Sufocando a Imprensa
Sufocando a Imprensa
Eurico de Andrade Neves Borba
70, Ex professor da PUC RIO, Ex Presidente do IBGE, aposentado reside em Ana Rech – Caxias do Sul
Nestas próximas eleições, de 3 de outubro de 2010, mais do que o modelo de desenvolvimento econômico e social, o que está em jogo são a liberdade e a democracia.
Até algumas semanas atrás parecia que, além da monotonia das propagandas e da mediocridade vulgar da maioria dos candidatos, o que aconteceria seria a tradicional apresentação de propostas mal delineadas e repetitivas. No entanto, de repente, começa a ser apresentado, pela imprensa, não pelos candidatos ou pelos partidos, uma grande lista de roubalheiras recentes ou realizadas em passado próximo.
O atual governo, além das medidas que não poderia deixar de tomar – apurar as irregularidades – foi surpreendido pelos pedidos de demissão dos envolvidos, demitiu uma ministra e passou a atacar a imprensa com todos os seus inúmeros recursos e instrumentos. Parece que o governo quer desmoralizar os jornais, revistas e noticiosos da televisão com uma violência verbal e uma torrente de propaganda, típica dos estados pré-totalitários.
O Presidente/Candidato propõe a eliminação de um partido político que incomoda e, pasmem, afirma ser preciso acabar com os formadores de opinião, pois a “opinião publica somos nós”...
Isto é muito grave. Com as ultimas manifestações do governo e do partido a que pertence, é nítida a intenção de desacreditar e desmoralizar a imprensa, atribuindo – lhe a intenção de ser contra ao desejo da nação. Diz o Presidente, num comício em praça publica, com mentirosa grosseria, referindo-se à elite brasileira, que “esta gente me detesta”...
Atenção - mudou o foco da eleição.
O governo e seu partido maior de sustentação, irritados com as criticas e denuncias que não cessam de surgir e que não conseguem contestar, mostra enfim sua face autoritária – quer a submissão total da nação, não aceita criticas e pretende relegar a imprensa a um papel de instrumento auxiliar do Diário Oficial.
O Brasil, depois de décadas de tumultuada consolidação democrática, possui instituições fortes e respeitáveis: o Poder Judiciário, a Igreja Católica, as Forças Armadas, as Universidades, a intelectualidade e a imprensa livre. No momento é a imprensa a única instituição com condições de se manifestar com vigor e possibilidades de penetração esclarecedora na mente do povo alienado, que não se interessa pelo o que está acontecendo, não consegue avaliar a gravidade do momento político.
É preciso, com vistas ao futuro, apoiar a imprensa. Cerrar fileiras na defesa do seu direito de informar, criticar e debater as questões nacionais, em benefício da representatividade democrática das próximas eleições. É a esperança que no resta de não permitir que o Estado seja instrumentalizado, tomado de assalto por um partido que não tem demonstrado apreço e amor pelo debate esclarecedor, à democracia e à liberdade. Sem tais pressupostos o Brasil corre o grande risco de se tornar, em pleno SEC XXI, o primeiro grande país a retroceder para uma era de obscurantismo, do predomínio do pensamento único do Partido majoritário que agora está no governo.