O PANOPTISMO
Na obra Vigiar e Punir Michel Foucault tenta demonstrar a criação do panoptismo como sistema de vigilância e controle exercido sobre os presos, os operários das fábricas, e também, nas escolas e nos conventos. “O panoptismo é o princípio geral de uma nova ‘anatomia política’ cujo objeto e fim não são a relação de soberania, mas as relações de disciplina” (FOUCAULT, 2005, p.172). Desta forma, o referido autor observa a formação de uma sociedade disciplinar, nos séculos XVIII e XIX, a qual se expandiu até o início do século XX. Na sociedade disciplinar os indivíduos sentem-se controlados pela força do olhar, uma vez que no poder panóptico, o observador está permanentemente presente a observar e a vigiar os indivíduos. Sendo assim, Foucault (2005, p.169) considera que:"O Panóptico funciona como uma espécie de laboratório de poder. Graças a seus mecanismos de observação, ganha em eficácia e em capacidade de penetração no comportamento dos homens; um aumento de saber vem se implantar em todas as frentes do poder, descobrindo objetos que devem ser conhecidos em todas as superfícies onde este se exerça".
Assim, o panóptico permitiu aperfeiçoar o exercício do poder no final do séc. XVIII. O poder disciplinar panóptico, por meio da visibilidade, da regulamentação minuciosa do tempo e na localização dos corpos no espaço, possibilitou o controle sobre os indivíduos vigiados, de forma a torná-los dóceis e úteis à sociedade, instaurando, dessa forma, uma nova tecnologia do poder.
Para Billouet, (2003), o panoptismo possibilita uma sujeição concreta mediante uma relação fictícia. O panóptico foi desenvolvido a partir do “princípio de que o poder devia ser visível e inverificável” (FOUCAULT 2005, p.167). Desse modo, o detento sempre teria diante dos olhos a figura da torre central de onde será espionado, ao mesmo tempo em que não saberia se está sendo observado, deveria ter a certeza de que poderá sê-lo. Com isso, não seria necessário recorrer à força para obter dos indivíduos o bom comportamento, por exemplo, “o louco à calma, o operário ao trabalho, o estudante à aplicação, o doente à observação das recomendações” (BILLOUET, 2003, p. 133).
Na análise de Godinho (1995) o panoptismo constitui-se uma forma de poder que vai produzir o exame, um saber de vigilância que regula a vida dos indivíduos e se constitui a base do poder-saber que produzirá as ciências humanas. Assim sendo, este dispositivo tornou-se o protótipo dos sistemas sociais de controle e vigilância total presentes na atualidade. Foucault (1998, p.151) ressalta que, “[...] o exemplo da filantropia no início do século XIX: pessoas que vem se ocupar da vida dos outros, de sua saúde, da alimentação, da moradia. Mais tarde, desta função confusa saíram personagens, instituições, saberes.”
Nessa perspectiva, são estes e outros profissionais, dentre eles o médico, o professor e o pedagogo, que coordenam e executam as políticas sobre o corpo, do doente, do aluno, entre outros, instaurando-se uma bio-política da população. Assim, a constituição do biopoder, sua incidência sobre a vida, privilegia a preservação da vida, afastando-a dos eventuais perigos da morte.
Pode-se dizer que até o final do século XVII o poder sobre a vida se apresentava sob duas formas complementares: na idéia de corpo como máquina e no seu adestramento visando sua utilidade e docilidade. Já no século XVIII, o exercício do poder passou a incidir sobre o corpo-espécie. Com isso, o poder passou a ser exercido por meio dos mecanismos permanentes de vigilância e controle.
REFERÊNCIAS
BILLOUET, Pierre. Foucault. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau Ed. 1996.
______. História da sexualidade I: vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1997.
______. Poder - corpo. In: Microfísica do poder. 2. Ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1998.
______. Soberania e disciplina. In: Microfísica do poder. 2. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1998.
______. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 30. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
GODINHO, Eunice Mª. Educação e Disciplina. Rio de Janeiro: Diadorim, 1995.