EM DEFESA DO TIRIRICA
Não consigo compreender o porquê de tanta gente indignada com a eleição do palhaço Tiririca.
A mim soa ilógica e preconceituosa essa indignação ou, no mínimo, contraditória.
A imprensa burguesa, como sempre em suas análises para lá de superficiais, consegue convencer com grande facilidade seus “leitores”.
Estes carecem muito de perspicácia e ainda mais de profundidade de pensamento.
Profundidade? Estou pedindo muito a vocês?
Pedir para um leitor das tradicionais revistas semanais de informação ou dos jornais de grande circulação desse país para que pensem por si mesmos é como querer que o meu cachorro redija um tratado filosófico.
Ou seja, é impossível um pensamento autônomo para a média da classe “mérdia” do Brasil.
Essa classe social, pequena por natureza, pensa somente o já pensado, engole o já deglutido, têm preguiça ou mesmo incapacidade de análise; em suma, essa classe citada apenas regurgita os valores que escuta, lê e assiste; apenas reproduz chavões e lugares-comuns.
Pedir para que pensem é um pedido em vão, pois há uma incapacidade congênita para que desenvolvam uma atividade de tal complexidade.
Pensar não é reproduzir o que se leu ou ouviu sem refletir um mínimo sobre isso, pensar não é ouvir o Arnaldo Jabor fazer suas crônicas ridículas e depois fazê-las circularem pela Internet, e nem acreditar que está informado porque é assinante da Veja.
A eleição de Tiririca significa a completa descrença com a política brasileira, a total desconfiança e descrédito do legislativo brasileiro, ou seja, ao contrário de quem votou num político tradicional e acredita que por ele será representado, aquele que votou no Tiririca já tem a certeza de que esta é mesmo a cara do legislativo brasileiro.
Aquele que votou no Tiririca sabe que não será representado seja por este palhaço ou por qualquer outro, a menos que este eleitor seja um aliado próximo do eleito, aí sim poderá esperar algum benefício, assim é diferente, e essa ressalva é necessária.
Ficará pior o legislativo com o Tiririca?
Acredito que não.
De fato, agora o legislativo brasileiro tem o seu representante e sua cara expressa na imagem do palhaço Tiririca.
É o mais adequado símbolo para a Câmara Federal, dada a sua incapacidade de representar o povo brasileiro.
E você acredita no palhaço em quem votou?
Acredita que ele é muito diferente do Tiririca?
Que ele é sério, pois possui educação formal?
Com certeza, com Tiririca ou sem ele, a política continua tal e qual.
Quem possui poder político e econômico controla as decisões mais importantes e as menos importantes também.
Quem está no poder, seja quem for, representa sempre somente a si mesmo e a uns poucos parentes e aliados.
Daí decorre a inocuidade da eleição de Tiririca.
Seu slogan de campanha é verdadeiro.
Junto a isso, mais uma vez a imprensa e alguns seguimentos sociais expressam escancaradamente o seu preconceito.
“O Tiririca é um analfabeto, o que ele fará na Câmara dos Deputados?” Dizem pelas ruas.
Não consigo ver em que sentido a educação formal por si só torna melhor um homem.
Os nazistas da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, eram em sua maioria graduados, pós-graduados, mestres e doutores.
Cientistas acima de qualquer suspeita.
Quem disse que se constrói o caráter de um ser humano e que este pode ser medido por sua educação formal?
A leviana mídia burguesa, sem nenhum tipo de reflexão mínima que seja, só faz perpetuar o senso-comum; e a idiotice brasileira se generaliza sem precedentes.
Alguns idiotas compram essas ideias com uma facilidade incrível, e pagam caro por isso.
Por fim, essa é a democracia representativa brasileira.
Não acredito que alguém que seja maduro e inteligente acredite que dentro desse sistema de governo há possibilidade de atender interesses da população em geral.
É preciso ratificar o slogan de campanha do palhaço mais votado do Brasil.
Talvez a Câmara fique mais divertida com o Tiririca.
Com certeza, ficará menos hipócrita, pois agora possui um deputado, ao contrário dos candidatos “sérios”, que não tem vergonha de dizer que nem tem ideia do que vai fazer.
Duvido que vamos ficar pior com ele.