Confrontos

Nessas coisas sobre os confrontos nas ruas entre petistas e psdbistas, há tanto a se dizer, mas pensei ser sempre um assunto óbvio. Portanto, fiquei na minha, como a ameba sem boca. No entanto, lendo ontem um artigo do Cony na Folha de S. Paulo, percebi mais uma vez, que o que parece óbvio demais a alguns, não quer ser a outros. Isso, por um motivo muito simples, o mais simples do mundo, eles preferem não saber, precisam não saber, carecem veementemente de não saber. Por quê? Porque senão sucumbem, chegam à proximidade da automutilação. E, citando Cony em seu próprio artigo, “Aquela nordestina recém chegada ao Rio, brutalizada pela exploração capitalista do emprego doméstico, provavelmente sem carteira assinada, sem direito a férias, sem direito a nada, desdenhando os avanços sociais do governo Lula, como ela poderia votar no Serra, galho desgarrado das privatizações do neoliberalismo e do consenso de Washington?” É esse galho desgarrado que dá emprego a ela hoje, comprando seu voto no estilo seguro morreu de velho, das suas hipócritas patroas, mesmo que seus pais, ainda no nordeste, não abram mão do voto em Lula, que os tirou da miséria absoluta com o Fome Zero e o Bolsa Família. É uma questão de conveniência sobrevivencial eadaptativa. E embora haja muita coerência na atitude de seus pais, lá no nordeste, há muita nela também, no Rio, pois defende seu pão diário com unhas e dentes, mesmo que o pão seja amanhecido e duro, no estilo burgues neoliberal. Saber mais sobre a maldade de quem nos paga, não paga a maldade de ter que dormir e sorrir com aquilo que se paga.

Enfim, embora não seja petista, prefiro o estilo sindicalista dos mesmos, que jogam bobinas de papel nas cabeças de caras às claras, com direito até a filmagem, pois a maldade burguesa não se filma, é subliminar, puro terror. Esse terror de ter que acordar no dia seguinte sem outra opção, senão a dela para sobreviver. Mas, graças aos céus, um governo Lula, com toda a sua socialdemocracia, cheia de assistencialismos aos mais fracos, acabou acontecendo. O PSDB está para o Brasil, do mesmo modo que os republicanos (partido de Bush) estão para os EUA, enquanto o PT estaria para os democratas (partido de Obama). Se eles, os republicanos, são tão cruéis lá, não poderia ser tão diferente aqui. Lembrando que o neoliberalismo lá é bem menos danoso que aqui, pois aqui não há toda aquela cidadania e garantia de direitos que há lá. Obrigar um indivíduo, que não tem dinheiro para comprar carne, a se submeter às regras que levam a um cardápio que oferece até filé mignon é perfeitamente válido, desde que o governo ao menos assegure a ele uma forma digna de comprar a carne. O filé mignon fica por conta de seu livre arbítrio. Isso se chama capitalismo social democrata, inclui infraestruturação de opções ao povo que ainda não chegou à carne, podendo, depois, partir para o filé, se quiser.

Dassault Breguet
Enviado por Dassault Breguet em 23/10/2010
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