Eleições ou troca de tiros?
Estou abismado, chateado, incrédulo, extasiado, entusiasmado, mas, acima de qualquer outro adjetivo, estou envergonhado com a primeira disputa eleitoral em que eu posso exercer meu dever e direito como cidadão.
Seria esse o rumo a ser tomado pela democracia no Brasil? Se levarmos em conta que tivemos um presidente eleito democraticamente apenas em 1994, quando Itamar Franco passara a faixa presidencial a seu sucessor Fernando Henrique Cardoso é pouco tempo para se ver um sistema de governo com menos de dezoito anos ruir na cabeça dos brasileiros.
O que mais me preocupa não é nem o fato do sistema democrático ser falho, mas, dos atributos que se fazem presentes nas campanhas eleitorais democráticas, em que o voto deveria ser decidido por cada cidadão, independente da posição que sua família ou seus amigos tomem politicamente. Mas, o jogo de interesses fala mais alto e quando o eleitor se aproxima da cabina de votação depara-se com uma questão relativamente complicada: votar em quem eu acho que pode fazer algo para a sociedade, ou votar em quem pode fazer algo pra mim? Egoísmo ou necessidade? Talvez se todos os cidadãos votassem em quem fizesse algo para a sociedade num âmbito geral e transparente, essa dúvida diante da urna eletrônica fosse de fato descartada ou isolada eternamente.
O mais interessante [e estressante] é ver deputados estaduais, federais e senadores mais uma vez na televisão com um discurso decorado, planejado e que na prática é exercido de forma inexistente ou pífia. Mas, são clássicos políticos, cuja simpatia vai além dos seus deveres. O povo passou a confundir popularidade com exercício de governo. Governar não é distribuir bolsas.
Nunca se viu tanta verdade nua e crua na sociedade brasileira, mas, adianta de alguma coisa? O Brasil acomodado de hoje tende ao retrocesso, embora muitos ainda acreditem no ufanismo de que o Brasil possa ser o país do futuro. Dane-se o futuro, nosso país regrediu politicamente, estamos à beira de um colapso, conseguindo enxergar num horizonte não tão distante tanques de guerra e Generais tomando a esplanada dos ministérios mais uma vez.
É isso que queremos para o nosso país? Mas, quais são nossas opções? Eleger a continuidade de uma administração que em tese fora voltada para um governo popular, mas, que conduziu ainda o neoliberalismo econômico herdado com sólidas bases pelo governo anterior - embora eles próprios não admitam. A estrutura econômica do país é aquela mesma deixada por aquele ex-Ministro da Fazenda do então Presidente Itamar Franco. Custa admitir?
Temos também a opção de sermos geridos por um candidato que apesar de ser taxado de ‘elite’ até certo momento da campanha apresentava destreza e lucidez para com seus co-partidários, cuja proposta inicial era não atacar, mas, sim apresentar propostas viáveis a um país cujas opções esvaem-se, mas, quando o Presidente popular arregaçou as mangas e foi para as ruas suceder-se, o candidato tucano viu-se em uma verdadeira sinuca de bico: atacar, ou permanecer em cima do muro? Uma pena que ele tenha escolhido o caminho errado.
O povo brasileiro esqueceu que até pouco tempo atrás eram veiculadas frases na campanha tucana onde o presidente popular era posto ao lado do candidato oposicionista, uma tentativa frustrada de tentar levantar a popularidade tucana, que praticamente desapareceu durante esses oito anos. Viu-se o erro e as chamadas foram tiradas da propaganda eleitoral.
Então deve-se ter pensado o marketing desta campanha de que a melhor defesa é o ataque. Mas, mais uma vez cometeu-se talvez o mais grave dos erros tucanos em todos os tempos. A rispidez com que se é feita as críticas leva o debate eleitoral pacífico, saudável e de fato democrático para uma baixaria sem tamanho, não é se baixando o nível das eleições com fatores externos, que se ganha uma eleição no Brasil hoje. Falar mal da candidata do partido popular vinte e cinco horas por dia não faz o candidato oposicionista melhor que ela, demonstra antes de qualquer coisa, a fragilidade partidária e o desespero em se ter de volta o Planalto. Se o candidato tucano continuar a fazer tais críticas, acusações e em algumas vezes difamações, os eleitores que [assim como eu, ousando dizer] antes viam nele um líder que estava avesso às brigas e agressividades partidárias, demonstrando certa imparcialidade em prol do povo brasileiro, passa a perceber um político cuja fragilidade começa a atingir índices gritantes.
Sobra-se, sim, sobra-se a terceira opção. Alguns falam em votos de protesto, alguns a chamam de laranja-vermelha devido a sua participação no governo atual, mas, eu a definiria a opção para os que estão alheios a essa briga de vermelho versus azul que não significa grande coisa para a maioria da população e menos ainda demonstra de fato preocupação para com ela. Se não serão votos de protesto, serão de pessoas que querem fazer do Brasil um país neutro nessas brigas de gato e rato.
O que deve ser entendido é que esta terceira opção vem subindo nas pesquisas diante da palhaçada dos outros dois adversários e que isso a primeiro impacto numérico pode não significar grande coisa, mas, ela está com a eleição nas mãos. Dependendo dos seus índices, teremos um segundo turno, ou não.
Talvez valha a pena tentar votar numa terceira opção, não ficar alinhado nessa guerra fria partidária que acontece no Brasil. A pergunta que fica é até quando essa guerra irá durar, um dos sistemas deve ruir, estando ele no poder ou não.