José Serra - ladeira abaixo!

José Serra - ladeira abaixo!

Parecia que o candidato José Serra tinha uma estratégia de campanha esperta - traduzida no slogan "O Brasil pode mais", cuja estratégia era jogar a candidata do PT nas cordas - fustigando-o com temas e verdades incômodas, para chegar ao segundo turno e, então, com a diminuição da influência carismática do presidente da república e, o uso ilegal da máquina administrativa, partir para a comparação de currículos e a discussão de propostas de governo.

Mas, algumas coisas sempre me incomodaram, na campanha de Serra: em primeiro lugar, os indícios palpáveis de cristianização de sua candidatura pelas lideranças e diretórios estaduais do PSDB - caso de Minas Gerais e Goiás (esta, que se concretizou documentalmente, supostamente a pedido do Deputado Federal Jovair Arantes, do PTB, e que já na terceira edição seguida) e, a outra, é a falta de pulso de Serra, em seu lugar de candidato de oposição.

E aí, justamente na hora em que o efeito avassalador do uso da máquina estatal em favor de Dilma Russeff começou a se mostrar, os marqueteiros de Serra cometeram um erro capital: exibir a figura de Lula no programa do PSDB no horário eleitoral, tentando, numa ação que, a pretexto de dizer que Serra daria continuidade às boas coisas do governo de Lula, emitiu um sinal que o eleitor entendeu como um claro reconhecimento e admiração ao governo atual, colocando em questão a imagem da candidatura de oposição de José Serra.

Foi a gota d'água – e a senha para o eleitor médio decidir ou mudar o voto. Como é sabido, o eleitor médio é aquele que não é filiado a nenhum partido político e, que, se apresentou uma manifestação inicial de voto, não está vinculada a ela.

O efeito desastroso de tal iniciativa ocorre justamente onde não poderia ocorrer, junto ao eleitor indeciso – pois este tende a ser mais resistente na mudança da opção de voto inicialmente feita, justamente por ter feito se decidido mais tarde, diante das opções de voto oferecidas.

E porque muito eleitor decidiu o voto ou mudou o voto inicial, a partir da exibição de tais imagens? Ora, o eleitor médio raciocina que, se até o candidato do PSDB reconhece e diz que o governo de Lula foi bom, então porque votar nele - que me diz que será melhor, em vez de votar na candidata que o presidente da república que ele aponta como bom indica? Simples assim, embora muitos analistas políticos não concordem com tal assertiva...

A estratégia embutida no slogan “O Brasil pode mais” é um tanto arriscada, pois insinua que, a despeito do que tenha eventualmente tenha sido feito de bom no governo (o que quer dizer que não nega que algo de bom foi feito pelo governo que ele deseja suceder), diz o candidato da oposição, com as qualidades que tem, pode fazer mais.

Todavia, o lance de exibir a imagem do presidente atual presidente da república, foi um lance arriscado, senão, muito burro, que resultou numa situação bem complicada – algo assim, como um avanço de sinal que ultrapassou a margem de risco da estratégia de campanha e, cuja reversão depende do uso da inteligência e muita eficiência, em lugar da malandragem e arrogância - porque, nisto, convenhamos, os petistas são difíceis de ser superados.

A questão agora, em minha opinião, é se José Serra e seus marqueteiros vão encontrar o fio da meada, um ponto que possa reverter a supina bobagem que fizeram, e conseguir enfim, levar a eleição para o segundo turno.

Talvez, tenham quem reconstituir a imagem de candidato de oposição do candidato tucano, a despeito do silêncio da estrutura de seu partido nos Estados e municípios, onde muitos se comportam de maneira preguiçosa e alienada, mantendo a estrutura do partido vinculado apenas a um projeto local de poder, esquecendo-se que, apartado do projeto nacional, o partido tende ao enfraquecimento (caso do PSDB de Goiás) ou, mal disfarçam o projeto de poder com o apoio ou parceria do hegemônico PT – caso de Aécio Neves, que escuta um canto de sereia cujo rochedo já naufragou o projeto político de gente do naipe de Ciro Gomes.

E, há, por fim, o que parece ser uma renúncia no exercício do papel de oposição, por parte de Serra, que veicula uma versão edulcorada de si, de seu papel de candidato oposicionista, no horário eleitoral gratuito – ele parece insistir naquela figura do bom moço, de quem que não pretende ruptura ou pelo menos, quebra de um ciclo de poder, de mudança na condução dos destinos do país.

A edulcoração da realidade é típica de quem está no poder e governa, que pretende demonstrar que se vive o melhor dos mundos e, o caso, portanto não é de mudar ou, mexer no time que está ganhando. Assim, é compreensível que a candidata do governo diga que foram construídas 1 milhão de casas para os pobres, 18 universidades e 116 escolas técnicas, além de ter do governo ter criado o FUNDEB e e ter decuplicado (incrível que digam isto, assim, de cara limpa!) o investimento em educação básica.

O papel reservado à oposição sempre foi questionar o governo e, seus números e, ao par disso vender o próprio peixe, apresentar suas propostas para mudar o estado de coisas – sem dó, nem piedade. No caso da campanha presidencial, com os próprios dados do governo, seria possível desmontar a ilha de fantasias anunciada, simplesmente indo ao números e fatos.

Foram 18 criadas 18 universidades federais? Onde estão elas, já que se sabe de 6, que funcionam na base do improviso, em prédios de terceiros ou outras entidades de ensino? Foram construídas 116 escolas técnicas? Então, onde estão as 104 que não podem ser vistas e frequentadas pela clientela escolar? Foi construído 1 milhão de casas construídas para os pobres? Então porque o órgãos financiador informa que foram pouco mais de 500? Antes do FUNDEB, não havia o FUNDEF? Houve, de fato, aumento massivo nos recursos públicos carreados para a educação básica? Qual o percentual? Ou foi feita apenas uma pajelança, que jogu mais responsabilidades sobre os municípios brasileiros? O PRO-Uni resolveu o problema da melhor forma o problema do acesso das camadas mais pobres ao ensino superior ou, apenas remediou o problema e trouxe a conta para o caixa da União?

O governo respeita a Constituição? Então como se explica a quebra de sigilo bancário de oposicionistas? A candidata do governo respeita o direito de expressão e propriedades? Então, qual é a razão do seu programa de governo ter incorporado teses que referem sobre o controle dos meios de comunicação e mudança de regras, e exercício do direito de propriedade?

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Quanto a mim, o voto não muda – nem mudam minhas convicções. Sou o que os especialistas chamam de eleitor do voto qualificado, isto é, aquele cujo voto está vinculado a um determinado partido, ideologia ou projeto de poder.

Sendo alguém de índole liberal, minha opção de voto para presidente da república é José Serra, que, é o mais autêntico e mais esquerdista dos candidatos sérios ou factíveis, cuja agenda e agremiação política respeitam a Constituição, a democracia representativa, as regras do jogo político e, tem um histórico de boas e grandes administrações para mostrar (FHC, Alckmin, Serra, Perillo, Jereissati e, por aí vai...)

Ainda não está concluido, ok, caro leitor?