PÃO, CIRCO E ELEIÇÕES: O CASO TIRIRICA
"Adivinha quem está falando? Duvido que vocês adivinhar (sic). Sou eu! O Tiririca! Candidato a deputado federal! 2222! Sou eu, o abestado! Vote 2222!" Ou então: "Você sabe o que faz um deputado? Na realidade eu não sei... mas vote em mim que eu te conto! Tiririca, pior que tá não fica!". Estes são alguns trechos da verdadeira "pérola" que é a candidatura do humorista Tiririca, famoso pelo hit "Florentina" e que recentemente conseguiu relativo sucesso no humorístico da TV Record "Show do Tom"
O cearense Tiririca, ou Francisco Everardo Oliveira Silva, alçou sua trajetória baseado no humor popular. Em um país de dimensões continentais, cujos preconceitos regionais e níveis de desigualdade social são proporcionais à sua multiplicidade cultural, a figura desse humorista é muito apropriada. Ele é a personificação do nordestino, nascido no seco e empobrecido agreste de sofrimento e solidão. A terra é seca, mal se pode cultivar. Morrem as plantas e o gado. A vida é triste nesse lugar. Então, este bravo sertanejo imigra para o rico Sudeste em busca de melhores condições de vida. Mas será premiado com um forte preconceito regional. Ao obter fama e prestígio em locais como Rio e São Paulo, Tiririca é um mito nordestino.
Justiça seja feita à sua verve artística. O palhaço cantor possui talento. Ele parece talhado para servir o humor, é dotado de uma "rara beleza", enverga como ninguém os "mantos circenses" e é dono da impagável melodia "Florentina", um clássico do brega, acima de tudo. Sua popularidade e carisma são indiscutíveis.
O ano é 2010. É ano de Copa do Mundo e de eleições. Uma temporada, portanto, movimentada para o povo brasileiro. Em julho, a esquadra de Dunga foi batida pela Holanda. Choveram críticas sobre o futebol e o técnico pragmáticos e sem graça. Dunga não é querido pelo público, principalmente por estes fatores - em que pese a derrota. Típico de uma nação que idolatra nomes como Netinho de Paula, Batoré, Kiko e Leandro (KLB), Mulheres Pêra e Melão, Tati-Quebra Barraco e "BBBs" em geral (uma nova "profissão" consagrada neste país). Mas espere um instante: todos eles são candidatos destas eleições! Isto sem falar de eleições passadas (quem não se lembra de Clodovil Hernandez?). O Brasil já entregou o poder máximo a Juscelino Kubitschek, Fernando Collor de Mello e Luís Inácio Lula da Silva alicerçado em uma máxima: o carisma. Historicamente, os brasileiros não fiscalizam o passado de seus candidatos, não analisam friamente suas propostas nem exijem transparência e firmeza de caráter. Fatores que decidem eleições frequentemente são beleza, charme e humor. Muitos candidatos a deputado utilizam-se de nomes estapafúrdios e canções parodiadas em suas propagandas. No país do mensalão e do caixa dois, política não passa de folclore.