiles do Governo Lula), o que redundará em ganhos para o país como um todo.

Enfim, embora estes termos pareçam desgastados, é da dialética entre a “situação” e a “oposição” que dependerá o futuro do Brasil, para que possamos ocupar, de fato, o nosso lugar, de direito, entre as grandes nações do planeta.

Links:

Edição de vídeo polêmica de 1989

http://www.youtube.com/watch?v=rJ3rudZ2odA&feature=related

Depoimento de Armando Nogueira e dos responsáveis pela edição de 1989.

http://www.youtube.com/watch?v=8DapVma1Ueg&feature=related

Paulo Irineu Barreto
Enviado por Paulo Irineu Barreto em 07/11/2010
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